“Um dos ativos que a democracia portuguesa tem é precisamente essa coexistência de uma história de várias religiões. Isso tem um significado particular no momento em que vivemos, num momento de crise democrática um pouco por toda a Europa e em que a força contrastante da democracia portuguesa está precisamente nesse legado, nessa história de pluralismo, tolerância e de abertura. Isso ajuda a proteger-nos e a projetar o futuro e, por isso, é que tem um grande significado cultural”, afirmou.
O governante falava à margem da “Judaica – Mostra de Cinema e Cultura”, evento que se realizou em Belmonte, vila do distrito de Castelo Branco que conta com uma comunidade judaica ativa e que sobreviveu em segredo durante décadas.
No encerramento da sessão, que contou com ações ligadas à preservação e divulgação da memória e da cultura judaica, Pedro Adão e Silva lembrou a memória dos judeus no mundo, e em particular a história dos judeus de Belmonte, para concluir que este “exemplo de resistência” tem um grande significado “para a defesa das liberdades individuais, de ontem e de hoje”.
“Contar o que aqui [em Belmonte] aconteceu é um exercício de respeito pela resistência inabalável de uma cultura, mesmo nas condições mais inóspitas, mas é também – é acima de tudo – trazer para o presente os valores da convivência pacífica entre culturas e crenças para que a perseguição religiosa nunca mais tenha lugar entre nós”, afirmou.
O ministro salientou que a “democratização” tem de ser um dos “eixos fundamentais das políticas culturais” e detalhou que, numa dimensão mais imediata, “isso significa preservar através da ação cultural valores intrínsecos à vivência democrática”, designadamente o da tolerância religiosa, que considerou ser o “fundamento de toda a tolerância democrática”.
“No momento atual, no momento em que vivemos, este é um sinal importante que podemos dar ao mundo, nós portugueses”, acrescentou, frisando a importância das ações como aquela em que hoje participou e que preservam a memória.
No âmbito da visita, Pedro Adão e Silva também inaugurou uma exposição e uma escultura do artista plástico Ari Erom, que ficam patentes no Museu Judaico de Belmonte, espaço onde também esteve.
Seguiu-se a apresentação da reedição do livro “Inscrições Hebraicas em Portugal”, lançado em 1923 por Samuel Schwarz, engenheiro de origem judia que descobriu a existência da comunidade judaica de Belmonte e que ajudou a dar-se a conhecer e a preservar.
A nova edição do livro foi uma iniciativa de João Schwarz (neto de Samuel Schwarz) que contou com o apoio da Câmara de Belmonte e que, além da edição original, integra ainda novos capítulos sobre o que se foi descobrindo desde então, da autoria de José Alberto Tavim, Ângela Benoliel Coutinho e Meritxell Blasco Orellana.
Foi ainda assinado um protocolo de cedência do espólio de Samuel Schwarz ao Museu Judaico, sendo que parte já está exposto no espaço.
Entre as peças doadas estão, por exemplo, a carteira da Ordem dos Engenheiros datada de 1940, o cartão do centro de imprensa estrangeiro em Portugal, o passaporte português, uma máquina fotográfica, uma máquina fotográfica de bolso e uma máquina de filmar, entre outros artigos que pertenceram a Samuel Schwarz.
Após a assinatura do documento, o presidente da Câmara de Belmonte, António Dias Rocha, agradeceu ao neto de Samuel Schwarz e garantiu que as peças serão preservadas o melhor possível.
“Belmonte foi, continua e continuará a ser também a terra de Samuel Schwarz”, disse.
O autarca reiterou ainda que “Belmonte foi e é terra de tolerância, onde vivem e convivem várias etnias e religiões que se respeitam pelas suas diferenças”.
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