"Muitas vezes falamos de uma miséria económica e financeira, mas também há miséria moral, que muitas vezes as acompanha. Esta miséria moral, por si só, merece uma reflexão”, declarou aos jornalistas à margem de uma visita ao Museu dos Coches.
O Presidente da República defendeu ainda a necessidade de se pegar nos casos mais "mediáticos e chocantes" — "estes casos são chocantes em qualquer sociedade" — para se "retirar lições para proteger e acompanhar as crianças".
"Não sabemos se não há muitos mais idênticos a este", acrescentou, apesar de ter dito não querer comentar "situações concretas".
"Eu não queria referir-me a casos concretos, dolorosos, muito dolorosos. Queria só dizer que é uma preocupação de todos os portugueses há muito tempo o cuidado com as crianças, a proteção das crianças, o acompanhamento daquelas que estão mais frágeis, mais dependentes, portanto, mais suscetíveis de ser exploradas", afirmou o Presidente da República.
"O que é que pode justificar que pessoas vão tão longe em qualquer situação, em qualquer sociedade, não medindo que estão de repente a sacrificar o que há de mais sagrado, que é o respeito da dignidade da pessoa, sobretudo da pessoa mais frágil, que é uma criança", acrescentou.
Questionado sobre o que pode ter falhado neste caso, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que não iria dizer mais nada sobre o caso.
A Polícia Judiciária (PJ) deteve hoje três pessoas suspeitas do homicídio da menina de 3 anos.
As três pessoas detidas são uma mulher a quem a mãe da criança devia dinheiro, inicialmente identificada como ama, e o marido e a filha desta suspeita, segundo a PJ. Os três detidos são suspeitos dos crimes de rapto, extorsão, ofensas à integridade física e homicídio qualificado.
O coordenador da PJ de Setúbal, João Bugia, disse hoje à Lusa que a mãe da menina, de 3 anos, e o padrasto foram também ouvidos durante a noite por esta polícia, mas não foram constituídos arguidos.
Num comunicado divulgado ao início da manhã de hoje, a PJ tinha referido apenas as detenções um homem de 58 anos e duas mulheres de 52 e 27 anos, sem identificá-los.
A morte da menina ocorreu na segunda-feira, depois de a mãe ter ido buscá-la a casa da suspeita, identificada pela progenitora às autoridades como ama da criança.
De acordo com a mãe, a menina esteve cinco dias ao cuidado da mulher e tinha sinais evidentes de maus-tratos, como hematomas, pelo que foi chamada a emergência médica.
A criança foi assistida na casa da mãe e transportada ao Hospital de São Bernardo, onde foi sujeita a manobras de reanimação, mas não sobreviveu aos ferimentos.
Segundo João Bugia, a mãe da menina foi “ardilosamente enganada” e levada a entregar a filha por conta de uma dívida de 400 euros que tinha para com a suspeita.
Nos cinco dias em que a criança permaneceu na casa dos detidos, terá sofrido maus-tratos severos.
João Bugia revelou ainda que, apesar de haver algumas suspeitas iniciais de eventuais agressões sexuais contra a criança, esses indícios não foram confirmados na autópsia realizada na quarta-feira.
O coordenador indicou que os suspeitos serão presentes a tribunal hoje à tarde ou na sexta-feira.
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