Ainda sem programa divulgado, o conclave do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) vai pôr fim a 39 anos de liderança de José Eduardo dos Santos, a única função política que exerce atualmente, depois de, em agosto de 2017, não se ter apresentado como recandidato nas eleições gerais de então.
Embora sem informações oficiais, são de esperar deste conclave mudanças nos órgãos do partido, como o Bureau Político, o Secretariado e o Comité Central, cuja composição, na sua essência, transitou do último congresso ordinário, realizado em 2016, sob proposta de José Eduardo dos Santos.
A bicefalia nas estruturas de poder em Angola – João Lourenço é o Presidente angolano e vice-presidente do MPLA e José Eduardo dos Santos é ainda o atual líder do partido – vai, assim, terminar, desconhecendo-se até que ponto irá o futuro líder partidário mudar o “núcleo duro”.
Isso mesmo foi referido pelo académico angolano Fernando Manuel, adiantando que João Lourenço terá “grandes desafios” a partir do momento em que assumir a liderança do MPLA.
Um deles é “dissipar a ideia da existência de fraturas” no próprio partido, tendo em conta o que João Lourenço tem feito na área da governação, afastando-se das ideias e da teia em redor de José Eduardo dos Santos, sem que isso possa afetar a unidade do MPLA e, sobretudo, o “núcleo duro” que se mantém ligado ao ainda líder e ex-Presidente de Angola.
A “transição” do “arquiteto da paz”, como se refere o MPLA a Eduardo dos Santos, que tem sido alvo de inúmeras homenagens um pouco por todo o país, para João Lourenço tem sido alvo de algumas tensões internas no partido, que, tal como referiu o académico Fernando Manuel, têm agudizado “as insinuações da existência de clivagens no seio do MPLA”.
Para hoje, o MPLA tem agendada uma conferência de imprensa para dar conta do andamento do congresso, em que aguarda que sejam divulgados mais pormenores sobre o conclave.
A 7 de julho, o secretário-geral do MPLA, Paulo Kassoma, anunciou, no lançamento público deste congresso, que o encontro terá como ponto único da agenda de trabalhos a conclusão do “processo de transição política na presidência” do partido e que deverá contar com 2.591 delegados.
“Decorrerá num ambiente de ampla participação democrática e espírito de harmonia, com base dos princípios e valores do MPLA, contribuindo desse modo, para o contínuo fortalecimento da unidade e coesão no seio do partido”, enfatizou Paulo Kassoma.
O congresso decorrerá sob o lema “MPLA — Com a Força do Passado e do Presente, construamos um futuro Melhor”.
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