O Presidente da República promove esta quinta-feira, quatro de agosto, uma visita das várias entidades responsáveis pela organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) ao local onde decorrerá a vigília e a missa final com o Papa. O objetivo de Marcelo Rebelo de Sousa é sanar os problemas suscitados nos últimos dias pela Câmara Municipal de Lisboa, relativos às questões financeiras, soube o 7MARGENS.

O chefe de Estado tem acompanhado desde o início e mantido o contacto com os diferentes responsáveis da preparação da Jornada de 2023 em Lisboa, que decorrerá entre um e seis de agosto. Marcelo já fez saber em diversas ocasiões que quer que a JMJ seja um sucesso e, por isso, não é de estranhar o seu empenhamento em tentar resolver o conflito que estalou no final da semana passada, quando o Expresso noticiou que a Câmara de Lisboa queria rever a fatura de cada uma das entidades envolvidas e que, no limite, poderia levar a que os principais atos da JMJ tivessem de sair da capital. Assim, na visita ao local, que decorrerá quinta-feira ao final da manhã, o Presidente juntará os dois presidentes de câmara – Carlos Moedas (Lisboa, PSD) e Ricardo Leão (Loures, PS) –, bem como a ministra adjunta Ana Catarina Mendes, que tutela a Estrutura de Missão criada pelo Governo, e o presidente do Comité Organizador Local (COL), o bispo Américo Aguiar.

O Presidente sentiu que algo está a correr mal e, antes que haja algum descarrilamento – de prazos, de empenhamentos, de compromissos financeiros –, quis chamar os principais intervenientes para que Lisboa e Portugal não falhem na preparação do acontecimento. Nos bastidores da organização, há quem recorde ao 7MARGENS que o compromisso de promover a jornada é da Igreja local – no caso, o Patriarcado de Lisboa. Mas ele só é tomado quando a cidade de acolhimento assume também a sua parte.

No caso, o anterior executivo camarário presidido por Fernando Medina foi quem tomou a decisão de apoiar a realização da JMJ em Lisboa. Loures juntou-se também, tendo em conta que a maior parte do terreno onde decorre a Jornada fica situada no concelho, na margem do rio Trancão: são cerca de 70 hectares em Loures e cerca de 30 em Lisboa, com uma nova frente ribeirinha linear de seis quilómetros, do lado de Loures. Responsáveis do COL destacam, aliás, o extraordinário cartaz turístico para a cidade de Lisboa, que constituirá a missa final com o Papa, a celebrar junto ao Tejo – recorde-se que, quando do lançamento do vídeo oficial com o hino da JMJ, apareceram críticas no interior da Igreja dizendo precisamente que ele era quase um vídeo de promoção turística.

De acordo com o Expresso, no memorando entregue em abril aos restantes parceiros, a Câmara de Lisboa comprometia-se com obras respeitantes à iluminação, abastecimento de água, espaço para alimentação de bispos e convidados, casas de banho e torres de imagem e som para transmissão das cerimónias no Parque Tejo. Além disso, em vários locais da cidade (Parque Eduardo VII, Belém, Terreiro do Paço e outros) haverá outros acontecimentos durante os dias um a cinco de agosto que exigirão também infraestruturas (palcos, ecrãs, iluminação, colunas de som, casas de banho, stands) para acolher espectáculos, espaços de oração, manifestações culturais e muitas outras iniciativas que envolverão as centenas de milhar de peregrinos que virão a Lisboa.

Em relação a esses locais, o COL decidiu já que as missas de abertura e de acolhimento (esta com o Papa, em princípio no dia três), bem como a Via Sacra do Papa com os jovens (dia quatro) serão todas no parque Eduardo VII – o mesmo local onde decorreu, em 1991, a eucaristia do Papa João Paulo II com os jovens portugueses que foi uma das inspirações para a convocação das JMJ.

A missa de abertura será presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, no dia um, e decorrerá no Parque Eduardo VII. D. Manuel Clemente completa 75 anos (a idade canónica para pedir a resignação) a 16 de Julho do próximo ano e, por isso, quando presidir ao ato inaugural da JMJ terá já apresentado ao Papa o seu pedido de resignação. Mas é tradição que um cardeal fique pelo menos mais um ano no cargo. Por isso, e porque seria absurdo substituir o principal responsável local meses antes do acontecimento, será ele ainda a presidir – a não ser que aparecesse alguma razão grave, por exemplo de saúde, que o obrigasse mesmo a retirar-se mais cedo.

Belém é a zona escolhida para os restantes principais actos da JMJ Lisboa 2023: Feira das Vocações, uma grande apresentação do que fazem grupos e movimentos católicos, ao jeito de uma exposição, e o Parque do Perdão, com largas dezenas de confessionários instalados. Por fechar está ainda o encontro final do Papa com os cerca de 30 mil voluntários, que trabalharão na JMJ.

De Espanha e Brasil, que ventos virão?

créditos: António Marujo/7MARGENS.

A JMJ será o maior acontecimento alguma vez realizado em Portugal. Da parte dos organizadores, nem o COL nem a Estrutura de Missão (EM) criada pelo Governo e dirigida por José Sá Fernandes querem dizer quantos jovens prevêem que possam estar em Lisboa, até porque as inscrições só abrirão no final do Verão.

Nas últimas JMJ realizadas na Europa, Colónia (Alemanha, 2005) contou com a participação de cerca de 800 mil jovens, Madrid (Espanha, 2011) com cerca de um milhão, Cracóvia (Polónia, 2016) foram perto de dois milhões.

