"Quer enquanto poeta, quer enquanto protagonista da vida portuguesa, ele esteve durante estas décadas todas ao serviço de Portugal. E a homenagem da universidade foi uma homenagem também de Portugal", declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.

À saída desta cerimónia, na Reitoria da Universidade de Lisboa, o chefe de Estado escusou-se a falar de outros temas, como a entrevista do primeiro-ministro, António Costa, à TVI, transmitida na segunda-feira à noite, o Orçamento do Estado para 2019 ou o caso de Tancos.

Interrogado sobre a hipótese de vir a dar posse a um Governo de "amigos" com quem "não dá para casar" - a forma como António Costa nessa entrevista descreveu a relação do PS com os partidos à sua esquerda -, o Presidente da República respondeu: "Não vamos estar a falar de temas que menorizam o momento de hoje, que é o momento de Manuel Alegre".

"O cumprimento devido hoje é a Manuel Alegre, e é um cumprimento de todo o país", defendeu, enaltecendo o papel do escritor e dirigente histórico socialista "há muitas, muitas décadas, desde o tempo da ditadura, e depois na construção da democracia".

"Foi constituinte, como ele recordou, escreveu o preâmbulo da Constituição. Pude, na [Assembleia] Constituinte, ver quão importante foi o seu contributo. Depois, nunca deixou de rimar, como ele disse, o poema com a vida, a poesia com a vida", referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionado sobre o Orçamento do Estado para 2019, o Presidente da República aconselhou: "Vamos esperar. Eu esperarei em Belém que me apareça o documento para ver".

Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se igualmente a comentar as notícias sobre aumentos na função pública e sobre o caso do desaparecimento de material militar do paiol de Tancos.

"Sobre isso já tenho falado noutras ocasiões, não vale a pena estar a falar. Hoje é o dia de Manuel Alegre, da homenagem a Manuel Alegre. Não é o dia de nada da conjuntura política portuguesa", retorquiu.

No doutoramento honoris causa de Manuel Alegre pela Universidade de Lisboa estiveram também presentes o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, e o antigo chefe de Estado António Ramalho Eanes.

O elogio ficou a cargo da professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Paula Morão. O ator Diogo Dória declamou poesia de Manuel Alegre e a fadista Cristina Branco cantou "Meu Amor é Marinheiro" e "Trago um Fado", com letras do antigo deputado e candidato presidencial.

No ano passado, em novembro, Manuel Alegre foi distinguido com um doutoramento honoris causa pela Universidade de Pádua, em Itália, e já em fevereiro deste ano recebeu o Prémio Camões 2017.

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu em 12 de maio de 1936, em Águeda. Estudou em Lisboa, no Porto e na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

A sua vasta obra literária, que inclui o romance, o conto, o ensaio, mas sobretudo a poesia, tem sido amplamente difundida e aclamada.

Foram-lhe atribuídos os mais distintos prémios literários, entre outros, o Grande Prémio de Poesia da APE-CTT, o Prémio Pessoa em 1999 e o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.