A mobilização foi pensada por “três objetivos: manifestar a nossa solidariedade para com o povo israelita, recordar o 07 de outubro e denunciar o antissemitismo”, disse Bernard Abouaf, presidente da Radio Shalom (rádio da comunidade judaica em Paris), jornalista e um dos responsáveis pela organização do evento, em declarações à Lusa.
Com o mote “Estou de pé”, várias organizações, instituições e grupos comunitários, entre elas Fundo Nacional Judaico (KKL), organizaram a manifestação “em solidariedade com o povo de Israel” com início marcado para as 15:00 horas locais (14:00 de Lisboa) na Praça de Fontenoy, na sede da Unesco em Paris, em frente à Torre Eiffel.
“Ficaria muito feliz se este evento pudesse ter alguma influência na política francesa, mas sei que não tem. Por isso, se enviar fotografias bonitas aos meus amigos em Israel, se der alguma força à família dos reféns, se na ONU perguntarem porque é que estivemos aqui e pensarem nisso, fico muito contente”, afirmou.
O espaço que acolheu os milhares de pessoas, que tiveram de passar pela polícia antes de entrar, ficou repleto de bandeiras de Israel e de França, bem como cartazes com as frases “Longa vida a Israel”, “Tragam-nos para casa agora” e fotos de reféns israelitas capturados pelo movimento islamita palestiniano Hamas no dia 07 de outubro do ano passado.
Segundo Bernard Abouaf, as críticas que são feitas ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, são um direito de todos, não se tratando de “uma questão política”, referindo inclusive que “a maior parte das famílias dos reféns presentes neste evento são contra o primeiro-ministro”.
“Se eu acho que criticar o primeiro-ministro de Israel é antissemitismo? Claro que não, mas hoje estamos aqui para falar dos reféns” do ataque de 07 de outubro, acrescentou Bernard Abouaf, referindo que “a ONU não faz nada” por eles e está a condenar Israel unilateralmente.
No palco houve discursos e atuações musicais de crianças e artistas israelitas, bem como a apresentação de um grupo de jovens que recordaram o ataque ao festival de música eletrónica Nova, de onde foram capturadas centenas de pessoas pelo grupo islamita palestiniano Hamas no ano passado.
Ayelet Samerano, mãe de Jonathan Samerano, dj de 21 anos, raptado e morto pelo Hamas no festival Supernova em Israel, subiu ao palco e pediu para que fosse visionado o vídeo do momento em que o seu filho foi raptado.
“As pessoas que foram ao Festival Nova só queriam dançar e ser felizes. Eles amavam a vida, amavam o mundo, não associavam religiões ou identidades pessoais à política. Eles só queriam fazer a festa e ser felizes. O meu filho não estava armado, a única arma que ele tinha era o seu charme, o seu sorriso eterno e a sua alegria”, afirmou.
Nos ecrãs gigantes passaram também imagens dos ataques e um discurso do Presidente israelita Isaac Herzog sobre serem “um povo que conhece a dificuldade extrema das piores tragédias” e que devido à união, apoio e solidariedade ficou mais forte e “não para de se reconstruir”.
“Sou judia, sou francesa e há um ano tive um verdadeiro abre-olhos, foi o primeiro luto da minha vida. Sinto que a minha família foi morta, que os meus irmãos e irmãs foram arrancados de mim. E estou aqui hoje, antes de mais, para comemorar a sua memória, para que nunca seja esquecida”, disse à Lusa Hanna, de 21 anos, segurando uma bandeira de Israel.
A jovem afirmou ainda sentir-se revoltada com a “sociedade ocidental que fecha os olhos, que condena ao ver Israel defender-se” e por se recusar “a apontar o dedo aos verdadeiros criminosos desta história e que, por puro antissemitismo, condenam Israel”.
Hanna acredita que os países ocidentais e as Nações Unidas “querem ser o grande mediador no Médio Oriente e querem posicionar-se como árbitros, mas na realidade estão a fazer figura de parvos”, com “medo de ofender certas populações na Europa”.
“Vimos há dois dias o Presidente francês, Emmanuel Macron, a dizer que devia haver um embargo às armas israelitas, quando o Líbano está a bombardear Israel e os iranianos também acabaram de bombardear Israel. Não creio que Macron tenha quaisquer convicções, vai para onde o vento o leva todos os dias”, acrescentou.
Nathalie, de 60 anos, que segurava um cartaz com a fotografia de Kfir, uma bebé raptada pelo Hamas antes de completar um ano, veio à manifestação para “apoiar os israelitas”, querendo a libertação dos reféns, “e sobretudo a paz no mundo”.
Para um homem de 73 ano que não se quis identificar, o povo judeu “é constantemente criticado por todos os regimes europeus”. Defendeu que não cabe aos países ocidentais criticar o governo israelita, do qual afirmou ser “totalmente a favor”.
Durante o evento, que durou algumas horas, os milhares de pessoas foram-se mostrando muito emocionadas, mas também efusivas com gritos e palmas. No final, alguns rabinos subiram ao palco para rezar.
Em 7 de outubro de 2023, o movimento islamita Hamas, considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou um ataque surpresa sem precedentes contra Israel, matando 1200 israelitas e fazendo 250 pessoas reféns, o que desencadeou uma guerra com o exército israelita a destruir grande parte da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007.
O conflito alargou-se ao Líbano, com a intensificação das hostilidades entre Israel e o grupo xiita libanês Hezbollah, aliado do Irão e do Hamas contra o Estado judaico.
*Por Maria Constantino, da agência Lusa
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