“Se se despedirem 40 pessoas no Jornal de Notícias [JN], que é quase metade da redação, vamos ficar a fazer um jornal com 30 ou 40 pessoas”, afirmou o dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e jornalista do JN Augusto Correia à margem da concentração, detalhando que o jornal tem cerca de 90 jornalistas, 78 no Porto e 11 em Lisboa.
“Enquanto agente sindical, enquanto jornalista e enquanto cidadão deste país, não quero nenhum jornal feito em condições deficitárias. Quero jornais de qualidade, quer televisões de qualidade, quero agências e rádios de qualidade”, enfatizou.
Os trabalhadores do JN iniciaram hoje uma greve de 48 horas, convocada pelo Sindicato dos Jornalistas, na sequência da denúncia de que a administração do GMG tenciona desencadear um despedimento coletivo abrangendo 150 trabalhadores, 40 dos quais do JN, 30 da rádio TSF e um número indeterminado do jornal desportivo O Jogo.
Os salários deste mês, cujo pagamento estava em atraso, começaram a ser liquidados na terça-feira, mas o subsídio de Natal ainda não foi pago.
A agência Lusa tentou obter um comentário por parte do GMG, o que não foi possível até ao momento.
Segundo salientou Augusto Correia, a concretizar-se este despedimento no GMG, “será o quarto despedimento coletivo neste milénio, desde 2002”.
“Até agora, foram despedidas 340 pessoas nesta empresa, mais de 100 jornalistas. A avançar agora, este será também o despedimento mais gravoso de sempre, de 150 pessoas. Até hoje não houve um despedimento com tantas pessoas, nem com tantos jornalistas”, disse, recordando que “o último foi em 2020, de 81 trabalhadores, e em 2022 foi aberto um programa de rescisões amigáveis que nunca foi oficialmente encerrado”.
O jornalista e dirigente do SJ alerta que “o JN vai ficar com carência de meios” e que será “muito mais difícil fazer o trabalho de proximidade” que caracteriza o jornal.
“Eu acho que não vai ser o início do fim do JN, porque esta força desta redação não o vai permitir, assim como a força que o jornal tem não só no Norte, mas em todo o país. Acho é que, se o despedimento avançar, vai ser uma machadada fortíssima, vai ser muito difícil fazer um jornalismo de qualidade e só sobreviveremos com muita garra e muita paciência das pessoas”, afirmou.
Augusto Correia confessa que a notícia do despedimento coletivo “foi um choque muito grande”, desde logo porque surgiu após uma reunião em 26 de outubro com a administração do GMG em que foi apresentado “um projeto de crescimento, de investimento e de aposta no jornalismo de qualidade”.
“A administração anuncia um investimento muito forte, deixa-nos otimistas, e, menos de um mês depois, anuncia o maior despedimento coletivo de sempre neste grupo”, sustentou.
Segundo referiu, o SJ tentou contactar o gestor do World Opportunity Fund, que detém 51% da Global Media, “para tentar perceber quais eram as intenções”, mas não houve qualquer resposta.
Relativamente à greve de dois dias hoje iniciada no GMG, o dirigente sindical fala numa “adesão total” no JN: “O ‘site’ está parado e creio que está toda a gente da redação cá fora, ninguém está a trabalhar, por isso a adesão neste momento parece-me total. E em Lisboa creio que é o mesmo”, precisou.
Como resultado, avançou, na quinta-feira o JN não deverá estar nas bancas, pela primeira vez em mais de 30 anos.
“É sempre uma pena o jornal não sair. Se acontecer, será a primeira vez em 34 anos, desde [19]89 que isso não acontece. Mas também prova a força desta redação e a força deste jornal, não só aqui, mas no país”, sustentou.
Enfatizando que em causa está “a salvaguarda do jornalismo como um pilar da democracia”, Augusto Correia salienta que salvar o JN é salvar “a voz de milhares de pessoas que se perde se este jornal definhar ou, até, morrer”.
Para além da iniciativa de hoje, os trabalhadores do JN concentram-se na quinta-feira à tarde frente à Câmara Municipal do Porto. Paralelamente, prosseguem uma campanha nas redes sociais sob o lema “Somos JN”.
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