Um navio de pesca português tem pelo menos 12 tripulantes infetados e com sintomas de covid-19. Um deles já está com dificuldades respiratórias, sendo no total sete os que inspiram mais atenção. O navio, o Princesa Santa Joana, registado em Aveiro, estava ao largo dos grandes bancos da Terra Nova com 39 pessoas a bordo.

Durante a tarde deste sábado, a Marinha Portuguesa anunciou que o Princesa Santa Joana vai desembarcar uma das pessoas, cujo estado clínico "inspira maiores cuidados", para que seja "observada no hospital". O navio dirige-se para Saint John, na costa canadiana.

Antes, ao início da tarde deste sábado, após avaliação da situação sanitária, as autoridades portuguesas pediram ao capitão que se aproximasse da cidade de Saint John. Apesar de a embarcação já estar dentro do raio de ação dos meios de resgate canadianos, o objetivo é diminuir ainda mais a distância caso seja necessário resgatar algum dos tripulantes.

Às 13:30 deste sábado, o navio estava a cerca de 350 quilómetros de Saint John.

Ainda assim, sem equipa de saúde ou acesso a cuidados apropriados, a bordo do Princesa Santa Joana a ansiedade tem crescido nos últimos dias, perante a inoperância do armador, José Taveira, da Gafanha da Nazaré, que ainda não ordenou o regresso da embarcação a Aveiro.

Segundo fonte do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa (MRCC), da Marinha Portuguesa, a situação sanitária do navio está a ser acompanhada quer pelas autoridades portuguesas, quer pelas canadianas. Também o Centro de Orientação de Doentes Urgentes dedicado ao mar está a fazer a avaliação clínica do navio.

"Isto já tem alguns dias. O navio está a ser permanentemente acompanhado, são estabelecidos contactos com os centros de busca e salvamento e também com o centro que faz a avaliação da situação sanitária dos doentes", explica fonte oficial ao SAPO24.

A aproximação do navio a Saint John está a ser feita pelos próprios meios do navio e serve para acautelar uma eventual necessidade de resgate. Levar o navio para um porto, ou fazê-lo regressar a Aveiro, depende do capitão do Princesa Santa Joana, ou do seu armador, José Taveira, com quem o SAPO24 não conseguiu ainda entrar em contacto.

Ou seja, a menos que a situação sanitária se deteriore, a decisão de retirar a tripulação cabe ou ao armador (dono do barco, que está em terra), ou ao capitão do navio (quem o comanda a bordo).

"No que respeita à monitorização do navio, dos organismos com responsabilidade da salvaguarda da vida no mar, estamos a acompanhar", acrescenta o MRCC da Marinha Portuguesa. "No que respeita ao ambiente de bordo ou aquilo que o comandante vai ou não fazer, passa pelo armador", diz ainda o MRCC.

No relato enviado às autoridades portuguesas, e a que o SAPO24 teve acesso, a situação a bordo do Princesa Santa Joana é descrita este sábado como “muito tensa”.

“Não existem equipas de limpeza de balneários, não há cozinheiro, os tripulantes na tentativa de comerem, servem-se com o que encontram, junto do paiol de mantimentos.”

“O capitão parece perdido face ao desenrolar dos acontecimentos”, acrescenta o documento.

Com o imediato que o reveza nos turnos também doente, o capitão será a única pessoa a bordo capaz de fazer regressar o navio de 90 metros ao porto de Aveiro, viagem que pode demorar uma semana. A alternativa é dirigir-se para os Açores, a dois dias de distância.

Nesta altura, mesmo tripulantes vacinados estão com sintomas de covid-19.

Os tripulantes são testados antes de embarcar nos navios. No caso do Princesa Santa Joana, foi detetado o caso de um marinheiro indonésio, antes de a embarcação seguir a caminho da região de pesca do Atlântico Noroeste. Foi "efetuada somente uma limpeza em tempo recorde do camarote do referido tripulante". Mas este marinheiro habitava no navio e tinha acesso a todos os compartimentos da embarcação, que não terão sido higienizados.

O Princesa Santa Joana partiu para a região norte do Atlântico para a campanha de pesca do vermelho, que abriu no início deste mês, numa modalidade sem quotas individuais, em que quem chega primeiro pesca mais. Este navio é uma das 11 embarcações de pesca longínqua portuguesas, que fazem viagens de dois a três meses sem ir a terra e levam cerca de 25 a 35 tripulantes.

Este armador não está associado da Associação dos Armadores da Pesca Industrial (ADAPI), instituição que reclama um plano contingência para lidar com casos de covid-19 a bordo dos navios de pesca.

No início da pandemia, a ADAPI sugeriu ao governo que criasse normas para os portos portugueses saberem os procedimentos a tomar. Contudo, o ministério do Mar, tal como as restantes autoridades, nada fizeram até hoje neste sentido, tal como não definiram regras para os procedimentos em águas internacionais ou portos estrangeiros.

[Artigo atualizado às 18:23 — Acrescenta a informação de que uma das 39 pessoas a bordo será desembarcada em Saint John, no Canadá]