A notícias foi avançada pelo jornal Observador e posteriormente confirmada pela família. José Mattoso tinha 90 anos, era visto como uma das figuras incontornáveis da história de Portugal e há muito que lutava contra a doença de Parkinson.
Nascido em Leiria, em 1933, José João da Conceição Gonçalves Mattoso integrou o mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, como monge beneditino, durante 20 anos, e esteve ainda na Bélgica, onde se doutorou em História, concretamente na Universidade Católica de Lovaina. Após o doutoramento, começou por estudar as ordens religiosas em Portugal entre os séculos VI e XV e ainda a aristocracia dos séculos X a XIII.
Anos mais tarde, nos anos 70, deixou para trás a vida religiosa e acabou mesmo por casar.
Autor de mais de 30 obras (algumas em colaboração), renovou o interesse pelo estudo da Idade Média portuguesa, área sobre a qual publicou a maior parte da sua obra, nomeadamente “Identificação de um País” (1985), que apresentou novas linhas de investigação sobre aquele período.
O historiador assinou também uma biografia de D. Afonso Henriques, publicada em 2006 pelo Círculo de Leitores, e dirigiu várias obras coletivas (“História de Portugal”, 1993-1994; “História da vida privada em Portugal”, 2010-2011; “Património de origem portuguesa no mundo”, 2010).
A produção historiográfica de José Mattoso começou a ser publicada em 1968, com “Les Monastèresde la Diocèse du Porto de l’an mille à 1200”, seguindo-se, em 1970, “As Famílias Condais Portucalenses séculos X e XI”, tema a que voltou, em 1981, com a obra “A Nobreza Medieval Portuguesa. A Família e o Poder”.
Em 1982, publicou “Religião e Cultura na Idade Média Portuguesa”, em 1985 “Portugal Medieval” e, no ano seguinte, a sua obra de referência, “Identificação de um País” (dois volumes), que lhe valeu o Prémio Alfredo Pimenta e o Prémio Ensaio do P.E.N, Clube, em 1986.
Em 2005, publicou “A dignidade Konis Santana e a Resistência Timorense”, uma das suas raras incursões na História Contemporânea, quando aceitou ser “colaborador voluntário do Instituto Português de Auxílio à Cooperação, durante os cinco anos” que permaneceu em Timor, como explica na introdução da biografia daquele combatente timorense.
Numa rara intervenção política, foi mandatário nacional do Partido Livre, em 2015.
Em 2012, publicou “Levantar o Céu – Os Labirintos da Sabedoria”, que lhe valeu o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes, do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, um galardão a juntar a outros com os quais foi distinguido ao longo da carreira, como o Prémio Böhus-Szögyény de Genealogia, em 1991, ou o Troféu Latino, em 2007.
Em 1992, o Estado português condecorou-o com o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada.
No final da década de 90 foi também, entre 1996 e 1998, diretor da Torre do Tombo.
*Com Lusa
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