No encontro, organizado pela Academia Pontifícia das Ciências, intitulado "Ciências e ações para a proteção das espécies – Novas Arcas de Noé para o Séc. XXI", os especialistas manifestaram sentimentos comuns, entre a esperança e o pessimismo.

"Precisamos de um argumento sólido para convencer as pessoas da importância da biodiversidade", reconheceu Peter Raven, professor de botânica da Universidade de Saint Louis, Missouri, Estados Unidos.

Quando falamos sobre a importância crucial dos microorganismos para a vida na Terra, inclusive para os seres humanos, as pessoas "perdem o interesse", lamenta o especialista em vida vegetal.

"Sem as bactérias não existiríamos", ressalta o diretor do Museu de História Natural de Paris, Bruno David, recordando que nos nossos corpos, as bactérias são dez vezes mais numerosas do que as células humanas e são essenciais para a digestão.

Estes argumentos têm sido insuficientes para sensibilizar as pessoas sobre a necessidade de defender a biodiversidade, algo que é percebido como distante.

"Quando se fala de natureza, a maioria das pessoas imagina um mundo selvagem, que não diz respeito ao seu meio ambiente", explica Lori Bettison-Varga, que dirige o Museu de História Natural de Los Angeles.

Para ela, é fundamental mudar esta ideia e transmitir "o prazer de viver na natureza". Por isso, desenvolveu um programa para enviar jovens e adultos para atividades de campo, para que compreendam que o ser humano não é a única espécie que vive na Terra, mesmo dentro de uma metrópole como Los Angeles.

O projeto identificou trinta novas espécies dentro e ao redor da cidade. Então porquê proteger a biodiversidade se constantemente descobrimos novas espécies? É a pergunta que muitas vezes é feita à especialista em geologia e pedagogia.

Ao Vatican News, o professor Vanderlei Bagnato, membro da Academia Pontifícia das Ciências, explica que "estamos a viver uma Arca de Noé moderna”. É um “novo dilúvio”, não de água, mas de desgraças ambientais que levam a uma "catástrofe de espécies animais e vegetais irrecuperáveis” com consequências diretas para o homem.

O nome do encontro no Vaticano recupera a história bíblica que agora serve de metáfora para todos: depois do aviso de Deus sobre o dilúvio com que ia "limpar" a terra, Noé cumpre a ordem que lhe é dada e salva a humanidade e as espécies com a sua arca, onde seguiu a sua família e um casal de animais de cada espécie.

"Noé recebeu a incumbência de salvar a humanidade devido à catástrofe e hoje temos o mesmo problema. A nossa catástrofe é a grande desordem causada pelos malefícios tanto a espécies animais, quanto vegetais. Noé percebeu que para sobreviver deveria salvar as espécies e, para a espécie humana se salvar, procura-se salvar também toda a biodiversidade ao seu redor", remata.

De acordo com o relatório das Nações Unidas, 75% do meio ambiente terrestre “foi severamente prejudicado” pelas atividades humanas, desde desflorestação, agricultura intensiva, pesca excessiva ou urbanização desenfreada, havendo 66% do ambiente marinho que também foi afetado.

Como resultado disso, cerca de um milhão de espécies animais e vegetais, entre as perto de oito milhões que se estima existirem no planeta Terra, estão ameaçadas de extinção, “muitas delas nas próximas décadas”.

Em março, a IUCN calculou que existem 27.159 espécies em perigo, ameaçadas de extinção ou extintas na natureza entre quase 100 mil espécies analisadas em profundidade por estes biólogos.

Neste grupo estão 1.233 espécies de mamíferos, 1.492 espécies de aves e 2.341 espécies de peixes. Quase metade das espécies ameaçadas são plantas.

Dados que vão ao encontro daquilo para que muitos cientistas alertam há vários anos, ou seja, o início da sexta “extinção em massa” – que não é mencionada no relatório – e a primeira pela qual o homem é responsável.

*Com Agências