As duas autarquias algarvias estão separadas da localidade espanhola de Ayamonte pelo rio Guadiana, junto à foz, e as três juntaram-se também ao município espanhol de Cortegana, e anunciaram na semana passada a intenção de apresentar uma candidatura a património imaterial da humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

As vice-presidentes das Câmaras de Castro Marim e Vila Real de Santo António, Filomena Sintra e Conceição Cabrita, respetivamente, disseram à agência Lusa que a origem do projeto, denominado “Uma Raia de Água”, surgiu de um estudo realizado pela Universidade Internacional da Andaluzia.

Filomena Sintra, vice-presidente da Câmara de Castro Marim, explicou que esta universidade desenvolveu “uma série de estudos” sobre o património na zona em que o Guadiana e o seu afluente Chança (que delimita o município de Cortegana de Portugal) separam os dois países e há investigação “já comprovada de que esta linha de fronteira é a mais antiga da Europa e provavelmente do Mundo”.

Trata-se, segundo Filomena Sintra, de um “trabalho essencialmente cultural, mas que assenta num projeto científico, que arrancou do lado de lá da fronteira, e faz sentido que a Universidade do Algarve e os municípios do lado de cá acompanhem”.

“É preciso dar os primeiros passos e reforçar a investigação, conseguir as parcerias certas e apoios científicos que reforcem esta tese e depois, a partir daí, iniciar um processo de pedido de classificação desta fronteira como património imaterial da humanidade”, disse ainda Filomena Sinta, considerando que o projeto pode abrir portas para parcerias e cooperação em áreas como o turismo, a cultura, a agricultura ou ambiente.

A mesma fonte sublinhou que, “com o tratado de Zamora, período de restauração e invasões, esta fronteira foi sempre a mesma” e manifestou o desejo de a inscrição da candidatura, que “dependerá do andamento dos trabalhos”, poder ser uma realidade dentro de um ano.

Conceição Cabrita, vice-presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, também situou a origem do projeto “num estudo feito por um professor catedrático da universidade de Sevilha sobre a comemoração dos 750 anos do tratado de Badajoz” e que produziu investigação que referencia a fronteira luso-espanhola delimitada pelos rios Guadiana e Chança como a mais antiga da Europa e uma das mais antigas do Mundo.

“[A parceria para esta candidatura] Foi chamada uma ‘Raia de Água’, estamos na foz do Guadiana, é onde o rio desemboca no mar e para mim é um ponto de partida”, afirmou Conceição Cabrita, considerando que é necessário “valorizar cada vez mais o nosso território” e “dar um valor importante a nível cultural e de património” para que Vila Real de Santo António, que “é sempre conhecida por sol, praia e gastronomia”, possa “valorizar” outros aspetos como o “património e eventos culturais”.

“Vamos candidatarmo-nos a património da humanidade, no âmbito da Eurocidade

, e todos os municípios [com relação com esta fronteira] que a partir daqui se queiram associar, podem fazê-lo. Vila Real, Castro Marim, Ayamonte e Cortegana serão os primeiros a integrar este projeto, que prevejo possa ser um projeto muito importante”, frisou a autarca, referindo-se a uma estrutura administrativa já criada com municípios dos dois lados da fronteira e com capacidade para conduzir o processo.