Segundo a Fenaj, o país sul-americano registou o ano passado 208 ataques à imprensa, um aumento de 54% em relação a 2018. Desse total, 114 casos foram de descredibilização do setor e 94 de agressões diretas a profissionais.
“Sozinho, o Presidente Jair Bolsonaro foi responsável por 58% destes ataques, chegando a 121 casos”, frisou hoje a Federação de Jornalistas, na apresentação de um relatório sobre o tema no Rio de Janeiro.
De acordo com o documento, é a postura e as declarações do Presidente da República do Brasil que institucionalizam a violência contra a imprensa e os seus profissionais, assim como ameaçam a liberdade de imprensa.
A Federação afirmou que a maioria dos ataques de Bolsonaro foi feita em divulgações oficiais da Presidência da República, entre entrevistas e discursos do chefe de Estado, transcritos no ‘site’ do Governo ou na conta oficial do mandatário na rede social Twitter.
Os jornalistas acusam ainda Bolsonaro de utilizar o poder do seu cargo para tomar medidas que visam enfraquecer financeiramente as empresas de comunicação e a organização dos trabalhadores jornalistas, como é o caso da eliminação da exigência de registo profissional, decretada em novembro passado.
Além dos ataques mencionados, a Federação registou ainda em 2019 “dois assassinatos, 28 casos de ameaça e intimidação, 15 agressões físicas, 10 casos de censura ou impedimento do exercício profissional, cinco ocorrências de restrição à liberdade de imprensa por ações judiciais, dois casos de injúria racial e duas ações de violência contra a organização sindical da categoria [profissional]”.
Os jornalistas Robson Giorno e Romário da Silva Barros, ambos a trabalhar em Maricá, no Rio de Faneiro, foram assassinados em 2019, segundo a Fenaj.
Em relação aos agressores, a Fenaj indicou que no ano que agora terminou os políticos foram os principais autores de ataques a órgãos de comunicação e jornalistas, totalizando 144 ocorrências, sendo a maioria de tentativa de descredibilização da imprensa.
Foram também registadas agressões, verbais ou físicas, diretas aos profissionais do jornalismo por parte de políticos, sendo que Jair Bolsonaro foi responsável por 121 dos casos.
Na categoria de agressões diretas, a Federação compreende ataques como injúrias raciais, assassinatos, ameaças/intimidações, censura ou agressões físicas, por exemplo.
Um dos exemplos das agressões verbais a jornalistas por parte de Jair Bolsonaro aconteceu no mês passado, quando o chefe de Estado foi questionado acerca da investigação do Ministério Público sobre um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro.
“Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual”, respondeu Jair Bolsonaro ao jornalista.
Desde a campanha eleitoral, que o levou a vencer as eleições em outubro de 2018, Bolsonaro tem mantido um confronto aberto com os principais meios de comunicação do Brasil, como a TV Globo, o jornal Folha de S.Paulo ou a revista Veja.
Pelo segundo ano consecutivo, os jornalistas de televisão são os mais agredidos. Em 2019, 35 jornalistas televisivos foram vítimas de agressão direta, seguindo-se os profissionais que trabalham em jornais impressos e os jornalistas dos ‘media’ digitais.
Durante o lançamento do relatório, a Fenaj e os sindicatos, que foram responsáveis pela elaboração do documento, destacaram que os dados são “alarmantes”, exigindo ação dos jornalistas, das empresas e do Governo para combater os ataques.
MYMM // SR
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