A sua filha, Ana Corina Sosa, recebeu o prémio e é a primeira vez que o Conselho da Europa atribui o galardão a alguém da América Latina desde que a organização entregou o prémio pela primeira vez em 2013.

Maria Corina Machado, 56 anos, que vive escondida na Venezuela desde a contestada reeleição do Presidente Nicolas Maduro, em julho, concorreu com o ativista azeri Akif Gurbanov e a feminista georgiana Babutsa Pataraia.

Ao receber a notícia, Corina Machado dedicou-o “a todos os que lutam em conjunto pela causa da liberdade” na Venezuela.

“A importância deste prémio é imensa não só para mim mas para todos aqueles que lutam juntos pela causa da liberdade na Venezuela”, disse Corina Machado perante a Assembleia do Conselho da Europa, num discurso por videoconferência a partir de um local desconhecido, pois encontra-se na clandestinidade, pensa-se que no seu próprio país.

“Lamento profundamente que não possa viajar”, disse o Presidente da Assembleia, Theodoros Rousopoulos, a Corina Machado, numa altura em que a conversa com a galardoada decorria por videoconferência.

É a primeira vez que o Conselho da Europa atribui o Prémio Vaclav Havel a uma pessoa da América Latina, desde que a organização entregou o prémio pela primeira vez em 2013, nesse ano ao defensor dos direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski.

Maduro, cuja vitória foi validada pelo Supremo Tribunal a 22 deste mês, foi declarado vencedor com 52% dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral, que, no entanto, não tornou públicos os relatórios das mesas de voto.

Segundo a oposição, que publicou a contagem dos votos fornecida pelos seus escrutinadores, o seu candidato Edmundo Gonzalez Urrutia obteve mais de 60% dos votos. Ameaçado de prisão no seu próprio país, encontra-se exilado em Espanha, que lhe concedeu asilo.

Após o anúncio da reeleição de Maduro, as manifestações espontâneas que se seguiram causaram a morte de 27 pessoas e 192 feridos. Cerca de 2.400 pessoas foram detidas, segundo fontes oficiais.

Cerca de sete milhões dos 30 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014 devido à crise política e económica, e os especialistas esperam uma nova vaga de migração.

O Prémio Vaclav Havel, no valor de 60.000 euros, é atribuído todos os anos desde 2013 a uma figura de destaque da sociedade civil pelas suas “ações excecionais em prol dos direitos humanos na Europa e no mundo”, segundo a PACE.

Vaclav Havel, combatente contra o totalitarismo, símbolo duradouro da oposição ao despotismo e Presidente da Checoslováquia e depois da República Checa entre 1989 e 2003, morreu a 18 de dezembro de 2011, com 75 anos.

Corina Machado concorria contra outros dois nomeados: Akif Gurbanov, ativista político azerbaijanês e cofundador do Instituto de Iniciativa Democrática (IDI) e da Plataforma da Terceira República, detido em março deste ano durante uma manifestação, e Babutsa Pataraia, advogada georgiana que luta contra o feminicídio há mais de uma década e diretora da ONG Sapari.

No ano passado, foi o jornalista, ativista e empresário turco Osman Kavala, preso desde 2017. Os anteriores vencedores incluem a figura da oposição russa Vladimir Kara-Murza (2022), o ativista dos direitos das minorias uigures Ilham Tohti (2019) e a yazidi Nadia Mourad (2016).

O Conselho da Europa, um organismo que não faz parte da União Europeia, foi fundado em 1949 para promover a integração europeia, o Estado de direito e os direitos humanos no rescaldo da Segunda Guerra Mundial.