Pedro Dias está acusado de ter furtado duas matrículas de uma viatura na freguesia de Valadares, no concelho de S. Pedro do Sul, na noite de 23 para 24 de janeiro de 2012.

O homem, de 44 anos, é suspeito, num outro processo, da autoria material de dois crimes de homicídio qualificado em Aguiar da Beira, três de homicídio qualificado na forma tentada, três de sequestro e um de roubo. Entregou-se à Polícia Judiciária (PJ), em Arouca, ao fim de 28 dias desaparecido na sequência daqueles alegados crimes.

Neste processo agora de S. Pedro do Sul, conta-se que em novembro de 2014 a GNR aprendeu essas matrículas dentro de uma cavalariça da Quinta dos Guardais, em Várzea, no concelho de Arouca, no âmbito de uma investigação relacionada com o furto de aves.

Pedro Dias chegou hoje de manhã ao Tribunal de S. Pedro do Sul sob fortes medidas de segurança. A estrada principal, onde se situa o tribunal e estava concentrada uma centena de pessoas, teve de ser cortada.

Já dentro da sala de audiências, Pedro Dias negou ter furtado as matrículas e contou que andavam a acontecer “bastantes coisas estranhas” na quinta do seu pai, que pensou estarem relacionadas com o processo litigioso que mantinha com a ex-mulher, por causa da guarda da filha.

Exemplificou com o “aparecimento de sacos de roupa e o desaparecimento de motosserras” e disse que até chegou a ser montado um sistema de videovigilância.

Segundo Pedro Dias, parte da quinta não se encontra vedada e qualquer pessoa lá poderia entrar e também era habitual trabalharem lá pessoas à jorna. Garantiu também que, nesse período, se encontrava na África do Sul.

Admitiu que, quando as matrículas foram encontradas, foi falar com o proprietário da respetiva viatura para perceber se poderia ter sido cliente da ex-mulher, que é veterinária.

A procuradora do Ministério Público (MP) disse não terem ficado dúvidas de que foi Pedro Dias quem furtou as matrículas, já que era ele que geria a quinta e era essa a sua morada oficial.

Por outro lado, frisou que Pedro Dias “teve a preocupação de ir falar com o ofendido e de tentar que ele desistisse da queixa”, oferecendo-se para pagar as despesas tidas com as novas matrículas.

“Teria algum interesse nisso. Esse interesse seria não estar aqui sentado hoje”, sublinhou.

A advogada de Pedro Dias, Mónica Quintela, disse só conseguir compreender as alegações do MP por “eventualmente alguma contaminação provocada pela estigmatização que neste momento o arguido acarreta” devido à suspeita dos homicídios de Aguiar da Beira.

Na sua opinião, se fosse qualquer outro cidadão a ser julgado por este crime, o MP pediria a sua absolvição.

Relativamente ao pedido de Pedro Dias para que o ofendido retirasse a queixa, a advogada considerou que, estando em causa valores pequenos, é normal que as pessoas tentem resolver a situação, ainda por cima quando ele se encontrava no meio de “um processo de grande conflitualidade” com a mãe da filha.

“Temos que perceber o quadro mental em que as pessoas estavam a viver”, frisou, acrescentando que Pedro Dias se preocupou em tentar perceber como as matrículas tinham ido parar à quinta.

Mónica Quintela frisou o hiato de quase três anos entre o furto das matrículas e o seu aparecimento e questionou “onde estiveram durante esse tempo todo”.

“Sabemos que não foram utilizadas em nada, nem para passar na Via Verde, nem estão referenciadas em assaltos. Não sabemos o que se passou”, concluiu.

Como ninguém vir Pedro Dias furtar as matrículas, nem a utilizá-las, e visto que não teriam qualquer utilidade para ele, a advogada pediu a absolvição.

A decisão do tribunal será conhecida no dia 28 de manhã, tendo Pedro Dias prescindido de estar presente. Irá ouvi-la em Monsanto, através de videoconferência.

No final da sessão, Mónica Quintela disse aos jornalistas que Pedro Dias “traz atrás de si toda uma carga, como se vê desde logo pelo aparato policial”, pela viatura em que viajou do estabelecimento prisional de Monsanto para S. Pedro do Sul e pelo facto “de não ter vindo de véspera, como é normal nestas situações”.

“Quando é submetido a um julgamento, mesmo que seja sobre quaisquer factos que possam ser considerados as chamadas ‘bagatelas jurídicas’, ser ele tem uma conotação completamente diferente do que se for qualquer cidadão”, afirmou.

No entanto, a advogada disse não ter “dúvidas nenhumas de que o tribunal é tarimbado e está habituado a este tipo de situações e não se deixa pressionar pelo mediatismo”.