Intitulado “233-SOS-Makers”, denominação que integra o indicativo de telefone fixo da Figueira da Foz e a referência aos artesãos dos tempos modernos (maker’s), que usam impressoras a três dimensões (3D) para dar corpo aos seus projetos, o grupo nasceu no final de abril de uma ideia colaborativa de David, Marco e Luís, que já integravam o movimento nacional que está a fazer produção artesanal daqueles equipamentos.
Ouvido pela agência Lusa, David Sopas, perito em segurança informática, por estes dias transformado em ativista social e um dos mentores do grupo da Figueira da Foz, explicou que os três amigos chegaram a produzir centenas de viseiras de proteção, no pico da pandemia de covid-19, para várias instituições, que foram fornecidas pelo movimento que tem milhares de utilizadores.
“Agora, já não faz sentido ser em grande número, porque as empresas que trabalham com plásticos e outros materiais têm toda a legitimidade para o fazer e devem fazê-lo. Porque o comércio precisa de vender e a economia tem de avançar”, defendeu David Sopas.
O projeto do “233-SOS-Makers” passou, assim, por produzir em pequenas quantidades, a nível local, com a diferença assente numa ideia de Patrícia Oliveira, mulher de David: pedirem bens alimentares em troca das viseiras, para os entregarem a uma instituição, a C.A.S.A., que dá apoio a cidadãos sem-abrigo.
As viseiras, mas também os ‘salva-orelhas’ – objeto colocado na parte de trás da cabeça, que permite prender os elásticos das máscaras – “são feitos em pequenas quantidades e entregues a pessoas que necessitem mesmo deles, como profissionais que estão na linha da frente do combate à pandemia ou doentes oncológicos que tenham dificuldades em adquirir os equipamentos”, entre outros.
“Em troca, pedimos alimentos e as pessoas dão o que puderem, não há uma tabela. Mas a Figueira da Foz é uma cidade extremamente solidária, já aconteceu por duas presilhas para as orelhas nos darem três volumes de pacotes de leite”, observou David Sopas.
Na página criada na rede social Facebook, o grupo de ‘maker’s’ vai atualizando o número de géneros alimentares recebidos e entregues à instituição de apoio aos sem-abrigo, que, na terça-feira, ascendiam a quase 300 unidades, com destaque para o leite, conservas, bolachas e cereais.
E se uma clínica dentária, que requereu equipamentos de proteção para os seus profissionais, entregou em troca géneros alimentícios “porque o pode fazer”, a instituições como os Bombeiros Voluntários ou delegações da Cruz Vermelha do concelho da Figueira da Foz aqueles foram entregues sem a ‘regra’ da troca por bens alimentares, “porque nesses casos não faz sentido pedir nada, estamos a ajudar quem a todos ajuda”, precisou.
“Mas também houve quem nos pedisse 100 viseiras e eu recomendei uma empresa que as está a fazer e precisa de produzir. Não é a minha área de negócio, a empresa onde trabalho [em segurança informática e agora a partir de casa] está em funcionamento e não recorreu ao ‘lay off'”, disse David Sopas.
Por outro lado, o processo de produção artesanal, explicou, acaba por ser algo moroso e privilegia a qualidade em detrimento da rapidez.
“Ao início, quando não havia equipamentos em lado nenhum, uma viseira fazia-se em 40 minutos. Agora, é feita com outro cuidado e já demora quase duas horas. Montá-las com os devidos cuidados é mais complicado que a própria impressão 3D, temos de desinfetar muito bem os acetatos e arranjar acetatos com a grossura indicada, o que às vezes não é fácil”, notou o perito informático.
Depois de três semanas de atividade, o projeto criado na Figueira da Foz, no litoral do distrito de Coimbra, já teve eco nas Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, onde a ideia da troca por bens alimentares foi adotada por uma instituição social, com a colaboração do grupo “233-SOS-Makers”.
Segundo David Sopas, a instituição em causa “apoia 75 casais, faz sopa todos os dias, mas já tem falta de batatas e outros produtos”.
“Esta semana estamos a fazer 100 viseiras para lhes entregar, para que as possam trocar pelos géneros alimentícios de que necessitam. No sábado, vamos entregá-las, saímos da Figueira com a esperança de sorrisos nas Caldas da Rainha”, rematou.
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