O bispo Américo Aguiar explica ao 7MARGENS que há vários fatores que podem alterar muito o número de participantes: depois da pandemia, cujos efeitos ainda se podem sentir, a guerra da Rússia contra a Ucrânia e as consequências económicas que esta pode provocar são elementos a ter em conta. De qualquer modo, os cenários possíveis oscilam entre os 400-500 mil, como cenário mínimo, até menos de milhão e meio como máximo.

De onde pode vir mais incerteza é de Espanha e do Brasil, diz o bispo. Por isso os organizadores estão a trabalhar com especial atenção com a Conferência Episcopal Espanhola e a sua estrutura de pastoral juvenil. “Estamos a sensibilizá-los para a importância de se inscreverem. Eles não podem acordar dia 1 de Agosto e meter-se no carro só porque estão perto de Lisboa.” Do mesmo modo, o Brasil (e vários países da América Latina) também é uma incógnita quanto ao número de participantes.

O que é seguro, insistem todos os principais interlocutores, é a herança sustentável que a JMJ de Lisboa vai deixar: um enorme parque verde junto ao Tejo e à foz do Trancão. “É muito importante que nasça ali um parque que será o legado da JMJ” a Lisboa e a Loures, diz o principal responsável operacional da Jornada. Mas, para lá do parque, o objectivo é que a própria JMJ seja sustentável e não deixe uma pegada ecológica negativa.

Américo Aguiar dá o exemplo das próprias instalações do COL. Apesar de haver ar condicionado instalado, ele só é ligado em determinadas salas, mas com contrapartidas: há uma lista de comportamentos que os responsáveis e voluntários se comprometem a ter, sempre que ligam os aparelhos, de modo a diminuir a fatura ecológica.

Sónia Paixão, vice-presidente da Câmara Municipal de Loures com a tutela da JM, diz também ao 7MARGENS que a Jornada será uma “oportunidade única” para um território até agora ocupado por contentores. “Será um legado” de algo devolvido às populações, afirma, que poderá vir a ser um lugar de “lazer, fruição, que possa acolher grandes momentos de família ao ar livre”.

“Será uma forma de deixar algo em que o Papa tanto tem insistido”, diz a vice-presidente da autarquia: “Um momento de fé e que fique também como exemplo de sustentabilidade ambiental.”

José Sá Fernandes, que coordena a EM governamental, acrescenta que, para as instalações da EM na antiga Manutenção Militar (onde também está o COL), foram procurar-se móveis e equipamentos em instituições que estavam a desfazer-se deles, bem como no lixo – e mostra uma cómoda instalada à entrada como exemplo disso mesmo. (Da Câmara Municipal de Lisboa, não houve disponibilidade de nenhum responsável para prestar declarações ao 7MARGENS.)

Um Parque Papa Francisco?

créditos: Direitos Reservados

A utilização de embalagens na JMJ será reduzida ao mínimo essencial e o fornecimento de água será assegurado com a distribuição de um cantil a cada participante, que depois poderá recorrer aos pontos de abastecimento colocados à disposição pela cidade e no Parque Tejo. “Estamos a tentar criar formas de os jovens ficarem a ganhar se devolverem embalagens ou garrafas”, diz o bispo.

Sá Fernandes também destaca o facto de o Parque do Tejo e do Trancão se desenvolver no lugar de um antigo aterro sanitário. “A JMJ deixa um legado físico, que vai ao encontro do que é proposto pela Laudato Si’”, a encíclica do Papa sobre o cuidado da casa comum. “Aquele panorama junto ao Tejo é mágico”, diz, recordando que ali nascerão uma ponte pedonal e ciclável que ligará os dois concelhos e um passadiço junto ao rio do lado de Loures, entre outros equipamentos.

De tal modo assim é que Sá Fernandes já baptizou o futuro parque com o nome do Papa Francisco. “Ele é uma figura incontornável, a mais importante do mundo neste momento. É um homem de pontes, e os dois concelhos vão ser unidos por uma nova ponte. E foi ele que desbloqueou” o problema dos contentores em Loures, permitindo que uma situação que se arrastava há anos se resolvesse, para possibilitar a realização da Jornada. O bispo Américo Aguiar considera prematuro estar já a pensar num nome: pode queimar etapas, diz, e pode ser outro o nome que a população acabe por consagrar no quotidiano: “parque da JMJ, ou parque dos jovens”, exemplifica.

Em termos logísticos, a Jornada supõe uma operação gigantesca. Sá Fernandes refere cinco áreas essenciais: a alimentação e dormida, a cargo da Fundação JMJ e COL; os equipamentos de som e imagem; o abastecimento de água; a segurança; e a mobilidade.

O COL está desde o início a tentar encontrar parceiros que reduzam o custo da factura. Mas Américo Aguiar diz que tem noção das dificuldades económicas que muitas empresas estão a atravessar.

Diferente é o que diz respeito à preparação temática da Jornada. Para já, os jovens portugueses estão a seguir dois guiões catequéticos: o Say Yes e o Rise Up (ambos com o título em inglês). Mas, até ao momento, não há iniciativas públicas ou mesmo internas para lá de reuniões de oração ou encontros de debate. Temas como a guerra e não-violência, a sustentabilidade e a ecologia, a falta de emprego e habitação para os jovens, a participação política ou outros que são muito caros ao Papa não deram origem a nenhuma iniciativa pública pré-JMJ. Mas o bispo Américo Aguiar espera que, depois do verão, possam aparecer iniciativas diversas.

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