A situação política pós-eleições regionais foi introduzida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros no debate na especialidade do Orçamento do Estado para 2021, depois de José Cotrim Figueiredo (IL) o ter criticado por “tibieza e contemporização”.
“Porque somos tão fofinhos com ditadores?”, questionou o deputado, aludindo nomeadamente à China, questão que já tinha sido trazida para o debate pelo PAN.
“Esta gravata é açoriana”, disse Augusto Santos Silva na resposta. “E eu não pertenço a nenhum partido que esteja encostado a quem gosta de ditadores e tiranos para efeitos apenas de garantir algum apoio governamental”, acrescentou.
A resposta, e a alusão ao acordo parlamentar nos Açores, suscitou protestos das bancadas da direita, que levaram o presidente da Comissão de Orçamento e Finanças a pedir calma aos deputados.
“Como veem pelas minhas palavras e pela vossa reação, eu não sou mesmo fofinho com tiranos, nem com vizinhos circunstanciais que se encostem a primos de amigos de tiranos para efeitos de provocar mudanças”, insistiu o ministro ao retomar a resposta, aplaudido pela bancada do PS.
João Cotrim de Figueiredo denunciou as declarações do ministro como “entrada pela esquerda baixa” e contrapôs afirmando não pertencer “a nenhum partido que tenha assinado [um acordo] com nenhum outro partido que pertença a um grupo parlamentar europeu que já teve como líder um ex-membro da Stasi”, a polícia política da antiga Alemanha de leste.
“Portanto aí estou bastante mais à vontade que o senhor ministro”, acrescentou o deputado, que se referia na acusação ao PCP.
A questão sobre a China tinha sido introduzida no debate pelo deputado André Silva (PAN), que acusou o Governo de seguir “uma lógica de dois pesos e duas medidas” em matéria de democracia e direitos humanos, criticando a repressão na Venezuela ou na Bielorrússia, mas mantendo uma “passividade” em relação a atropelos dos direitos humanos pela China.
Augusto Santos Silva recusou uma tal lógica, afirmando que Portugal “tem uma única política externa e um único padrão de avaliação”.
O ministro evocou, a propósito da situação dos direitos humanos na China, que Portugal subscreveu, na Assembleia-Geral da ONU, em setembro, a declaração da União Europeia “especificamente crítica”.
Santos Silva chamou por outro lado a atenção para a existência de “120 mil ou 130 mil cidadãos portugueses a residir na China”, cujos interesses são defendidos pelo Governo “com determinação”, mas “também através de pontes” com as autoridades chinesas.
“Deixe a política externa tratar com a subtileza, a inteligência e a determinação que a caracteriza”, disse o ministro a André Silva.
(Notícia atualizada às 12h47)
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