Numa concentração que até há dias teria sido imediatamente reprimida pela polícia, cidadãos do Zimbabué visivelmente alegres saíram à rua de braços levantados em triunfo, escreve a Associated Press. Jovens gritaram, riram e abraçaram-se.
Alguns tinham cartazes com uma imagem do chefe das Forças Armadas, que no início desta semana colocou Mugabe sob prisão domiciliária. No cartaz eram ainda visíveis palavras de apoio: “Go, go, our general!!!” [“Força, general], na tradução livre”.
Os manifestantes deram bandeiras aos soldados, que as aceitaram e agitaram de seguida.
“É como o Natal”, disse um dos manifestantes, Fred Mubay, que afirmou que os zimbabueanos estão a sofrer há muito tempo.
O Zimbabué vive pela primeira vez uma divergência aberta entre o Presidente, que dirige o país desde 1980, e o exército.
Três explosões fortes foram ouvidas na noite de terça-feira na capital do Zimbabué, sendo visíveis veículos militares nas ruas de Harare.
A tensão escalou na semana passada depois de Mugabe, de 93 anos, ter despedido o seu vice-Presidente e aliado de longa data, Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, que tinha estreitas ligações com os militares.
Na segunda-feira, o chefe das Forças Armadas, o general Constantino Chiwenga, condenou a demissão do vice-presidente do país, e avisou que o exército poderia “intervir” se não acabasse a “purga” dentro da União Nacional Africana do Zimbabué — Frente Patriótica (Zanu-PF), partido no poder desde a independência do Zimbabué, em 1980.
O partido Zanu-PF, de Mugabe, reagiu no dia seguinte ao aviso sem precedentes, acusando o chefe das Forças Armadas de “conduta de traição”, afirmando que as críticas do general Constantino Chiwenga destinavam-se claramente a perturbar a paz nacional e demonstraram uma conduta de traição, “já que foram feitas para incitar à sublevação”.
Mnangagwa, há muito considerado o delfim do Presidente, foi humilhado e demitido das suas funções e fugiu do país após um braço-de-ferro com a primeira-dama, Grace Mugabe.
Robert Mugabe, de 93 anos, o chefe de Estado mais velho em funções a nível mundial, terá pedido mais tempo no decurso das negociações em curso para a sua saída com dignidade, escreve a AP.
Mas o Presidente do Zimbabué está virtualmente sem poder e sem o apoio da maioria dos seus aliados, e as multidões em Harare saíram à rua para deixar claro que o país está pronto para seguir em frente sem ele, acrescenta.
Apesar de se manterem as preocupações sobre quem vai assumir a liderança e sobre as liberdades que vão existir se os militares ficarem no poder — ou se Mnangagwa liderar um novo Governo — a população aproveitou a rara oportunidade para se pronunciar.
Os manifestantes, num evento aprovado pelos militares, esperam que uma grande adesão acelere o fim oficial do Governo de Mugabe, que é amplamente responsabilizado pelo colapso de uma economia que já foi uma das mais ricas de África.
Das ruas cheias de gente soavam buzinas dos carros, apitos e gritos de alegria, enquanto muitos outros mantinham os seus afazeres.
Veteranos de uma longa guerra de libertação contra o governo minoritário branco, e antigos aliados de Mugabe, participaram na manifestação, assim como ativistas da oposição que enfrentaram a repressão policial sob o Governo de Mugabe.
Num cruzamento, um vendedor entregava um jornal com o título: “Mugabe encurralado”.
Um condutor estava tão contente que saiu do carro em movimento e dançou durante alguns minutos em frente ao veículo, que seguiu vazio lentamente ao longo de uma rua cheia de gente.
Alguns nacionais do Zimbabué caucasianos juntaram-se à multidão na Praça da Liberdade, também conhecida por Praça de Robert Mugabe Square. Brancos e negros abraçaram-se uns aos outros.
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