O jornal The Guardian escreve que Harrison Birtwistle marcou a música britânica durante mais de cinco décadas, com composições de "um modernismo intransigente", desde óperas de grande escala a peças para piano solo.

Harrison Birtwistle foi compositor em residência da Casa da Música, no Porto, em 2017, ano em que a instituição dedicou a programação ao Reino Unido. No ano seguinte, participou no Fórum do Futuro, também no Porto, onde foi convidado para falar sobre a influência da Grécia antiga e dos clássicos no seu trabalho, recordando a criação de "Oresteia" (1981) e "The Mark of Orpheus" (1986).

Na altura, em entrevista à agência Lusa, o compositor afirmava que a criatividade surgia como "uma trégua com as ideias" e que a sua música era "uma afirmação política de liberdade", admitindo que a influência de temas de política e da atualidade só se intrometia no processo criativo de forma insconsciente.

"Nunca pensei nisso, em estar num lado ou escrever música emblemática de uma dada situação. Nem saberia o que fazer, já acho difícil que chegue a fazer o que faço no campo técnico, quanto mais colocando outro fator que me torna menos livre... Quero fazer parte do mundo, e estar do lado da verdade, isso sim", disse.

Harrison Birtwistle nasceu a 15 de julho de 1934, em Accrington, no Lancashire, e, depois de vários anos a aprender clarinete, ainda jovem, começou a compor.

Estudou no Royal Manchester College of Music, estabeleceu-se como compositor em Princeton, com uma bolsa, em 1965, e estreou a primeira ópera, “Punch and Judy”, em 1967, no festival de Aldeburgh, no Suffolk, no Reino Unido.

Em 1972, compôs para o filme "O Delito", de Sidney Lumet, com Sean Connery no principal papel, naquela que foi a sua única banda sonora para cinema.

Em 1975, assumiu o cargo de diretor musical do Royal National Theatre, em Londres.

A sua obra estende-se da ópera, com mais de uma dezena de dramas compostos para palco, à música instrumental, coral, vocal, para orquestra e conjuntos de câmara, num conjunto de grandes peças que fazem de Birtwistle um dos mais relevantes nomes da música erudita, da atualidade.

Galardoado com a Ordem dos Cavaleiros de Honra pela coroa britânica, Birtwistle tem fama de escrever composições difíceis, mas o compositor não considera que o faça "de propósito".

"Não parto com a intenção de escrever uma peça difícil, apesar de já mo terem dito. São difíceis, como foram difíceis para mim também", nesse processo de "tréguas com as ideias", até atingir a sua forma final, contou na mesma entrevista à Lusa.

As suas composições foram dirigidas por maestros como Daniel Barenboim, Christoph von Dohnányi, Pierre Boulez, Oliver Knussen e Antonio Pappano.

Além da Casa da Música, Harrison Birtwistle recebeu encomendas e viu as suas composições serem interpretadas no festival de Salzburgo, BBC Proms, Lucerne Festival, South Bank Centre, em Londres, e no Konzerthaus de Viena, entre outras grandes salas de concerto, a nível mundial.

O compositor foi por diversas vezes interpretado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, nomeadamente nos 50 anos da instituição. Em 1974, a edição em vinil de "The Triumph of Time", no catálogo Argo, da Decca, pela Orquestra Sinfónica da BBC, dirigida por Pierre Boulez, foi gravada "sob os auspícios da Fundação Calouste Gulbenkian". Esta edição conta com "Chronometer", para eletrónica.