“Presente-Futuro: A Atualidade da Leitura” é o tema da conferência PNL2027, que decorre na quarta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, para refletir e debater sobre projetos e desafios de futuro para o desenvolvimento das competências de leitura junto das crianças, dos jovens e dos adultos menos e mais qualificados.

“O tema da ‘atualidade’ é tornar evidente e, de algum modo, sublinhar que, enquanto elemento primordial do presente e condição universal do futuro, a leitura tem atualidade ainda que às vezes por força de vários fatores possa parecer que não”, disse à Lusa Teresa Calçada, comissária do PNL2027.

O objetivo é fazer passar a mensagem de que “ler não é uma coisa do passado, é do presente e do futuro”, é algo que atravessa toda vida social, pessoal e intelectual e é condição de cidadania, de liberdade, de pensamento crítico, da relação com o mundo.

Embora esta ideia passe por vezes “despercebida”, Teresa Calçada sublinha que “a leitura tem uma atualidade que tem que ser defendida, protegida e evidenciada”.

Por isso mesmo, o conferencista principal, Cristóbal Cobo, professor de Oxford, vai trazer uma conferência que se chama “aprender a ler entre linhas na era digital”.

“Portanto, o nosso conceito de leitura é um conceito que valoriza todas as tecnologias que servem para ler, passadas, presentes e futuras, não queremos que haja uma clivagem formal e equacionar uma clivagem entre as diferentes formas de ler e de escrever que hoje atravessam o papel como tecnologia fantástica e o digital como igual fantástica tecnologia”.

Teresa Calçada salienta que hoje em dia os jovens, desde que aprendem até que consolidam a leitura, fazem-no em ambientes muito diferenciados, “e todos eles podem ser convocados para melhorar as competências, os índices e o gosto”.

“O PNL tem tentado isso ao longo de uma década e agora propõe-se fazê-lo noutra, com tudo aquilo que isso quer dizer, de lutar contra o sinal dos tempos”, afirmou dando como exemplo a frase “viver num tempo rápido ou viver num tempo lento”.

A responsável explicou a ideia: “há muitos obstáculos a uma leitura continuada, qualificada, crítica, porque o tempo muito acelerado e de adição das conectividades e da ubiquidade leva muitas vezes a descurar aquilo que implica saber ler bem, saber ler com qualidade, abstrato, distendidamente, e tudo isso são os desafios que se nos põem, que nós temos que transmitir e encontrar algumas formas de consciência e de solução”.

É isso que o plano tem vindo a fazer ao longo de mais de uma década de existência, mas à medida que “o digital, e o transmedia, é mais premente, esses desafios transformam-se em novas linguagens e em novas abordagens”, que são desafios para a escola, para as famílias e para os meios de comunicação social, considerou.

A conferência vai abordar os diferentes públicos, desde os mais pequenos, junto de quem é importante favorecer as competências de leitura e de escrita, para se poderem tornar leitores, até aos adultos menos qualificados, junto de quem é importante trabalhar a alfabetização, passando pelos jovens, para quem o desafio vem hoje da forma de ler e de produzir conteúdos, de “ser ao mesmo tempo um consumidor e um produtor”.

O desafio para os jovens de hoje é “terem a consciência de quem sabe mais e de quem é aprendiz de, das formas de o fazer no Youtube, nos ‘blogs’, em tudo aquilo que são formas novas de comunicação e de linguagem”, tudo isto “está também presente na conferência”.

“De permeio, temos sempre uma vontade de homenagear a literatura, porque sabemos que leitura e literatura não são a mesma coisa: quando falamos da leitura falamos de muitas leituras, de outros temas, da ciência, das artes, leituras variadas, mas nós gostamos que se perceba que a literatura é uma leitura por excelência, a palavra é aquela matéria prima maravilhosa com que os homens têm construído a sua diferença”, afirmou a comissária.

Por isso mesmo, a conferência vai contar com um grupo de teatro que “vem dizer palavras que outros escreveram com qualidade e habilidade acrescidas”, sendo também uma homenagem a José Saramago, e com um grupo do Chapitô “que liga as palavras à performance, ao corpo, à magia e, direta e indiretamente, à leitura e à escrita”.