O vírus é o mesmo, mas o combate está a ser feito de formas diferentes, dependendo, sobretudo, não só dos meios de cada governo, mas da cultura e da história de cada Estado. Hoje visitamos a China, que leva semanas de avanço no combate ao vírus, e Angola, que está, nas palavras de quem lá vive, "um mês atrasada" em relação à Europa.

César Sousa - Shenzhen, China

"Estou na minha sala e da janela consigo ver a praia. As praias abriram ontem, aqui são as férias do trabalhador, de 1 a 5 de Maio ninguém trabalha. E já está muita gente na praia, mas menos do que o habitual". Menos do que o habitual? "Sim, devem estar cerca de 30 mil pessoas", responde.

"Sim, devem estar cerca de 30 mil pessoas"

César Sousa, é professor de ténis e vive há mais de quatro anos em Shenzhen, cidade que liga Hong Kong ao continente chinês. Em Lisboa passa pouco das nove da manhã, mas na província de Guangdong já passa das 16 horas.

Apesar do calor, ele e a mulher preferem ficar em casa por estes dias, "é mais seguro". E esta é a sua maior preocupação. "Dia 25 de maio vamos recomeçar a ir para a escola. Sou treinador numa escola secundária, onde estou responsável por uma equipa de ténis, e dia 25 de maio temos de regressar. Já ouvi dizer que todos os alunos, professores e staff terão de ser submetidos ao teste. Somos cerca de mil ao todo e se um estiver contaminado, muito facilmente o vírus será propagado outra vez", afirma.

Na China "voltou tudo um pouco à normalidade". Mas é uma normalidade ainda anormal. A lotação da praia que César vê da janela é de 80 mil pessoas e, nesta altura, noutra época, estaria a abarrotar. Além disso, agora à entrada da praia é medida a temperatura a todos os banhistas.

As escolas começaram a abrir dia 27 de abril, mas faseadamente. Primeiro abriram as escolas básicas, dentro de uma semana abrirão os infantários e as escolas primárias e, quase no final do mês, o ensino secundário. César concorda com a medida, porque "dá para ver o progresso", mas receia que "depois destas férias de maio venha outra vaga" de Covid-19. "Nós podemos sair de casa, e estou aqui a olhar para a praia, mas quando é verão, quando são férias, esta zona turística tem muita afluência, as ruas estão cheias de pessoas, e o meu medo é que tudo volte para trás e o número de infetados volte a subir", diz. Por isso tem dificuldade em compreender que as aulas recomecem a 25 de maio, quando no 20 de junho já estamos outra vez de férias. Não sei se vale a pena, por 15 dias úteis, arriscar a saúde de mil pessoas", admite.

Apesar do número de pessoas na rua, os cuidados são muitos por parte das autoridades e da população. César ouviu falar em Covid-19 pela primeira vez no dia 5 de janeiro. "Estava a dar uma aula particular a um aluno, que é também meu colega e atleta, e, naquele dia, estava com espirros e um pouco de tosse - deve ter sido apenas uma gripezinha, tinha vindo de Portugal e a diferença de temperaturas causou uma constipação - e ele disse: "cuidado, porque agora anda aí um vírus que está a matar muita gente na zona de Wuhan". Fiquei surpreso, fui pesquisar, e vi que havia o tal vírus. Mas só começou a haver notícias a partir do dia 15 de janeiro", conta.

Covid-19 pelos olhos de portugueses espalhados pelo mundo

No primeiro artigo desta série contámos a história de Teresa Coutinho, a viver em Espanha, de Francisco Chuva, na Alemanha, e de Dulce Vilaça, na Suécia.

