Desde o naufrágio “repetiram-se demasiadas tragédias que atingem as costas da Europa e é nosso dever pôr fim a este massacre contínuo, bloqueando também a partida de barcos improvisados”, escreveu Meloni numa nota divulgada durante a tarde, horas depois da realização das homenagens.

“O empenhamento do Governo italiano em pôr fim a esta atividade hedionda do tráfico de seres humanos vai continuar sem tréguas, também em nome de todas as vítimas que perderam a vida no mar”, acrescentou a líder da extrema-direita.

Centenas de pessoas, incluindo muitos jovens europeus, desfilaram ao meio-dia pelo centro da ilha, o enclave mais a sul de Itália, ao largo da costa norte-africana, com uma faixa onde se lia “Basta de mortos invisíveis”.

Na noite de 02 para 03 de outubro de 2013, a uma milha da costa, um barco que transportava cerca de 520 migrantes afundou-se, matando pelo menos 368, numa das piores catástrofes de que há memórias nas águas do Mediterrâneo central.

O naufrágio de Lampedusa foi também o primeiro alerta italiano e europeu para o fluxo de migrantes provenientes de África.

Desde então, o fenómeno que transformou Lampedusa na “primeira porta de entrada para a Europa” não cessou e este ano registou níveis recorde: 134.578 migrantes desembarcaram em Itália este ano até agora, quase o dobro dos registados em 2022 (72.252) e quase o triplo de 2021 (47.726).

A nível político, a esquerda apelou para que fossem criados corredores seguros a partir de África e para a criação de missões navais europeias no Mediterrâneo para evitar novas catástrofes, enquanto nenhum representante do governo se deslocou à ilha, e Meloni viajou hoje para Turim (norte, no outro lado do país, para participar na Festa das Regiões.

Em declarações à Radio Televisão Italiana (RAI), o presidente da Câmara de Lampedusa na altura do naufrágio, Giusi Nicolini, considerou “grave” a ausência de elementos do Governo na ilha, o que ocorreu “pela primeira vez em dez anos”.

Hoje, as organizações não-governamentais (ONG) que resgatam migrantes no mar e que são prejudicadas pelas leis de Meloni, que as obrigam a levar os resgatados para portos distantes para dificultar as suas missões, também se pronunciaram.

A organização espanhola Open Arms denunciou que desde o dia do naufrágio de Lampedusa “em Itália e na Europa houve uma sucessão de governos de todas as cores, mas no Mediterrâneo continuam a morrer pessoas por afogamento” e lançou uma recolha de assinaturas para pedir uma comissão de inquérito sobre este problema, através da rede social X, o antigo Twitter.

Os Médicos Sem Fronteiras lamentaram que o naufrágio “marcasse o início de um número crescente de mortes no mar e de uma série de medidas ineficazes e desumanas à custa de vidas humanas”.