O protesto começou às 17:00 (21:00 em Lisboa) nas ruas nevrálgicas da cidade e nos pontos emblemáticos como a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, palácio do Governo argentino, e em frente à residência presidencial de Olivos, nas imediações da capital argentina. Pelas janelas, pessoas batiam panelas. Pelas ruas, buzinas marcavam o ritmo das palavras de ordem.
Em frente à residência presidencial, uma maioria de mães e professoras, acompanhadas pelos filhos. O objetivo principal é pressionar o Presidente argentino, Alberto Fernández, a rever o decreto que impõe até, pelo menos, o próximo dia 30 de abril, escolas fechadas. Esta é a terceira noite de protestos, convocados através das redes sociais, contra a suspensão das aulas presenciais.
“Estamos aqui para gritar, para mostrar que o povo é soberano e que não aceita ser atropelado nos seus direitos. E o primeiro desses direitos é a Educação. Queremos que as autoridades nos escutem”, explicou à Lusa Claudia Rucci, de 44 anos, também professora do nível primário.
“Sabemos como foi no ano passado e sabemos como isto continua. Sabemos que os 14 dias, logo serão meses. Essa falta de aulas presenciais afeta a aprendizagem das crianças que perdem o conteúdo e a vinculação social, afetando-lhes a saúde integral”, afirma Claudia.
Ao seu lado, a filha Íris, de 10 anos, concorda: “Eu sinto-me feliz quando vou ao colégio. Vejo as minhas amigas e a minha professora. Não é a mesma coisa através do computador”, diz.
No ano passado, a Argentina manteve a mais prolongada quarentena do mundo com 233 dias de um isolamento que fechou as escolas em todo o país. Foi um ano letivo perdido.
“O Presidente prometeu-nos vacinas, prometeu-nos testes, prometeu-nos que as escolas não seriam fechadas porque não contagiam. Não cumpriu com nada”, conta à Lusa Marcela Ojeda, de 48 anos, erguendo o cartaz “Pais organizados: não fechem as escolas”.
“Na boca de um mentiroso, mesmo o certo fica duvidoso. A experiência anterior demonstra que se não sairmos a defender isto agora, vão pensar que estamos de acordo. Então, os 14 dias serão facilmente prolongados”, aponta.
Ao seu lado, a filha María Luz exibe o cartaz: “Queremos os colégios abertos” e reforça que, no seu colégio, não houve nenhum contágio.
“Ninguém se contagiou. Não tiramos nunca a máscara nem no recreio. Ficamos separados na sala de aula. Não deveriam fechar o meu colégio”, lamenta.
Conforme as horas se passaram, o perfil do protesto mudou. Pais e filhos deram lugar a pessoas contra outros aspetos das medidas de restrição na área metropolitana de Buenos Aires: o toque de recolher entre as 20:00 e as 06:99, proibição de atividades recreativas, sociais, culturais, desportivas e religiosas, fecho de centros comerciais e restrições de transporte público apenas aos trabalhadores de atividades essenciais.
Após as 20:00, milhares de pessoas continuavam em frente à residência presidencial, cercada por duas filas de agentes de segurança. Com bandeiras argentinas, batuques e aos gritos de “Liberdade”, os manifestantes desafiaram o toque de recolher e promoveram uma “desobediência civil”.
O Governo do Distrito Federal de Buenos Aires entrou com um pedido na Corte Suprema contra o fecho de escolas determinado por Alberto Fernández. O argumento das autoridades locais é que os dados epidemiológicos demonstram que as escolas não são foco de contágio e que a medida do Governo Federal é inconstitucional por não respeitar a autonomia da capital argentina.
Na cidade de Buenos Aires, no primeiro mês de aula de 2021, apenas 0,17% de professores e alunos foram contagiados. Entre 17 de março e 12 de abril, os casos continuaram baixos, embora levemente mais altos: 0,71%. A maioria dos contágios aconteceu fora das escolas.
O próprio Ministério da Educação avaliou que em 5.926 colégios, apenas 0,16% dos alunos e 1,03% dos professores foram contagiados.
O Presidente argentino alegou que o problema não é dentro das escolas, mas no transporte público até às escolas. No entanto, o próprio Ministério da Educação indica que 50% das crianças vão a pé às escolas, 20% de carro e apenas 30% através de transportes públicos.
Com 45 milhões de habitantes, a Argentina acumula 2,677 milhões de contágios e 59.164 mortos. Em média, os casos cresceram 16% nesta semana em relação à anterior.
A ocupação de camas de cuidados intensivos é de 64,8% no país, mas de 74,3% em Buenos Aires. No sistema de saúde privada, onde se atendem 70% dos argentinos, a ocupação na cidade de Buenos Aires é de 95%.
*Por Márcio Resende, da agência Lusa
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