Teresa Coutinho, funcionária do Parlamento Europeu:

"Lembro-me de que no dia em que o primeiro-ministro espanhol [Pedro Sánchez] anunciou, às oito da noite, que iam fechar as escolas, foi uma explosão de alegria enorme. Depois começaram a pensar melhor, sem escola iam deixar de estar com os amigos, e esse foi o reverso da medalha"

Francisco Chuva, engenheiro

"Este é um país de velhinhos, e os estrangeiros são como eu, emigrantes jovens. Uma grande parte da população alemã está muito envelhecida. E esses não saem de casa, muitos aumentam o isolamento das janelas e das portas para garantir a sua segurança, estão mais assustados. Às vezes, na ida ao supermercado, vejo na rua senhores mais velhos, e eles preferem atravessar a estrada do que cruzarem-se com uma pessoa jovem"

Dulce Vilaça, engenheira

"Na Suécia as pessoas só se cumprimentam com um beijo em duas situações: quando se conhecem pela primeira vez ou quando têm a certeza de que nunca mais se vão ver"

Um relato que pode ler na íntegra aqui.

Seguimos para a China e para Angola, com os relatos do César Sousa, em Shenzen, e Álvaro Mendonça, em Luanda.

César Sousa, professor de ténis

"Quando saímos de casa o segurança mede-nos a temperatura, que volta a ser medida à entrada do supermercado. Depois, se vamos à farmácia comprar qualquer coisa, medem-nos a temperatura ... Num espaço de 30 minutos às vezes mediam-nos a temperatura dez vezes, e isso também é bom"

Álvaro Mendonça, vice-presidente de uma empresa de construção

"A máscara tornou-se quase imediatamente um acessório de moda, porque os angolanos são muito vaidosos e elegantes, gostam de andar todos "pipis". Só que, muitas vezes, não era usada para tapar a boca e o nariz"

Um relato que pode ler na íntegra aqui.

Dia 25 de janeiro, dia de Ano Novo Chinês, o país fechou. Os transportes pararam, as fronteiras fecharam, em Wuhan, onde tudo começou ninguém entrava ou saía, e o uso de máscara passou a ser obrigatório para todos. Mesmo. "Aqui há uma coisa boa para o controlo do uso de máscara: todos os condomínios, apartamentos, casas pertencem a um grupo de segurança e são também controlados pela polícia. Se estamos sem máscara o segurança não nos vai deixar sair o portão, temos de voltar para trás para a colocar", explica.

"Se estamos sem máscara o segurança não nos vai deixar sair o portão, temos de voltar para trás para a colocar"

E nota-se a diferença: antes do SARS-CoV-2 apenas cerca de 40% da população usava máscara - "não tanto aqui no sul, porque o clima é tropical e a poluição não é dramática, não há fábricas". Agora a máscara é usada por 100% da população. "No início foi um pouco frustrante", recorda César, "usar a máscara o tempo todo, aquele calor, às vezes parecia que estava a ficar doente porque não conseguia respirar, mas passado uma semana lá me adaptei". Adaptámo-nos.

Os preços das máscaras também sofreram alterações, mas por pouco tempo. "A primeira vez que comprei máscara, há mais de três meses, foram caras, porque também não havia muita produção. Paguei 300 RMB [moeda chinesa] por 150 máscaras, à volta de 1 euro cada. Agora já arranjo por cerca de 20 ou 30 cêntimos, mas na altura preferi pagar mais um bocado do que arriscar".

César Sousa nunca foi testado. E não conhece ninguém que tenha estado infetado."Não conheço ninguém aqui, nenhum colega, que estivesse estado infetado com o vírus, enquanto em Portugal tenho colegas que já estiveram infetados. Mas, claro, o círculo em Portugal é muito menor, conhecemos mais gente", justifica. "Não saí de casa e estive sempre na minha área de residência, mas tenho amigos que vieram dos países de residência e quando chegaram à China tiveram de fazer o teste. Todas as pessoas que chegam à China têm de fazer o teste e ficar 15 dias de quarentena. Em Guangzhou é que houve um problema que envolveu pessoas de vários países africanos e que não agradou ao governo, então seguiram uma linha um pouco racial, a policia andou a pedir a todos eles se para se deslocarem aos hospitais para fazerem os testes".

