Augusto Santos Silva, que falava à agência Lusa à margem do 8.º encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, referia-se à prevista reunião entre Washington e Moscovo para discutir as exigências do Kremlin de garantias que impeçam a expansão da NATO para a Europa de Leste, incluindo a Ucrânia.
“Prefiro ver o lado positivo”, disse o chefe da diplomacia portuguesa, lembrando que, na conversa que teve recentemente com o seu homólogo russo, o Presidente norte-americano, Joe Biden, “explicou bem” a Vladimir Putin que a NATO “é uma aliança político-militar que tem uma política de porta aberta e que não aceita que um país terceiro bloqueie a adesão de seja qual for o país soberano”.
Biden disse também compreender as preocupações de segurança de Putin e mostrou-se disponível para analisar essas preocupações de segurança, recordou Santos Silva, sublinhando que isso deverá ser feito reativando um mecanismo que existe, que é o Conselho NATO-Rússia.
“Sei que em janeiro começarão conversações diretas entre os Estados Unidos e a Rússia e tudo isso são sinais positivos que permitem conter esta escalada que se estava a verificar, designadamente na fronteira da Rússia com Ucrânia”, disse.
“Temos de aproveitar todos os mecanismos”, defendeu Santos Silva, lembrando que a relação da Aliança Atlântica com a Rússia, se funda em dois princípios indissociáveis: um princípio de defesa coletiva de dissuasão e um princípio de comunicação política.
O governante assinalou que a Rússia já foi avisada que “qualquer ação agressiva militar contra a Ucrânia terá uma resposta à altura da parte do mundo ocidental”, mas defendeu ser importante manter o contacto político, porque “quanto maiores são os problemas, mais necessidade há desse diálogo”.
Rejeitando a ideia de que a diplomacia serve para quando as coisas correm bem, Santos Silva disse ser “exatamente ao contrário”: “Nós precisamos tanto mais de diplomacia, quanto mais dificuldades enfrentamos e a situação que se vive hoje no Leste da Europa, designadamente entre a Ucrânia e a Rússia é muito difícil e qualquer passo mal medido pode desencadear repercussões que ninguém quer”.
As exigências de Moscovo surgem num contexto de tensão face às queixas de Kiev sobre a presença de cerca de 100.000 soldados russos junto às fronteiras da Ucrânia, sugerindo a iminência de uma invasão. Em 2014, a Rússia anexou a província ucraniana da Crimeia.
Moscovo, pelo seu lado, acusa o Ocidente de atitudes ameaçadoras e Kiev de estar a preparar um ataque para recuperar o controlo dos territórios separatistas pró-russos no leste da Ucrânia.
Os EUA e os aliados europeus têm ameaçado a Rússia com sanções duras e sem precedentes se atacar a Ucrânia.
“Não queremos uma guerra. Não queremos seguir o caminho do confronto. Mas vamos garantir firmemente a nossa segurança usando os meios que consideramos necessários”, insistiu na quarta-feira o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.
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