Esta decisão, que a companhia justifica como tendo surgido depois de uma avaliação interna, vem a público pela voz de ativistas que referem que estão a ser censuradas publicações acerca da brutal campanha militar contra a minoria, conta o The Guardian.

O ARSA (Arakan Rohingya Salvation Army), Exército de Salvação do Estado Rohingya que defende os direitos da minoria muçulmana, foi considerado pelo Facebook como pertencendo à lista de "organizações perigosas", confirmou um porta-voz da rede social. Esta é uma lista onde constam organizações terroristas, grupos de violência organizada, crime, assassinatos em série ou ódio.

O Facebook recusou-se a comentar se algum dos outros grupos envolvidos no conflito foi também designado como perigoso ou se as suas publicações foram eliminadas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou que os "crimes contra a humanidade" que sofrem os Rohingyas na Birmânia podem ser considerados limpeza étnica. Apesar disso, as forças militares birmanesas têm uma página verificada pelo Facebook, com 2,6 milhões de seguidores. O governo também tem páginas oficiais, sendo que o apoio incondicional da líder birmanesa e Nobel da Paz Suu Kyi ao Exército tem gerado polémica. Contudo, a 19 de setembro, a líder birmanesa e Nobel da Paz condenou as "violações dos direitos humanos e violência ilegal" no país.

A onda de violência começou a 25 de agosto com uma ofensiva militar lançada na sequência do ataque contra três dezenas de postos da polícia efetuado pelos rebeldes do Exército de Salvação do Estado Rohingya. Com isto, o governo declarou o ARSA como uma organização terrorista. Desde essa altura os Rohingya têm procurado refúgio no vizinho Bangladesh, ação dificultada pelo exército birmanês e pela falta de meios de transporte, segundo relatos de refugiados.

O caso mais dramático ocorre nas margens do rio Naf, onde, segundo estimativas, mais de dez mil ‘rohingya’ esperam por um lugar nos escassos barcos que fazem a travessia do curso de água, fronteira natural entre os dois países.

De acordo com o Facebook, não foi apenas esta ocorrência que levou a considerar a minoria como uma "organização perigosa": em causa está a alegada atividade violenta e não questões políticas.

A decisão foi bem-vinda na Birmânia. O porta-voz de Suu Kyi partilhou uma mensagem da companhia onde é referido o facto de se começarem a eliminar conteúdos relacionados com os Rohingya e onde pediu que todos ajudassem a reportar casos que conhecessem. A publicação teve um enorme alcance, sendo partilhada quase 7 mil vezes.

O reconhecimento de que o Facebook está a proibir conteúdos sobre o ARSA após críticas de refugiados, jornalistas e observadores Rohingya. Denuncia-se, assim, que a empresa censura relatórios de violações de direitos humanos contra o grupo minoritário.

"Eu acredito que [o Facebook] está a tentar reprimir a liberdade de expressão e dissidência em conluio com os genocídios no regime de Myanmar", referiu o ativista e jornalista Mohammad Anwar ao The Guardian.

Anwar foi uma das pessoa que viram os seus conteúdos eliminados do Facebook. Neste caso, várias publicações - a maioria apenas com texto que descrevia operações militares contra aldeias Rohingya - foram removidas por "violarem os padrões comunitários".

O Facebook referiu que algumas publicações de Anwar foram excluídas por erro. "Em resposta à situação na Birmânia, estamos apenas a remover o conteúdo gráfico quando partilhado para celebrar a violência", disse a porta-voz do Facebook, Ruchika Budhraja, num comunicado. "Estamos a rever cuidadosamente o conteúdo em relação aos nossos Padrões Comunitários e, quando alertados para erros, estamos a resolvê-los rapidamente e a trabalhar para evitar que ocorram novamente", acrescentou.

Estima-se que os Rohingyas – uma minoria étnica não reconhecida pelas autoridades birmanesas – sejam cerca de um milhão e, neste momento, entre 10.000 e 20.000 pessoas dessa etnia, exaustas, esfomeadas e por vezes feridas, franqueiam diariamente a fronteira para o vizinho Bangladesh.

No Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo, os campos de refugiados preexistentes estão a soçobrar perante este afluxo, e as colinas desflorestadas à pressa enchem-se de lonas esticadas sobre bambus que servem às famílias de abrigo precário contra as chuvas de monção.