Em curso há cinco anos em parceria com o Centro Cultural e Desportivo da Câmara do Porto, o projeto de mergulho adaptado, disse à agência Lusa a coordenadora de voluntariado da APPC Filipa Luz, “surgiu da vontade de criar atividade diferenciadas e aumentar a participação de jovens adultos com paralisia cerebral”.
Mensalmente, na piscina da Villa Urbana, unidade residencial da APPC onde vivem 31 pessoas com paralisia cerebral, participam nas sessões entre cinco e oito utentes de uma associação que tem “desde serviços educativos a serviços para pessoas com deficiência, acompanhando diariamente cerca de 1.500 pessoas”, disse a coordenadora.
E sobre as mudanças que a frequências das aulas permitiu, Filipa Luz destacou a “oportunidade de poderem participar em algo diferente”, frisando que as pessoas “são constituídas pelo número de experiências que conseguem vivenciar ao longo da sua vida” e o que o facto de ter nascido esta escolha “implicou na sua qualidade de vida”.
“Uma vez por mês é a periodicidade possível, não apenas por uma questão de logística do espaço”, mas também para permitir a todos participarem, numa experiência que já chegou a “um alargado número de utentes”.
Mergulhador há 33 anos e instrutor há 20, José Roças lidera a equipa de quatro mergulhadores voluntários que, em sessões de cerca de uma hora, permitem a quem passa o dia, por exemplo, numa cadeira de rodas, ter a sensação de caminhar dentro da piscina.
Equipados com colete, botija de ar comprimido e, sobretudo, muita atenção e dedicação dos mergulhadores, os utentes da APPC, com diferentes níveis de paralisia cerebral, podem evoluir na piscina de diferentes formas, aprendendo, sobretudo a “respirar debaixo de água”.
José Roças explicou à Lusa que as sessões “consistem em colocar um individuo não adaptado, com o equipamento necessário para a prática do mergulho, a sentir-se imbuído do espírito do mergulho, porque está debaixo de água e a respirar”.
E num grupo diferenciado de utentes, há quem use barbatanas e faça percursos subaquáticos na piscina e outros que, sendo de uma dependência total, têm sempre dois mergulhadores a acompanhá-lo.
“Existe o estigma de que o indivíduo deficiente é um extraterrestre quando, na verdade, consegue fazer coisas que nós, ditos normais, achamos que é um bocadinho perigoso, mas que eles fazem porque se sentem seguros e querem partilhar a vida connosco e ser o mais normais possível”, argumentou o instrutor que do trabalho dos seus alunos disse ser igual ao dos demais, “exigindo tempo e treino”.
Da evolução que acompanhou, disse haver pessoas que “estão nisto há alguns anos e cuja mudança é enorme”, exemplificando com o simples gesto de colocar a máscara de mergulho: “alguns não conseguiam pôr uma máscara de mergulho e hoje não só têm a mascara, mas também conseguem andar debaixo de água e conseguem respirar”.
Para José Roças, a “maior dificuldade é interagir, conseguir que o individuo perceba o que se lhe quer dizer e que consiga dizer se está bem ou se está mal e isto, às vezes, demora meses”.
Do seu trabalho neste projeto de voluntariado disse ser “uma realização pessoal e uma satisfação”, sustentando que o seu “grande objetivo é que tenham a possibilidade de mergulhar desde que o queiram”.
“Estes são um exemplo, pois com mais dificuldade fazem-no e isso dá-me um orgulho e uma satisfação enorme. E com a equipa que tenho conseguimos fazer estas coisas”, acrescentou o instrutor que questionado se havia uma idade limite para a frequência respondeu que desde que “haja capacidades físicas o poderão fazer”.
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