Já o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung avança que a notícia que foi comunicada pela sua agente, Patricia Baumbauer, que detalhou que o ator sido diagnosticado com cancro no cólon no verão passado.

Um dos atores suíços mais conhecidos da atualidade — senão mesmo o mais famoso —, Ganz teve uma carreira rica e variada. Quer fosse no teatro, onde começou a carreira como ator, quer fosse no cinema, em filmes que o levaram a interpretar "Nosferatu, o Vampiro" (1977) de Werner Herzog ou um anjo em "As Asas do Desejo" (1987), de Wim Wenders, a sua carreira foi dedicada à arte da representação. Todavia, apesar de mais conhecido no circuito do cinema alemão, também participou em filmes de língua inglesa como "O Leitor" (2008) ou "O Candidato da Verdade" (2004). 

Bruno Ganz é também protagonista de "A Cidade Branca", o filme de Alan Tanner rodado em Lisboa, no início da década de 1980, no qual contracenou com a atriz portuguesa Teresa Madruga. Os seus trabalhos mais recentes incluem papéis em "Comboio Nocturno Para Lisboa" de Bille August, "Remember", de Atom Egoyan, "Amnésia", de Barbet Schroeder, e "The Witness", de Mitko Panov.

O seu derradeiro trabalho no cinema é "Radgund", o filme de Terrence Malick que se encontra em pós-produção.

O ator regressou a Portugal por diversas vezes, para o Festival de Almada, para atuar na Culturgest, onde falou de Goethe, em 2002. Paralelamente, trabalhou por diversas vezes com o produtor português Paulo Branco.

Em 2015 foi um dos convidados de honra do Lisbon & Estoril Film Festival (LEFFEST), para acompanhar a retrospetiva dedicada ao cineasta alemão Wim Wenders. Nesse ano, o LEFFEST, acabaria por premiar todo o seu percurso.

Nos encontros com o público, destacou então o seu desempenho no filme "As Asas do Desejo", onde, na Berlim anterior à queda do muro, foi um anjo que, por paixão, decidiu transformar-se em homem.

Iffland-Ring, o anel

Bruno Ganz nasceu em Zurique em 1941. É detentor do Iffland-Ring, o prémio atribuído há mais de 200 anos ao mais importante ator de teatro de língua alemã. Ainda se sabe a quem terá passado o anel.

Foi membro do Teatro Goethe em Bremen, onde interpretou obras de Shakespeare, Ibsen e Brecht, tendo trabalhado com encenadores como Luc Bondy e Peter Stein, com quem fundou a companhia teatral Berliner Schaubühne, no início da carreira, na capital alemã, marco da dramaturgia contemporânea.

A biografia publicada pelo LEFFEST destaca a sua interpretação em "A Marquesa d’O", de Eric Rohmer (1976), "primeiro passo de um trajeto cinematográfico ímpar, sendo solicitado por realizadores como Wim Wenders (com quem fez "O Amigo Americano", "As Asas do Desejo" e "Tão Longe, Tão Perto"), Theo Angelopoulos ("A Eternidade e Um Dia"), Francis Ford Coppola ("Uma Segunda Juventude").

Em agosto, o ator que gostava de contar histórias, e que gravou a poesia de TS Eliot e Holderlin, esteve em palco pela última vez, para ser o narrador da ópera "A Flauta Mágica", de Mozart, no Festival de Salzburgo, na Áustria.

Dos vários prémios com que foi galardoado, destacam-se o Leopardo de Ouro do festival internacional de Locarno, pelo conjunto da sua carreira, também distinguida pela Academia Europeia de Cinema.

No entanto, a sua carreira ficará inevitavelmente marcada pelo papel que desempenhou em "A Queda" (2004), ao dar vida a Adolf Hitler. Uma das cenas do filme, em que Hitler tem um ataque de raiva, virou "meme" na Internet e deu origem a centenas de paródias espalhadas pelas mais variadas plataformas de vídeo.

A história, no filme, segue os últimos 10 dias de vida de Hitler num bunker em Berlim. Na altura de lançamento, o filme arrecadou 92 milhões de dólares de bilheteira, tendo ainda sido nomeado para um Óscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. 

Na altura, um crítico de cinema do New York Times, descreveu o seu desempenho como "intrigante" e "horripilantemente carismática". 

Bruno Hanz, ao The Guardian, em 2005, revelou que demorou 4 meses para preparar a personagem. Sugerindo que estudou um vídeo (muito raro) de um momento mais relaxado e pessoal de Hitler, recuperado em 1992, assim como observou o comportamento de pessoas com a doença de Parkinson — que se acredita que o ditador sofria —, Hanz explicou também que esteve relutante em aceitar o papel que o notabilizou. 

"Não posso dizer que percebo o Hitler. Até testemunhas que estiveram com ele no bunker não conseguiram descrever a essência do homem. Ele não tinha piedade, compaixão ou compreensão por aquilo que as vítimas da guerra sofreram. Ultimamente, não posso dizer que tenha percebido o coração de Hitler porque não havia ali nenhum", revelou ao jornal britânico.


Notícia atualizada às 12:58