O Extinction Rebellion (XR), Rebelião de Extinção em português, apresenta-se como um movimento internacional com motivações ecológicas, que tem desenvolvido “ações diretas não-violentas” em mais de 40 países, tendo começado no norte da Europa e espalhado a sua atividade pelos países do sul, como Portugal e Espanha.
O momento mais mediático da presença do XR em Portugal aconteceu na segunda-feira, quando dois elementos interromperam o discurso de António Costa no jantar comemorativo do 46º aniversário do PS.
O episódio durou apenas 30 segundos, até os jovens serem interrompidos pelos seguranças, depois de terem conseguido retirar o microfone ao secretário-geral socialista e de terem mostrado um cartaz onde se lia “Mais aviões? Só a brincar”, como forma de protesto contra a construção do aeroporto do Montijo.
“Não conseguimos (…) que o primeiro-ministro nos desse a palavra para falarmos a verdade sobre as consequências ecológicas e sociais do aumento do aeroporto da Portela e a construção de um novo aeroporto no Montijo”, lamentou-se o Extinction Rebellion Portugal, nas redes sociais, prometendo novas ações de luta para breve.
A verdade é que o incidente na festa do PS foi o quinto momento de atividade do XR Portugal e fez parte de um plano que já teve outras cinco intervenções, incluindo a invasão do estúdio da estação televisiva CMTV, uma aparição numa festa de aniversário da refinaria Galp em Matosinhos ou a montagem de uma rede de plástico à porta da empresa multinacional Nestlé, em Lisboa.
“O maior crime é a inação por parte dos governos e empresas”, disse à Lusa Sinan Eden, um dos coordenadores dos ativistas XR Portugal, para justificar a ação na festa socialista, onde o alvo principal era o ex-ministro Pedro Marques, agora cabeça-de-lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu, que já tinha visto um seu cartaz ser vandalizado, por ter sido responsável pelo novo contrato para o aeroporto do Montijo.
Um pouco por toda a Europa, o XR tem aproveitado a alavancagem de atenção mediática provocada por acontecimentos como o debate sobre o ‘Brexit’ ou a pré-campanha para as eleições europeias, para conseguirem mais visibilidade.
A forte mobilização nas ruas de Londres, onde mais de mil ativistas foram detidos, depois de terem conseguido controlar ruas e praças importantes da cidade, ou os bloqueios em Paris, na passada sexta-feira, contra “a República dos poluidores”, foram momentos de elevada atenção pública do XR.
Em países como a Inglaterra, a França ou a Alemanha, listas candidatas por movimentos associados aos Verdes têm tirado proveito do XR e esperam capitalizar este surgimento de contestação nas eleições para o Parlamento Europeu, no final de maio.
São sobretudo os partidos e movimentos Verdes do centro e norte da Europa que têm capitalizado a notoriedade das ações do XR, sendo menos visível a ligação destas ações de protestos aos Verdes do sul da Europa, como escreveu, num artigo para o jornal francês Mediapart, Ludovic Lamant, um dos jornalistas que tem acompanhado de perto a atividade do XR na Europa.
“Uma dificuldade é óbvia: a quase inexistência deles (Verdes) no sul da Europa (Itália, Espanha, Grécia) e no oriente – mesmo que uma nova esquerda polaca, radicalmente verde, pareça emergir”, escreveu esta semana Lamant, no Mediapart.
Mas o Extinction Rebellion tem dado sinais de grande vitalidade em Itália e em Espanha, com ações não-violentas com grande visibilidade mediática, como sejam manifestações pacíficas nas imediações dos estúdios da RTVE em Madrid, na passada segunda-feira, ou ‘flah-mob’ (manifestações espontâneas) que o XR Itália realizou na passada semana no bairro Pigneto, em Roma.
Em Portugal, o plano inicial de ação do XR tinha apenas sete iniciativas, mas os ativistas já realizaram dez, prolongando a “semana internacional de rebelião”, que ocorreu 15 e 21 de abril, e que incluiu ações em áreas tão diversas como a energia, transportes, alimentação, decisões políticas, moda, plástico e resíduos.
O XR Portugal diz que está, neste momento, a fazer “uma reflexão interna” para decidir novos protestos, que podem surgir a qualquer momento, em qualquer lugar.
“O Extinction Rebellion está a crescer, a greve climática estudantil está a crescer”, afirmou à Lusa Sinan Eden.
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