Em Shenzhen foi registado apenas um caso do novo coronavírus. "Foi no Sheraton, um turista foi diagnosticado positivo e ficou no hotel 15 dias de quarentena. Foi tratado e recuperou", lembra. "A situação em Shenzhen é bastante positiva, porque fecharam as fronteiras com Hong Kong, não se podia sair ou entrar. Na altura dizia-se que a fronteira ia estar fechada até dia 1 de maio, mas ainda não reabriu, e penso que as fronteiras vão continuar fechadas mais um mês e meio ou dois, o que seria bom, porque vêm aí as férias de Verão, isto é uma zona bastante turística e Hong Kong também tem grande afluência, podia haver uma segunda onda".

Além da máscara, passou a haver controlo de temperatura. "Quando saímos de casa o segurança mede-nos a temperatura, que volta a ser medida à entrada do supermercado. Depois, se vamos à farmácia comprar qualquer coisa, medem-nos a temperatura ... Num espaço de 30 minutos às vezes mediam-nos a temperatura dez vezes, e isso também é bom".

Ao contrário do que acontece em Portugal, ninguém se importa com a medida, não abre a Constituição ou fala de ataques à liberdade. "Isso é uma coisa muito portuguesinha"

Ali, ao contrário do que acontece em Portugal, ninguém se importa com a medida, não abre a Constituição ou fala de ataques à liberdade. "Isso é uma coisa muito portuguesinha", responde. "Aqui na China temos liberdade. Agora, o português gosta de ser um bocadinho do contra até à última, ao contrário do que devia ser. Custa-nos aceitar e adaptar a novas regras... O que o governo quer é que as pessoas fiquem em casa e se cuidem. Nos tempos do nossos avós pediram-lhes para ir para a guerra, a nós estão a pedir-nos para ficar em casa. Acho preferível ficar em casa a ir para a guerra".

Na China, há muito que a população se habituou ao controlo. "Há câmaras de vigilância por todo o lado, penso que 95% do país está sob vigilância. Estou aqui no topo da montanha, num quinto andar, mas seguramente deverá haver uma câmara qualquer que me consiga ver. Sinto um pouco falta da privacidade quando estamos fora, numa esplanada, por exemplo, mas em qualquer sítio que estejamos estamos ser filmados, isso é garantido", desabafa. O WeChat, que consulta para ver a evolução do número de infetados e mortos no país, "também é uma plataforma controlada pelo governo, se quiserem ter acesso a informações, têm acesso aos nossos dados. Já estive em muitos países, cerca de 30, e acho sinceramente que a China é dos países mais seguros do mundo".

E chegamos à confiança nos números divulgados pelo governo chinês: oficialmente, a China registou até hoje menos de 84.500 casos e menos de 5 mil mortos. É o 11.º país mais afetado, embora tenha sido lá que tudo começou. "Há muita gente que diz que omitiram informação desde o início. No princípio acreditei nos números, mas depois vi uns documentários e uns médicos a dizer que, numa semana, basicamente todos os dias estavam a sair camiões em Wuhan com contentores, cada um com cerca de 2500 mortos. Pus-me a fazer contas e já passava dos 10 mil. São incertezas, mas nem quero muito saber... Eu estou seguro, a minha mulher está segura, estamos aqui seguros em casa".

"No princípio acreditei nos números, mas depois vi uns documentários e uns médicos a dizer que, numa semana, basicamente todos os dias estavam a sair camiões em Wuhan com contentores, cada um com cerca de 2500 mortos. Pus-me a fazer contas e já passava dos 10 mil"

De toda a maneira, a população parece estar do lado do governo e César também acredita que fizeram um bom trabalho. "Em Wuhan havia drones para identificar qualquer movimento anormal e alguém que estivesse a infringir as leis. E implementaram uma lei que dava pena de morte a quem propositadamente quisesse propagar o vírus, porque no início havia vídeos a circular com gente a cuspir nos botões de elevadores e coisas deste género". Cortaram o mal pela raiz. "Penso que é preciso uma vacina para realmente se controlar tudo", remata.

E como funciona o sistema de saúde chinês? "Felizmente, só tive de ir uma vez ou duas ao hospital. É bastante organizado, é barato e... para mim é gratuito, porque estou pela empresa, mas quando estava por conta própria e pagava, uma consulta, mais testes médicos, raio-X aos joelhos e tornozelos, para ver se estava tudo em ordem, era cerca de 80 euros. Por isto, nos Estados Unidos pagaria acima de mil euros".

