“Dominique Tapie e os seus filhos têm a infinita dor de anunciar a morte do seu marido e pai, Bernard Tapie, este domingo, 3 de outubro, às 08:40 [horário local, 07:40 em Lisboa], em consequência de um cancro”, indicou a família do também antigo apresentador de televisão, deputado e eurodeputado.
Na sua conta na rede social Instagram, Stéphane Tapie, um de seus filhos, confirmou a informação numa curta mensagem, "Adeus minha Fênix", como legenda de uma foto com o seu pai.
Bernard Tapie, um homem de mil faces que ao longo da sua vida dirigiu empresas e meios de comunicação e presidiu ao Marselha, que levou ao título de campeão europeu de futebol em 1992/93, antes de ser impedido de desempenhar funções diretivas em 1994, por irregularidades económicas e desportivas.
Tornou-se alvo da atenção dos meios de comunicação nas últimas décadas pelo seu envolvimento em vários escândalos judiciais, condenações e prisão.
Entre os quais, a polémica arbitragem sobre a venda da Adidas [que foi de sua propriedade, sendo envolvido num grande caso judicial por fraude], que afetou a ex-líder do Fundo Monetário Internacional (FMA) Christine Lagarde, mas também a sua gestão em outras várias empresas.
Embora sua condição física tenha piorado nos últimos meses, Tapie continuou a fazer aparições nos meios de comunicação para comentar questões políticas atuais.
Em abril, foi vítima de um assalto e agressão em sua casa, onde Tapie e a sua esposa foram algemados e espancados por ladrões, que levaram joias e relógios. No mês seguinte, Tapie renunciou a apelar da última sentença no processo por fraude na arbitragem sobre a venda da Adidas.
O polémico empresário será sepultado em Marselha, "a cidade de seu coração", como era o seu desejo, disse a família.
Após a notícia de sua morte, começaram a surgir reações, como a do primeiro-ministro francês, Jean Castex, que lembrou Tapie como "um lutador".
"Muito empenhado contra a extrema-direita, mas principalmente por causas, pelo clube, pela sua cidade, pelos negócios. Em suma, muito homem comprometido que deu tudo e acredito que também o vimos lutar contra a doença”, disse o primeiro-ministro francês.
Tapie, “um homem de desafios”
O antigo ciclista francês Bernard Hinault recordou o ex-ministro e empresário Bernard Tapie como “um homem de desafios” e uma “personagem extraordinária”.
Tapie, que chegou à ribalta ao assumir a presidência do Marselha, chegou ao desporto através do ciclismo, ao criar a equipa La Vie Claire, em 1983, a última da carreira de Hinault, cinco vezes vencedor do Tour.
“Falei com ele ao telefone no início do ano. Ele disse-me: ‘Estamos a aguentar-nos. É preciso lutar, é preciso acreditar’. Esse era o seu espírito de luta”, recordou Hinault, em declarações à agência noticiosa AFP, expressando a tristeza com a morte de Tapie.
No último ano de carreira, Hinault conquistou a última ‘Grande Boucle’ pela equipa de Tapie, que também conquistou a prova em 1986, pelo norte-americano Greg Lemond.
Depois do ciclismo, Tapie presidiu ao Marselha, que levou ao título de campeão europeu de futebol em 1992/93, o único conquistado por um clube francês.
“O Marselha recebeu com profunda tristeza o desaparecimento de Bernard Tapie. Ele deixa um enorme vazio no coração do povo marselhês e permanecerá sempre como uma lenda do clube”, lê-se na mensagem de condolências do clube, campeão francês entre 1989 e 1992.
Em 1993, foi acusado de manipular o resultado do jogo com o Valenciennes, tendo o Marselha sido penalizado com a retirada do título de campeão e a despromoção ao segundo escalão.
“Ele queria tocar em tudo. Talvez tenha cometido um erro ao entrar na política, mas foi a sua escolha”, vincou Hinault.
Além do dirigismo desportivo, Tapie foi empresário no setor da comunicação social e em material desportivo, apresentador de televisão, cantor e ator, ministro, deputado e eurodeputado.
Foi nomeado ministro pelo então Presidente francês François Mitterrand, em 1993, após a venda da Adidas ao Crédit Lyonnais, que vendeu a gigante alemã com lucros avultados, levando Tapie a requerer uma elevada indemnização, concedida em primeira instância e posteriormente anulada.
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