Apesar de em reduzido número os manifestantes anti-tourada gritaram e usaram apitos e sirenes para chamar a atenção para o espetáculo que consideraram anacrónico, desumano e ultrapassado, ostentando cartazes com frases como “toureiros e forcados, vergonha nacional”, “tortura não é cultura”, ou “gente educada não vai à tourada”.
A iniciativa foi promovida nas redes sociais pelo movimento “Acção Directa”, que tem promovido manifestações similares noutros anos, e destinou-se a assinalar o dia da corrida de inauguração da temporada tauromáquica do Campo Pequeno.
Carlos Macedo, que faz parte do movimento, justificou com o período de férias o facto de o protesto ter pouca adesão. E Manuela Gonzaga, candidata do PAN à Câmara de Lisboa, apresentou outra justificação, a de que as pessoas já perceberam que as touradas estão a chegar ao fim, porque “a causa animal está vivíssima”.
“Viemos aqui dizer que esta atividade não se devia efetuar, é uma situação anacrónica, completamente afastada da realidade nos dias de hoje, pessoas a festejar o sofrimento e a dor de um animal”, disse Carlos Macedo à Lusa, afirmando também que considera que o fim das touradas vai acontecer. Porque há praças de touros a fechar, porque a temporada no Campo Pequeno começa cada vez mais tarde.
Manuela Gonzaga esteve no Campo Pequeno também, como disse, para exprimir tristeza por ver o regresso das touradas a Lisboa, um “espetáculo anacrónico” no qual se batem palmas quando se massacram animais.
“No nosso tempo isso já não faz qualquer espécie de sentido”. E por isso, se for eleita presidente da Câmara garante que acaba com as touradas na capital, um começo para acabar com as touradas em todo o país e ao mesmo tempo devolver à cidade uma identidade multicultural que já teve e que não passa por “massacrar bovinos”.
Manuela Gonzaga critica que, em situação de pandemia, se tenham de deslocar equipas médicas para uma tourada, que o Campo Pequeno tenha “uma borla fiscal de 12 milhões de euros” quanto há artistas desempregados, a passar fome, e livrarias e teatros a fechar, com produção artística sem ser amparada. “Isto tudo parece-me tão desonesto, desajustado e feio”, lamenta.
Manuela Gonzaga disse também que apenas não há vontade da tutela e da autarquia para acabar com as touradas, e que o Campo Pequeno devia ser um “santuário artístico, que promovesse a arte”, um centro cultural numa cidade livre de touradas.
O mesmo desejo de Paula Pedro, uma das manifestantes, ali mas a pensar no animais que estavam quase a entrar na arena. “Era muito bom que isto acabasse. Estamos no século XXI e não sei como ainda se divertem a massacrar animais”, disse à Lusa.
E à Lusa também Diogo Mira, um jovem manifestante, falou da necessidade de acabar com um espetáculo que não é entretenimento mas sim tortura.
“Não é normal o ser humano estar aqui e sentir prazer a assistir a uma tortura de animas, inadmissível para os valores do século XXI. E espero que no futuro este tipo de evento acabe por ser proibido”, defendeu.
Diogo Mira até já esteve do outro lado. Conta à Lusa que durante muitos anos assistiu a touradas, levado pelos pais, e que na adolescência começou a questionar o motivo de estar ali a ver animais a serem torturados e pessoas a ganharem muito dinheiro com a exploração desses animais.
Hoje, pela primeira vez, esteve não dentro mas em frente do Campo Pequeno, entusiasticamente a gritar frases como “a tauromaquia é doentia” ou “evolução, touradas não”.
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