Questionada pela Lusa sobre se Moçambique apoiará o apelo a um cessar-fogo lançado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, numa carta endereçada ao Conselho de Segurança, Verónica Macamo argumentou que o seu país tem plena consciência da importância da paz e, por isso, apoiará o “lado que efetivamente permita um cessar-fogo naquele local”.
“Estamos neste momento ainda a ver a carta [enviado por Guterres ao Conselho de Segurança], ainda não me posso pronunciar sobre ela, mas seguramente Moçambique estará do lado mais correto, que é o lado que efetivamente permita que haja um cessar-fogo naquele local e que haja paz”, disse.
“Nós, mais do que outros países, temos a consciência da importância da paz. Passamos por uma guerra de 16 anos e sabemos o que é isso. Sabemos que a guerra mata, destrói, cria mutilados e uma série de sequelas, (…) e não queremos que isso aconteça com outros países”, acrescentou a ministra em declarações à imprensa, na sede da ONU, em Nova Iorque, onde participou numa reunião de alto nível sobre o Fundo Central de Respostas a Emergências (CERF) para 2024.
O Conselho de Segurança da ONU irá reunir-se na sexta-feira na sequência do apelo inédito feito por António Guterres, que invocou o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas para pedir um cessar-fogo em Gaza.
O grupo dos Estados Árabes da ONU trabalhou nos últimos dias numa proposta de resolução para ser levada a votos no Conselho de Segurança da ONU e que apela a um cessar-fogo na guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas.
Pela primeira vez desde que assumiu a liderança das Nações Unidas, em 2017, António Guterres invocou na quarta-feira o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, o instrumento diplomático mais poderoso à disposição de um secretário-geral da ONU.
O artigo em questão, usado formalmente apenas três vezes (1960, 1979 e 1989) em toda a história da ONU, refere que o secretário-geral “pode chamar a atenção do Conselho para qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e segurança no mundo”.
Nesse sentido, face à magnitude da perda de vidas humanas em Gaza e em Israel num tão curto espaço de tempo, Guterres enviou uma carta ao Conselho de Segurança, apelando ao órgão para que “pressione para evitar uma catástrofe humanitária” em Gaza, reiterando os seus apelos por um cessar-fogo que trave “implicações potencialmente irreversíveis” para os palestinianos.
Verónica Macamo disse hoje que a guerra em Gaza tem sido motivo de preocupação para Moçambique, tendo apoiado a abertura de corredores humanitários e defendido uma solução de dois Estados.
Na conferência de imprensa, a ministra abordou ainda a guerra da Rússia na Ucrânia e voltou a defender a abstenção moçambicana em relação ao conflito, justificando com a amizade que nutre pelos dois países.
“Uma das grandes questões neste momento é em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia e nós temos optado pela abstenção, porque pensamos que o mais importante é que se sentem e resolvam o problema, porque nós somos amigos uns dos outros. Somos amigos da Ucrânia e somos amigos da Rússia. Quem tem amigos numa situação de desavenças, o que mais quer é que os amigos se entendam”, advogou.
“Portanto, o que nós queremos é que efetivamente aquela guerra pare. Já morreu muita gente, há muita destruição. Não faz sentido. O nosso mundo já evoluiu tanto para pensarmos que podemos resolver os assuntos com armas”, acrescentou Macamo, observando que o seu país já se encontra a preparar a presidência rotativa do Conselho de Segurança, que assumirá em julho do próximo ano.
A governante moçambicana fez ainda um balanço positivo da sua deslocação à sede da ONU, onde teve a oportunidade de partilhar as experiências do seu país e “de agradecer o apoio” que tem recebido.
Macamo foi oradora convidada do Fundo Central de Respostas a Emergências para 2024 e falou sobre a situação humanitária em Moçambique e o compromisso e resiliência do Governo do país em resposta à devastação provocada por desastres naturais geradas pelo fenómeno global de mudanças climáticas.
A ministra disse ter observado “muita vontade” de ajuda a Moçambique e a “convicção de que é preciso dar mais”.
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