"Estou estupefacto com o que vejo no mundo, com a ascensão dos que acreditam que a Terra é plana", disse Tyson à agência Lusa, numa conversa em Los Angeles. "Pensava que tínhamos deixado isso 500 anos atrás."
A segunda temporada da série no formato atual, com Neil deGrasse Tyson ao leme, estreia-se a 9 de março, no National Geographic Portugal, e tem o título "Cosmos: Mundos Possíveis", com escrita e produção de Ann Druyan e do lusodescendente Brannon Braga.
"Esta temporada de 'Cosmos' em particular não é sobre culpa, é sobre esperança ativa, caminhos realmente possíveis que se podem abrir", disse Tyson. "Há algo que é objetivamente verdade tal como estabelecido pelos métodos e ferramentas da ciência e que podemos todos abraçar, no interesse da nossa saúde, a nossa segurança, a fé na nossa civilização".
Essa é a mensagem da série, afirmou, sem ter um tom de pregação ou culpabilização. "Convida-vos a vir ao encontro, para que participem na exploração de onde as soluções poderão estar".
Passaram seis anos desde a temporada anterior e os criadores optaram agora por animações em vez de atores, com uma equipa de animação liderada por Kara Vallow, e efeitos especiais cinemáticos, dirigidos por Jeff Okun.
"Quando criámos o conceito de 'Mundos Possíveis', aonde podemos ir, não foi uma reação passiva a algo mas sim uma ação, qual é o nosso plano B quando as coisas não correrem como queremos?", explicou o produtor executivo Jason Clark. "Iremos aos mundos possíveis da mente e dos exoplanetas", afirmou, "levamos as pessoas lá fisicamente na nave da imaginação, que consegue viajar através do tempo e do espaço".
Nos novos 13 episódios, são explorados não apenas os potenciais destinos da humanidade noutros planetas, mas também realidades que são invisíveis aos nossos olhos. "Vemos que há um mundo debaixo do solo, uma rede de plantas que se conectam e comunicam de forma eletroquímica, algo que está a acontecer debaixo dos nossos pés e ninguém contou essa história", disse deGrasse Tyson.
Considerando que esta é a melhor temporada da série originalmente criada há quarenta anos, o astrofísico falou da importância de mostrar evidências de uma forma atrativa, num momento em que o negacionismo e o criacionismo ganham adeptos.
"Se para si a ciência é o que aprendeu num livro de escola, então não sabe o que mais ela pode ser", reconheceu. "Sim, há a narrativa, mas depois há as histórias que estamos a comunicar, há as animações, há todos os elementos do cinema moderno neste documentário televisivo", afirmou. "Quando as pessoas assistem a 'Cosmos' nunca pensam que estão a assistir a um documentário. Não há uma categoria para isto".
O produtor executivo Jason Clark apelidou a qualidade da animação como "incrível" e o conceito da nave da imaginação importante para ajudar os espectadores a sentirem que estão naqueles locais, simplificando ideias complicadas. "É fácil dizer o que se passa num vulcão, mas melhor se realmente estivermos no meio de um a ver o que acontece ali".
A liderar a equipa de animação, Kara Vallow explicou que os desenhadores passaram muitas horas a estudar para garantirem que percebiam o que iam pôr no papel, tornando-se "cientistas amadores".
"Temos de ser claros com a nossa ciência", disse Vallow. "Fazemos animação, não somos astrofísicos, por isso tivemos de fazer muita pesquisa e com esse conhecimento formular uma maneira de o explicar de forma clara à audiência, sendo visualmente apelativo".
Essa foi uma das ferramentas encontradas para tornar a série interessante, sublinhou deGrasse Tyson. O astrofísico referiu que tentar convencer os outros é um trabalho difícil, uma vez que, "se alguém acredita muito numa coisa e lhe dizemos que está errada, essa pessoa finca ainda mais o pé". A sua abordagem em "Cosmos: Mundos Possíveis" é oferecer uma nova perspetiva que pode ser abraçada e é acessível, descreveu.
"Quando olham para a sua posição, então corrigem-na sozinhos. Não podemos ser nós a fazer isso", disse. "'Cosmos' tem uma riqueza de ferramentas para que as pessoas façam uma introspeção que de outra forma não fariam".
Quase mil colaboradores de várias partes do mundo trabalharam na série, que envolveu 17 empresas de efeitos visuais para chegar ao resultado final.
Por: Ana Rita Guerra, da agência Lusa, em Los Angeles
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