Os estudantes da Escola Artística de Música colocaram o Conservatório Nacional em primeiro lugar ao conseguir a melhor média das escolas públicas nos exames nacionais do 9.º ano, (4 valores numa escala de zero a cinco), segundo um ‘ranking’ da Lusa, que analisou os resultados das provas do ano passado.
“Ficámos muito contentes porque já é o segundo ano consecutivo. No primeiro ano poderia ser um acidente, mas agora não. Os alunos e professores estão muito orgulhosos destes resultados que acho que é fruto do trabalho de todos e do bom ambiente que temos na escola”, contou à Lusa Lilian Kopke, diretora da Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa.
As turmas são reduzidas. No máximo, um professor tem 20 alunos dentro de uma sala, o que permite “adaptar o ensino e torná-lo mais personalizado”, explicou à Lusa Isabel Miranda, professora de Português do 9.º ano.
Além disso, os alunos desenvolvem desde cedo aptidões benéficas para o percurso escolar.
“São treinados deste pequeninos a ter um raciocínio lógico que é necessário para aprender música em si e para a leitura das partituras”, explicou Lilian Kopke, diretora da escola frequentada por crianças desde os seis ou sete anos.
Depois, quando estão a tocar, têm de se saber autoavaliar o que implica uma grande concentração, “porque é necessário estar a ouvir o som e a corrigir o seu próprio som”, contou.
A capacidade de concentração, o ritmo e a organização são também as características apontadas pelos alunos para o sucesso académico.
Tomás Narciso Pinto terminou agora o 9.º ano e fez todo o ensino básico no conservatório, sendo hoje um jovem músico de contrabaixo. Para o aluno de 15 anos, “a organização e o rimo” exigidos nos cursos artísticos são mais-valias “para aprender melhor todas as coisas”.
Já Catarina Álvares sublinhou a importância da concentração, que foi adquirindo ao longo dos nove anos de aulas no conservatório: “O facto de estudarmos música faz com que tenhamos de estar sempre muito atentos para pensar e experimentar coisas. Enquanto estudamos, essa concentração é bastante importante até para depois estudar outras disciplinas”.
Este trabalho, que é transversal entre quem estuda música, pode explicar a razão pela qual as escolas de música do país aparecem bem classificadas nos rankings da Lusa.
Em segundo lugar da lista das escolas públicas surge a Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, e em nono a Escola Artística do Conservatório de Música do Porto.
No ‘ranking’ geral, que junta colégios e escolas públicas, o 11.º lugar é ocupado pelo Conservatório de Música de Barcelos, o 14.º pertence à Escola de Música de São Teotónio, em Coimbra, e em 23.º surge a Academia de Música de Vilar Paraíso, em Vila Nova de Gaia.
Também a professora de Português do Conservatório Nacional acredita que “a música é essencial para os alunos terem um bom desempenho académico nas noutras disciplinas. Ajuda-os a serem mais metódicos, mais concentrados e a desenvolver capacidade de raciocínio abstrato”.
Nesta equação do sucesso ninguém esquece o trabalho de todos os docentes. ”Além de termos bons professores na música, também temos bons professores na escola normal”, defendeu Tomás Narciso Pinto.
Mas, para a professora de Português, é a conjugação de três fatores que explicam os bons resultados: “A forma com trabalhamos dentro da sala de aula, a maneira como eles fora da sala de aula se sabem organizar e, finalmente, o apoio familiar”.
A grande maioria dos pais tem formação superior, tendo estudado em média 15 anos, segundo os dados socioeconómicos disponibilizados pelo Ministério da Educação.
“Os nossos alunos têm a sorte de ter um enquadramento e apoio familiar que é um ótimo suporte e que também os estimula”, acrescenta a professora de Português, disciplina em que os jovens músicos do conservatório também foram os mais bem classificados este ano.
Além disso, são uma presença assídua na escola. Lilian Kopke contou à Lusa que os pais são convidados a assistir às aulas, até porque depois, em casa, são quem pode ajudar quando os filhos estão a treinar o seu instrumento.
Tal como num concerto, em que ninguém pode desafinar, também nas outras disciplinas os alunos procuram a nota perfeita.
“Todos nós gostamos de fazer as coisas bem, como deve ser, e de ter bons resultados. Acho que todos estudam bastante para obter bons resultados em todas as disciplinas, quer sejam as musicais quer sejam académicas”, resumiu Catarina Alvares, que agora vai deixar o conservatório para seguir um curso de ciência no ensino secundário.
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