Quanto à economia, "aqui está estável, onde se perdeu muito foi nas as exportações, porque muitos países não estão a aceitar produtos vindos da China". Ao nível dos produtos de saúde, "a 28 de abril saiu uma lei que diz que os produtos têm de estar homologados pelas autoridades de saúde e só depois podem sair. Isto porque houve uma rivalidade com os EUA, Trump veio dizer que os produtos chineses não eram de qualidade e o governo chinês decidiu impor mais umas regras", explica o tenista.

De resto, os restaurantes foram das atividades mais afectadas. "Como os restaurantes estiveram fechados um mês e meio, alguns nem reabriram. Na China o nível de vida é barato, os produtos são baratos, mas as rendas são altas em relação aos salários e esse foi um dos principais motivos por que não conseguiram reabrir. Aqui na zona de Guangdong o governo decidiu que o comércio podia pagar aos proprietários metade do valor das rendas nos meses de fevereiro, março e abril, se estivessem a pagar, por exemplo, 3 mil de renda, passariam a pagar 1500. Mas, mesmo assim, sem receitas é complicado". Outro setor muito afetado, na China como em qualquer parte do mundo, é a aviação. No entanto, "quando as principais empresas têm alguma quebra, o governo apoia essas empresas, injeta capital".

César confessa que tem "sempre em vista voltar a Portugal", mas "as diferenças salariais são muito grandes". Muito grandes significa "uma grandeza de mil por cento. Trabalho pouquíssimas horas e ainda estou ocupado com as minhas aulas particulares, ou seja, consigo mais remuneração. Consegui adaptar-me bem ao sistema de trabalho aqui, tenho um grupo de amigos, casei em Hong Kong o ano passado e estou estabelecido aqui. Abrir um negócio é fácil, temos de ter um parceiro chinês e é difícil é arranjar um parceiro de negócio de confiança, tenho colegas que fizeram parcerias e correu mal. Mas sou empregado, não sou patrão, e acho que nesta altura quem está a sofrer mais são os patrões", confessa.

créditos: Lusa

Álvaro de Mendonça - Luanda, Angola

"Luanda está um mês atrasada em relação à Europa em matéria de novo coronavírus". Esta é a opinião Álvaro de Mendonça, vice-presidente de uma empresa de construção. O país regista agora 35 infetados, dois mortos e 11 recuperados.

"Luanda está um mês atrasada em relação à Europa em matéria de novo coronavírus"

A vantagem deste desfasamento é poder utilizar a experiência de outros países como modelo, mas há, na opinião de Álvaro, três caraterísticas de África que podem funcionar a seu favor: "O clima quente, que atenua a propagação do vírus, o facto de quase não haver turismo e de a economia angolana não ser uma economia aberta e, por último, a demografia, cerca de 70% da população ter menos de 30 anos".

Com um baixo número de infetados ou de casos detetados, Angola beneficia ainda de um apoio muito direto da Organização Mundial de Saúde.

Para já, foi imposta ainda em abril uma cerca sanitária a Luanda, a única cidade com um aeroporto em funcionamento, e todas as entradas e saídas são controladas pelas autoridades, já depois da suspensão da circulação de pessoas em todo o território, que veio com a entrada em vigor do estado de emergência, decretado pelo presidente João Lourenço.

Mesmo com todas as restrições, Luanda está longe de ser uma cidade deserta. O facto não é de estranhar, já que é na capital que se concentra mais de um terço da população total de Angola que, no último censo, era de aproximadamente 25 milhões de habitantes.

Angola, como o resto da África, está habituada a lidar com doenças infecciosas graves, como a malária, a sida ou o vírus Ébola, pelo que, se para alguns esta é uma gripe chinesa, para uma fatia dos angolanos esta é uma gripe europeia, uma doença de brancos, diz Álvaro. Como a política de testes tem sido parca, perto de 3 mil até ao momento, também ainda não foi possível desmistificar a situação.

