A rusga foi desencadeada por uma mensagem aparentemente inofensiva que a Mercedes, do grupo Daimler, partilhou no Instagram, na segunda-feira, dia 6 de fevereiro. Na publicação inclui a imagem de um stand de automóvel da marca com a frase "Observe uma situação de todos os ângulos, abra sua mente!", atribuindo explicitamente a citação ao líder espiritual tibetano.
Embora o acesso ao Instagram seja bloqueado na China, a mensagem fez escalar inúmeros comentários sobre os nacionalistas nas redes sociais chinesas. O governo diz que Dalai Lama, vencedor do Prémio Nobel da Paz, é "um lobo disfarçado de monge" e "um separatista", apesar o líder tibetano, exilado na Índia, exigir apenas uma maior autonomia para a região chinesa do Tibete.
Diante da polémica, a Mercedes apagou a mensagem e publicou no dia seguinte um pedido de desculpas em mandarim, no Twitter chinês, Weibo.
"Estamos conscientes de que ferimos os sentimentos do povo deste país", reconheceu a marca, afirmando "lamentar profundamente a publicação de informações extremamente incorretas" e estar determinado a "aprofundar o seu conhecimento da cultura chinesa".
"Inimigo do povo chinês"
A Mercedes-Benz não se pode dar ao luxo de desagradar a China, visto que é o seu principal mercado e onde as vendas aumentaram 26% no ano passado.
Apesar do pedido de desculpas do fabricante, a versão digital do People's Daily (Jornal do Povo), porta-voz do Partido Comunista, dedicou ao incidente um editorial inteiro esta quarta-feira, dia 7.
"Mercedes-Benz, tornaram-se um inimigo do povo chinês", diz o texto, que acusa a marca de "obter grandes benefícios" na China enquanto "humilha" o seu povo.
Várias empresas ocidentais foram identificadas nas últimas semanas por ignorar a linha oficial de Pequim sobre a sua soberania, seja sobre o Tibete (região sob sua tutela desde 1950), Hong Kong (ex-colónia britânica com grande autonomia) ou Taiwan (ilha independente de facto, mas reivindicada por Pequim).
Não é a primeira vez que isto acontece, especialmente no mundo das artes. A título de exemplo, no ano passado, o grupo de rock britânico Placebo terá sido notificado que lhes fora instaurado "uma proibição vitalícia" que os impede de se apresentarem na China, depois de publicarem uma foto de Dalai Lama no Instagram.
Também a marca espanhola Zara e a companhia aérea norte-americana Delta Airlines foram visadas em janeiro por terem incluído nas suas sedes de Hong Kong e Taiwan na lista de "países" — como se fossem Estados independentes.
A porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, ressalvou recentemente que a China "recebe com grande prazer as empresas estrangeiras, mas todas devem respeitar a soberania e a integridade territorial do país".
Por: Ryan MCMORROW da Agência AFP
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