Num primeiro balanço foram mencionados 60 mortos, mas a porta-voz dos bombeiros, Stavroula Maliri, comunicou a nova cifra, que ainda pode aumentar, visto que se continua à procura vítimas.

Os corpos calcinados destas últimas vítimas foram encontrados "em grupos de quatro ou cinco pessoas, pode ser que se trate de famílias, amigos ou desconhecidos que se juntaram numa última tentativa de se protegerem, enquanto tentavam chegar ao mar, a 30 ou 40 metros dali", diz Vassilis Andriopoulos, um dos socorristas da Cruz Vermelha que descobriu o horrível espetáculo nesta terça-feira de manhã.

Ele lamenta a presença de "crianças pequenas" neste grupo.

As vítimas parecem ter ficado presas entre o fogo e um penhasco de 30 metros de altura que desce para o mar, ao tentar fugir das chamas.

Uma jovem que tinha tentado saltar um pouco mais para frente também morreu, apontou um morador.

À noite, um fotógrafo da AFP encontrou perto dali os cadáveres de quatro pessoas que certamente estavam a tentar fugir, três num carro e uma numa moto.

"Em cinco ou dez minutos"

Na rua principal tudo está preto, particularmente os grandes pinheiros que rodeiam as casas. O mar está cinza e o cheiro a queimado é omnipresente.

Os Canadairs (aviões contra incêndios) sulcam o céu de maneira intermitente, dezenas de carros calcinados cobrem as calçadas. Há também cadáveres de cães.

Stella Petridi, uma reformada de 65 anos, tinha seis cachorros. Ela estava na igreja quando, ao sentir o fogo aproximar-se, correu para casa, onde estavam os animais. Mas não conseguiu abrir a porta, que já estava em chamas.

Não teve outra opção senão correr para a praia, onde um barco de patrulha a levou junto com outras pessoas, por volta das quatro da madrugada, deixando-as na cidade portuária de Rafina, cujo presidente da câmara, Evangelos Bournous, disse: "Mati já não existe".

Athanasia Oktapodi, de 60 anos, testemunhou a rapidez de propagação das chamas, qualificadas de "fulminantes" pelos próprios bombeiros.

"Vi o fogo descer a partir da colina por volta de 18h00, e em cinco ou dez minutos já estava no meu jardim". Como a maioria das casas de Mati, a sua estava rodeada de pinheiros.

"Pegaram fogo. Saí a correr como uma louca para a praia e entrei na água. Depois chegaram as patrulhas", comentou.

A maioria dos sobreviventes ficaram impotentes e aterrorizados no mar, observando as chamas durante horas. Algumas pessoas nessa situação acabaram por se afogar.

Escolha terrível

Lela Demertzi, de 53 anos, carregou nos ombros a mãe doente até a praia. "O meu marido ficou, fez tudo para salvar nossa casa, e conseguiu", afirma.

No entanto, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, instou os habitantes a abandonarem os bens para proteger as suas vidas.

Além dos pinheiros, que funcionam como um combustível, vários moradores disseram ter ouvido muitas explosões devido a botijas de gás, muito comuns nas casas de veraneio.

Na tarde desta terça-feira, alguns moradores continuavam à procura dos seus parentes, e receberam o apoio de equipas de psicólogos enviadas ao local.

Os voluntários da Cruz Vermelha distribuem água, medicamentos e sandes aos afetados.

Na pequena cidade vizinha de Kokkino Limanaki, que oferece o mesmo lúgubre espetáculo que Mati, uma jornalista da AFP observou socorristas retirarem de um carro o cadáver de uma idosa.

"O filho saiu da casa para colocá-la a salvo no veículo", comenta um vizinho, Anastasios Probonas, engenheiro de 60 anos. "Mas ele já tinha queimaduras, e por isso eu lhe disse para que partisse rápido com os dois filhos, o que fez de moto", deixando a mãe para trás.

[Texto de Hélène Colliopoulou/AFP]