De máscara na cara, tal como todos os profissionais e todos os utentes que chegam ao hospital de dia do serviço para receber os tratamentos de quimioterapia, imunoterapia ou de hormonoterapia, Sandra Bento disse à Lusa que os cancelamentos e adiamentos de consultas foram “mínimos”.
“Passámos a fazer algumas consultas de seguimento por telefone para evitar que o doente se deslocasse ao hospital. Decidimos sempre caso a caso e com possibilidade de remarcação para presencial, caso o doente, depois da consulta telefónica, tivesse queixas que justificassem a vinda ao hospital”, explicou.
Nos casos em que são necessárias análises com marcadores tumorais, os doentes passaram a deslocar-se ao hospital apenas para fazer a colheita e, quando conhecido o resultado, a consulta passou a ser feita por telefone, a exemplo do que acontece com os que necessitam fazer TAC.
“Isso já reduzia o número de utentes aqui e já permitia algum distanciamento, porque a nossa sala de espera não é muito grande e também não queríamos que as pessoas viessem ao hospital”, disse.
Os tratamentos foram mantidos, à exceção dos paliativos em doentes institucionalizados, que foram adiados para evitar a “maldade” de os obrigar a 15 dias de isolamento nos lares por se deslocarem ao hospital.
“Foram os únicos que foram adiados. No resto mantivemos sempre o funcionamento”, afirmou.
Ramiro Antunes, sentado numa das cadeiras de uma sala que não permite grande espaçamento entre doentes, vai todas as semanas fazer o tratamento ao cancro do pulmão.
É a segunda vez, depois do cancro da mama que surgiu há cinco anos, que é seguido no serviço de Oncologia do Hospital Distrital de Santarém (HDS).
A pandemia apenas lhe alterou as rotinas, em casa, na rua e nas vindas ao hospital, onde, como todos os que entram no edifício, lhe passaram a medir a temperatura e a desinfeção frequente das mãos e o uso de máscara passaram a ser obrigatórios.
“Fazem-me o tratamento conforme fizeram há cinco anos. Igual. Perfeitamente igual. Estou muito feliz, além da doença, estou muito feliz de ser acompanhado por esta magnífica equipa de enfermagem”, disse à Lusa.
A equipa de 11 enfermeiras, de auxiliares técnicos e de secretariado dedicado só à Oncologia, com experiência acumulada num serviço criado na década de 1990 e a funcionar no atual espaço desde 2006, garantem a estabilidade perante um quadro médico que Sandra Bento admite ser curto.
Com cerca de 1.500 novos casos de cancro por ano, o serviço tem duas oncologistas em horário completo e vários em regime de prestação de serviços que completam mais 40 horas/semana.
“Em termos de carga horária é como se fossemos três. Precisaríamos de um bocadinho mais”, disse, salientando a dificuldade em contratar numa especialidade que é ainda "muito carenciada e muito solicitada".
Além do hospital de dia, as especialistas integram as unidades dedicadas à cirurgia oncológica, como a de Senologia, pioneira em mastectomias radicais e acreditada como centro de referência, onde chegam anualmente duas centenas de novos casos de cancro da mama, e a do cancro do reto, reconhecida como centro de excelência.
Em 2019, o serviço avaliou em consulta cerca de 2.000 doentes, 600 dos quais em tratamento ativo, cobrindo o Hospital de Santarém uma região com cerca de 240.000 habitantes.
Os doentes chegam ao serviço de Oncologia depois da avaliação feita numa consulta de grupo, que inclui várias especialidades – cirurgia, radioterapia, anatomia, imagiologia, oncologia -, sendo assegurado, “sempre, que o tratamento é feito dentro dos prazos e atempadamente”, salientou Sandra Bento.
Com a pandemia, os doentes passaram igualmente a ser testados para a covid-19.
“Até agora nenhum caso deu positivo, felizmente, nem em doentes nem nos nossos profissionais”, afirmou.
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