Ao ser confrontado, na Golegã (Santarém), com as críticas, incluindo do BE, ao que disse ao chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal de que alguns palestinianos "não deviam ter começado" esta guerra com Israel, Marcelo Rebelo de Sousa começou por declarar: “Eu não disse isso. Não, não vale a pena estar a comentar aquilo que não se ouve quando não se ouve”.

“O que eu disse foi o seguinte, foi que, neste caso específico, o ataque terrorista como se deu serviu de um pretexto (…) que não facilitava a nossa finalidade que é ter um Estado palestiniano e ter um Estado israelita”, frisou, para salientar que “dava pretexto àqueles que são adversários disso”.

“E depois até acrescentei ‘felizmente os palestinianos, como um todo, não se podem confundir com o ataque terrorista de um grupo muito específico”, declarou.

Marcelo Rebelo de Sousa salientou que “Portugal tem a mesma posição sempre”, de que “deve haver dois Estados, o Estado palestiniano e o Estado israelita, que devem conviver pacificamente” e “tudo o que contribui para isso em termos de paz, Portugal apoia”.

“Tudo o que dificulta isso, seja do lado israelita, seja do lado palestiniano - e ao longo de décadas houve, de um lado e doutro, grupos, nomeadamente radicais ou mais radicais que, em determinados momentos não favoreceram esse caminho - é dar pretextos”, continuou.

Para o Presidente da República, “parece que isso aconteceu, obviamente, como aconteceu muitas vezes do outro lado, do lado do israelita radical, com comportamentos como o colocar colonatos ou ocupar determinado tipo de território”.

“Só que é evidente que, atos com maior violência, como atos terroristas com os efeitos que tiveram, depois acabam por servir de pretexto”, reiterou.

Questionado se o direito humanitário está a ser respeitado, o chefe de Estado frisou que este “é violado quer por atos terroristas que matam crianças, mulheres, vítimas inocentes, quer por respostas a isso, que matam crianças, mulheres, vítimas inocentes”.

“O direito humanitário, disse as Nações Unidas, é para valer para todos, para todos, quer aqueles que realmente desencadeiam atos terroristas, como o que foi o primeiro nesta fase mais recente, quer daquelas atuações que sacrificam vítimas inocentes”, adiantou.

A este propósito citou Francisco Louçã, segundo o qual “é intolerável haver a ideia da culpa coletiva”, que “alguém pertence a um povo, deve ser punido, porque alguém desse povo atuou de uma forma intolerável”.

“Isso é inaceitável, porque é cair em cima de vítimas, sejam quem forem”, apontou, para destacar que “direito humanitário é direito humanitário, vale para todos”.

O Presidente da República disse ao chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal que alguns palestinianos "não deviam ter começado" esta guerra com Israel e aconselhou-os a serem moderados e pacíficos.

"Desta vez foi alguém do vosso lado que começou. Não deviam", considerou o chefe de Estado português, num diálogo com Nabil Abuznaid, em inglês, durante uma visita ao Bazar Diplomático, no Centro de Congressos de Lisboa.

No fim da conversa, o chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal manifestou-se desapontado com as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa.

"Se queremos ser justos, temos de condenar a violência dos dois lados, pelo menos, e de condenar a ocupação, essa é a raiz do problema. Se queremos ser justos. E o Presidente repetiu cinco vezes para a imprensa aqui o ataque de 7 [de outubro], mas não mencionou o povo de Gaza. Isto é injusto", declarou Nabil Abuznaid aos jornalistas.

A líder do BE considerou hoje que “envergonha Portugal” o facto de o Presidente da República ter dito ao chefe da missão diplomática da Palestina que alguns palestinianos "não deviam ter começado" esta guerra com Israel.