“[A lei] praticamente transforma estes movimentos numa impossibilidade”, disse Rui Moreira.
Eleito por um movimento independente, o autarca falou numa “inversão” em relação à revisão constitucional de 1997 que “permitiu que os movimentos independentes concorressem às eleições autárquicas e que propunha um aprofundamento dos movimentos cívicos nos processos eleitorais”.
Rui Moreira, que falava aos jornalistas à margem da apresentação do centro de vacinação contra a covid-19, disse que as alterações feitas agora demonstram que “os partidos mudaram de opinião e resolveram criar dificuldades aos grupos de cidadãos eleitores”.
Respondendo à pergunta “as alterações demonstram que os partidos têm medo dos movimentos independentes”, Moreira respondeu de imediato “claro que sim”.
“Claro que têm [medo]. Recordo que, durante a última campanha eleitoral, o PSD aqui no Porto tentou, pela via judicial, impedir a minha candidatura com base nestes argumentos. Queria ganhar na secretária e como não conseguiram, agora mudaram a lei”, disse o presidente da câmara.
Rui Moreira recordou que fez comentários sobre esta matéria “ainda antes de a lei ser aprovada pelo Parlamento”.
“Na altura, recordo, ninguém deu muita importância a isto”, referiu, somando que escreveu ao Presidente da República antes da promulgação da lei.
Para o autarca do Porto, a nova lei eleitoral autárquica “é inconstitucional”, mas “teria de ser o Tribunal Constitucional a decidir e para isso não há tempo”, referiu.
“Se se mantiver a data das eleições para final de setembro — há quem diga que ela pode ser adiada até ao final do ano por causa do plano de vacinação [contra a covid-19] –, não vejo como é que há tempo útil para reverter isto, a não ser que os partidos políticos compreendam que o que fizeram pode-lhes parecer muito útil, mas no final ao ter pesadas consequências”, apontou.
Rui Moreira contou que tem falado com vários autarcas que lhe transmitiram que o está a acontecer é que os partidos políticos os convidam para as suas listas.
“Não será o meu caso”, assegurou.
Sobre as “pesadas consequências”, Moreira falou no “desamor pela política e pela participação cívica”, lembrando que “todas as noites eleitorais ouvimos os partidos chorar por causa da abstenção”, mas “após falarem naquela noite e dizem que é uma chatice, esquecem no dia seguinte esquecem”.
“Isto vai contribuir para a abstenção”, sintetizou.
Já sobre se acredita que estas alterações são um ataque à sua candidatura, Rui Moreira disse que não tem a “mania da perseguição”, mas sabe “concluir e perceber as coisas”.
“A forma como a lei está formulada, sobretudo o nome dos movimentos, basta para perceber que isto nos foi apontado, a mim em particular. Se, ao mesmo tempo, perceberem de quem veio a iniciativa e que essa mesma pessoa tinha tentado fazê-lo em 2017 durante a campanha eleitoral, tentando inviabilizar a minha candidatura”, concluiu.
Entre outros aspetos, em causa estão alterações legislativas que obrigam os proponentes a recolher assinaturas, em separado, para formalizar uma candidatura a uma câmara municipal e a uma junta de freguesia do mesmo concelho.
O nome escolhido pela candidatura independente para se apresentar a eleições terá de ser analisado por um juiz, para saber se é ou não válido.
As alterações à lei autárquica foram aprovadas por PS e PSD.
PFT // ACG
Lusa/Fim
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