Cascata de Intervenções e Plano de Parto

Este é talvez um dos temas mais importantes e mais interessantes deste livro. Mas o que é isto da Cascata de Intervenções?, perguntam vocês. Na realidade, a cascata de intervenções acaba por ser, muitas vezes, uma espécie de bola mágica na qual conseguimos adivinhar o futuro e como tudo se vai desenrolar. Neste contexto, é muito importante explicarmos a influência e a importância desta cascata de intervenções e a forma como ela, geralmente, se desenrola quando aplicada. Uma ação aqui terá consequência garantida ali e o efeito bola de neve acontece.

A verdade é que uma mulher que vai para hospital na data prevista de parto — por norma às 40 semanas —, não está com indícios de início de trabalho de parto, mas é‑lhe administrada oxitocina sintética, vai ter contrações mecânicas muito mais fortes do que aquelas contrações que seriam as chamadas fisiológicas e/ou naturais. Tudo isto também vai fazer com que a mulher peça ou sinta que precise de uma anestesia ou de ajuda para lidar com a dor, a famosa epidural, porque essas contrações «mecânicas» são muito mais dolorosas e descontroladas. O pedido de epidural faz com que a mulher acabe por ter um comportamento no parto diferente e o próprio bebé acabe por ter também alguns componentes químicos envolvidos no seu nascimento, que podem influenciar determinado tipo de acontecimentos no pós‑parto. Já para não falar de quando o desfecho do parto acaba por ser a cesariana. É essencial compreendermos na íntegra as consequências que cada procedimento poderá ter. É aqui que entra o plano de parto. Se antigamente até parecia mal as famílias chegarem ao parto com exigências, hoje — felizmente — há um maior empoderamento e mais informação para que possamos de forma clara, direta e aberta falar nas nossas expectativas para o dia do parto e para o tipo de parto/intervenções que queremos. No fundo, é uma espécie de checklist criada entre as grávidas, os companheiros e os obstetras, na qual assumem de forma expressa as suas preferências sobre as mais variadas situações, como, por exemplo:

Livro: "Nada Nos Prepara Para Sermos Pais"

Autor: Isabel Costa de Sousa

Editora: Contraponto

Data de Lançamento: 19 de outubro de 2023

Preço: € 17,70

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  • Condições do ambiente em que vai ser realizado o parto, como a iluminação, a música e a realização de fotos e/ou vídeos;
  • Acompanhantes que desejem que estejam presentes;
  • Intervenções médicas que não desejam fazer, como é o caso da episiotomia;
  • Rutura artificial da bolsa amniótica;
  • A posição que querem adotar para a expulsão do bebé;
  • Quem corta o cordão umbilical;
  • As intervenções autorizadas a realizar no recém‑nascido;
  • O contacto pele a pele;
  • O momento em que desejam começar a amamentar;
  • E outras que queiram considerar.

O parto é um momento tão íntimo que faz todo o sentido que aquilo que desejam seja previamente debatido e clarificado o mais possível, para que na «hora H» não tenham de lidar com imprevistos e (in)decisões. Convém ressalvar sempre, porém, que a segurança da mãe e do bebé prevalecem em casos de emergência. No entanto, os estudos mostram que um plano de parto respeitado contribui para uma experiência mais harmoniosa e gratificante.

Podemos, então, concluir que a cascata de intervenções e o plano de parto têm uma importância significativa para a literacia da mulher. O plano de parto deve ser pensado com muito rigor e deve ser elaborado com profissionais que tenham muito conhecimento, porque há vários fatores que devem ser considerados. Não devem nunca ter vergonha de entregar o vosso plano de parto, o que só demonstra que são vocês as personagens principais naquele momento.