Numa intervenção de cerca de 45 minutos perante o Conselho Nacional do PSD, aberta à comunicação social, Luís Montenegro começou por assinalar que primeiro “houve um certo desdém, uma certa desvalorização” por parte do PS da intenção do PSD de apresentar um projeto de revisão constitucional.

“Desde a primeira revisão constitucional que o PS chega sempre tarde e a más horas ao processo de revisão constitucional, é relapso a aparecer e relapso a aceitar”, apontou, dizendo que tem visto “com satisfação o PS sempre atrás do comboio do PSD e a apanhar boleia do que é importante para o país”.

Montenegro classificou mesmo o PS como “um partido tipo carrossel que se diverte muito a andar à volta, mas nunca sai do sítio”.

Ainda assim, no final do seu discurso, o presidente do PSD admitiu que é essencial para a aprovação de qualquer alteração à Constituição a disponibilidade do PS.

“Quero desafiar, olhos nos olhos, António Costa e o PS para vestirem o fato de reformistas, de políticos modernos (…) Assim o PS deixe de estar tão concentrado nas confusões dos membros do Governo, nas jogadas das notícias de hora a hora e olhe com ambição, com sentido de responsabilidade, com sentido de esperança nacional e de amor à pátria”, apelou.

Perante o desconforto manifestado por alguns deputados, nos bastidores, por o grupo parlamentar não ter sido previamente envolvido no processo de revisão, Luís Montenegro deixou também recados internos, dizendo não estar a falar “para ninguém em particular”, e desafiando quem se manifestou sob anonimato a dar a cara no Conselho Nacional.

“No passado fim de semana solicitei ao presidente do grupo parlamentar que convocasse uma reunião para, em primeira mão, apresentar o primeiro esboço do projeto a quem o vai executar, que são os deputados”, salientou, dizendo que no PS a reunião da bancada foi marcada “de um dia par ao outro” e não se ouviram protestos.

Montenegro invocou o seu tempo como deputado e líder parlamentar para recordar outros processos de revisão constitucional, dizendo que o atual processo “não fica a dever nada a nenhum antes desse”

“Quanto menos intriga criamos a nós próprios, mais capacidade vamos ter em passar os nossos intentos. Estou absolutamente possível que não era possível fazer de forma diferente, nem melhor, modéstia à parte”, apontou.

Ainda assim, o presidente do PSD manifestou disponibilidade para recolher sugestões, lembrando que um processo de revisão constitucional demora meses até ser concluído.

Na reunião, quer jornalistas, quer conselheiros nacionais receberam um documento com as 40 propostas de revisão da Constituição, mas não ainda o articulado do projeto-lei, que só deverá ser conhecido na sexta-feira, prazo limite para a apresentação de iniciativas, depois de o Chega ter desencadeado o processo em 12 de outubro.

O texto de oito páginas distribuído pelo PSD intitula-se “Realista, Reformista e Diferenciador”.