O percurso, a espaços claustrofóbico ao cruzar as artérias mais estreitas da descida para o Chiado, foi acompanhado por autocarros de dois andares com música, a parte mais exuberante de um desfile descontraído, mas marcado por palavras de ordem reclamando igualdade, aceitação e liberdade para as comunidades representadas.

O histórico ativista António Serzedelo disse à agência Lusa que "todas as lutas pela igualdade são inacabadas, estando a falar de direitos humanos", assinalando que, "na periferia, a discriminação é muito maior do que na Lapa, no Chiado ou no Príncipe Real".

"Nas zonas periféricas não se pode andar de mão na mão. Uma coisa é estar em Lisboa, outra é estar em Trás-os-Montes ou no interior do Alentejo, que são zonas muito mais difíceis, onde o machismo e as touradas imperam", declarou.

Uma das participantes da marcha, Vanessa Pereira da Costa, afirmou que o orgulho dos participantes é assumir a sua "liberdade de a sexualidade se expressar".

"Sou brasileira e lá estamos à vontade, mas em Lisboa, só às vezes, algumas pessoas fazem cara feia, mas são poucas e não é nada agressivo, talvez por alguma curiosidade. Sinto este lugar como muito aberto", afirmou.

"Ainda falta conquistar poder andar de mãos dadas sem se sentir ameaçada algumas vezes, dependendo do ambiente, e não precisar esconder quem se é na verdade, com medo de não conseguir um emprego", contrapôs.

Alice Azevedo, da comissão organizadora da marcha, disse aos jornalistas que "há 20 anos partia a primeira marcha com umas 500 pessoas que chegaram ponderar usar máscaras para marchar na rua em 2000, hoje estão mais de 15.000, livres, sem máscaras, a lutar pelos direitos que conquistámos e pelos que faltam conquistar".

"A discriminação faz-se sentir, infelizmente, por todo o lado", salientou, indicando os "serviços de saúde mais básicos", para os quais falta formação para os clínicos que "não sabem lidar" com necessidades específicas, "ainda há discriminação no trabalho e ainda há pessoas em 2019 que são expulsas de casa pelas famílias".

A passagem da música e da multidão colorida, que incluiu Beyoncé e Whitney Houston, despertou a curiosidade de muitos turistas pela zona do Príncipe Real ou de São Pedro de Alcântara, quer na rua quer em quartos de hotel onde se abriram as janelas para ver o cortejo.

Na rua, associações de luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo, partilhavam a marcha com pais que defendem a liberdade dos filhos e, à cabeça, ativistas envolvidos nas organizações das marchas anteriores.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, afirmou que a sociedade portuguesa ainda não acompanhou totalmente as leis que fazem de Portugal "um dos países mais avançados" no reconhecimento de direitos a pessoas que, contudo, "não são respeitadas na rua, na escola, no sítio onde trabalham por causa da sua orientação sexual e isso não é admissível".

"Estar tanta gente é um símbolo do tanto que o país mudou, mas é preciso mudar mais porque não basta sermos iguais na lei, temos que ser iguais na sociedade", afirmou, tomando lugar atrás da faixa que o Bloco levou na manifestação, onde outras forças políticas levaram hoje para a rua tanto as suas bandeiras como as do arco-íris, como o Livre, Iniciativa Liberal, PCP e Verdes, representados por candidatos da lista por Lisboa às próximas legislativas.

O deputado do PAN, André Silva, disse em declarações à Lusa que Portugal "é um país bastante progressista, mas há "um investimento que tem que se fazer na formação" em áreas como os hospitais e outros serviços públicos, para que caiam preconceitos e se aplique uma política de tolerância.

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