"Se o 'comandante' [Hugo Chávez] fosse vivo as coisas seriam muito diferentes, talvez difíceis porque o preço do petróleo caiu, mas não tão complicadas", são expressões cada vez mais frequentes entre os simpatizantes da revolução bolivariana, como explica à agência Lusa a venezuelana Liliana Medina, quase a completar 70 anos.

Doméstica e residente em La Candelária, Caracas, Liliana Medina tem saudades do tempo de uma "outra Venezuela, a de Chávez, mesmo em situações difíceis como 2002", quando o falecido Presidente foi afastado temporariamente do poder e se verificou a paralisação da petrolífera estatal.

"Mesmo nos momentos mais difíceis o 'comandante' tomava decisões acertadas para o nosso bem-estar", frisa, recordando de imediato que o falecido líder socialista pôs em prática vários programas de assistência social, construiu habitações sociais e atribuiu pensões de sobrevivência para muitos idosos.

Hoje, explica, as coisas são mais complicadas, apesar do Governo entregar bolsas com alimentos, as pessoas idosas têm dificuldades em comprar produtos, há escassez de bens e os preços estão muito altos. Além disso, lamenta, a "hampa está desatada" ("criminalidade está descontrolada").

Mais acima, na mesma Avenida Sul 15, o espanhol Mário Fernández, de 70 anos, diz nunca ter tido grandes expectativas quanto à "bondade" da revolução, mas insiste que a insegurança pessoal e jurídica, a escassez de bens e o aumento da inflação é apenas "uma etapa de um antiquado processo que deve flexibilizar-se e atualizar-se económica e politicamente".

"Uma coisa é queixar-se, estar consciente de que políticas radicais com o tempo não ajudam a população e outra é dizer que Nicolás Maduro é culpado de tudo. Talvez na economia as coisas lhe tenham escapado das mãos mas ele estava recém eleito e já diziam que com (Hugo) Chávez era outra coisa, mas foi ele (Chávez) quem expropriou empresas privadas, criou o sistema de controlo cambial, despediu milhares de empregados da PDVSA [empresa petrolífera estatal] e agora não há gasolina", queixa-se.

Sem familiares próximos no país, o português Silvestre Correia, de 66 anos, tem dificuldades em entender o que aconteceu no país e em perceber como será o futuro.

"Vivo num quarto alugado porque nunca tive dinheiro para comprar apartamento e o tempo foi avançando. Não percebo como é que um país com tanta riqueza petrolífera está nesta crise. Não sei se a culpa é do "chavismo" ou de Nicolás Maduro, mas o discurso dos políticos está distante da realidade de pessoas como eu, que todos os dias temos que fazer contas à vida, administrar a pensão e as poupanças para fazê-las render", frisou.