Segundo o relatório europeu da ONG, em 2015 os Médicos do Mundo atenderam 177 doentes no Luxemburgo, dos quais 18 portugueses, que representam 10% do total.

Em primeiro lugar figuram os imigrantes romenos (26%), seguidos dos portugueses (10%) e marroquinos (8%), representando os luxemburgueses cerca de 7%.

A maioria é sem-abrigo, mas há também casos de imigrantes recém-chegados ao país.

Arminda tem 56 anos e chegou ao Luxemburgo há sete meses, à procura de trabalho, mas não fala francês e continua sem encontrar emprego.

Sem contrato de trabalho, a imigrante portuguesa, que vive em casa de um filho, não tem autorização de residência no país, e sem ela, não tem direito a assistência médica.

Por essa razão, de 15 em 15 dias vai ao consultório dos Médicos do Mundo em Esch-sur-Alzette, a segunda maior cidade do país, para obter medicamentos gratuitos para a hipertensão.

"Lá dão-me os medicamentos para 15 dias, ou, se tiverem de sobra, para um mês", disse à Lusa.

Sem os enfermeiros e médicos voluntários da ONG, a imigrante portuguesa também não teria recebido tratamento para outros problemas de saúde detetados pela organização.

"Uma vez estava constipada e o doutor mandou-me abrir a boca e viu que eu tinha os dentes estragados", contou.

Arminda esperou dois meses para ser atendida por um dentista, que lhe arrancou quatro dentes.

Foi também graças aos Médicos do Mundo que conseguiu óculos novos, quando se queixou de "dores de cabeça e problemas na vista".

Em 2015, a maioria dos doentes que recorreram à associação no Luxemburgo eram sem-abrigo (56%), mas há também casos de imigrantes sem autorização de residência, disse à Lusa a responsável dos Médicos do Mundo no Luxemburgo, Sylvie Martin.

Os cidadãos europeus não são obrigados a registar-se durante os três primeiros meses de estadia noutro país da União Europeia, mas passado esse período, "têm de fazer prova de que têm rendimentos para ter autorização de residência", explicou a responsável.

Sem ela, "ficam na mesma situação dos imigrantes indocumentados" e não têm acesso a cuidados de saúde.

O relatório anual dos Médicos do Mundo foi realizado em 11 países europeus - Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Holanda, Luxemburgo, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça - e na Turquia.

Globalmente, 94% dos cerca de dez mil doentes atendidos pela organização eram estrangeiros, representando os cidadãos europeus 24%.

Cerca de 68% dos imigrantes que passaram pelos consultórios dos Médicos do Mundo na Europa não tinham cobertura médica.

No relatório, a ONG considera que a situação dos cuidados de saúde dos migrantes e refugiados na Europa "é alarmante".

Quarenta por cento dos doentes atendidos em 2015 "necessitavam de tratamentos urgentes ou bastante urgentes" e 51% "tinham uma doença crónica que nunca tinha sido tratada".

De acordo com o relatório europeu, 94% das pessoas atendidas em 2015 viviam abaixo do limiar de pobreza.

No documento, a ONG insta os países da UE a "oferecer sistemas de saúde pública universal, fundados na solidariedade e equidade", abertos a todos os residentes, "independentemente do seu estatuto de imigrante".