De resto, vive-se em Luanda a liberdade de circulação permitida pela lei, ou seja, condicionada a um período entre as 5:30 e as 7:00 da manhã e entre as 17:30 e as 19:00 horas, excepção feita para os profissionais de saúde e para aqueles que exercem voluntariado ou para as trocas de mercadorias.

Manter a população em casa, no entanto, torna-se uma tarefa quase impossível, por uma questão económica, social e cultural. "É difícil confinar, por exemplo, vendedores ambulantes", lembra Álvaro. É preciso ter em conta a pobreza em que vive a maioria da população, sem acesso a água ou saneamento básico. Muitos vivem da cesta básica (milho, trigo, arroz, alguns produtos de higiene e saúde) e os mercados informais são incontornáveis. Com uma grande parte das trocas comerciais dependentes de mercados paralelos e tanta gente a viver nos musseques, bairros de construção precária, estes circuitos são potenciais focos de contaminação que o governo não consegue conter, já que aqueles que assim subsistem não têm alternativa. É uma questão de sobrevivência.

A regra, nestes mercados informais, é não perguntar de onde vem o que quer que seja. Era, porque agora as regras são outras. A verdade é que alguns mercados foram encerrados pelas administrações municipais, que alegaram motivos de segurança devido ao desrespeito das normas fixadas, agora muito mais apartadas em termos de horários de funcionamento e lotação, por exemplo. Descontente, a população ameaça revoltar-se.

Com mais ou menos críticas, maior ou menos contestação, as medidas de contenção vão sendo decretadas, entre elas a quarentena institucional, para a qual foram disponibilizados três hotéis locais. O distanciamento social também existe, embora difícil de fazer cumprir. "Basta imaginar as paragens de táxi, os ajuntamentos para as caixas multibanco ou transportes públicos, que deviam estar limitados a um terço da lotação. Não é possível", garante Álvaro.

Por outro lado, "a máscara tornou-se quase imediatamente um acessório de moda, porque os angolanos são muito vaidosos e elegantes, gostam de andar todos "pipis". Só que, muitas vezes, não era usada para tapar a boca e o nariz", falhando completamente o propósito. Hoje, o uso é obrigatório.

"a máscara tornou-se quase imediatamente um acessório de moda, porque os angolanos são muito vaidosos e elegantes, gostam de andar todos "pipis"

Na sua empresa, e enquanto vice-presidente, Álvaro de Mendonça também tem limitações e sente dificuldades. Agora confinado, reduziu os contactos diretos ao máximo, embora continue a visitar obras e terrenos. Numa empresa com cerca de 700 empregados, mais de 80 portugueses, os funcionários começam agora a sobrar, já que, por exemplo, "uma obra não pode ter actualmente mais de 50 pessoas, por questões sanitárias", diz. Por outro lado, houve a necessidade de repatriar pessoas - mesmo com os voos para Portugal condicionados, devem ter chegado em abril entre 3500 a 4000 pessoas - que não quiseram continuar em Luanda, por temer pela sua saúde, do corpo e da carteira.

Nesta matéria, Álvaro, que está no grupo de risco - tem 60 anos (em Angola é esta a idade definida), é asmático e há 20 anos foi operado a um pulmão - lembra que "em Luanda existem bons hospitais e boas redes de clínicas privadas, bem equipado e com bons médicos, sobretudo cubanos e russos. No entanto, servem apenas 1% da população, aqueles que têm dinheiro para pagar". Se tanto.

"No supermercado também não falta nada e até me transformei numa fada do lar, ao ter de realizar tarefas domésticas como tratar da roupa ou cozinhar - e já não faço só congelados", gaba-se. Os preços, tirando a já habitual oscilação nos bens importados por causa do câmbio, não subiram muito, "até porque o crime de especulação é punido com pena de prisão".

Por todos estes motivos, Álvaro de Mendonça não pensou em regressar a Portugal, onde nunca conseguiria o nível de vida que tem em Luanda. "Felizmente, poucas semanas antes da crise tinha estado de férias na Namíbia com os meus filhos", o que ajuda a ultrapassar as saudades.