Habitualmente, o que é orgânico cresce sem recurso a aditivos sintéticos ou a pesticidas e não é geneticamente modificado, o que atrai os consumidores mais preocupados com a preservação do ambiente, uma vez que, em teoria, causa menos danos ao Planeta. Contudo, a realidade não é assim tão simples. Uma t-shirt de algodão orgânico pode utilizar mais recursos do que uma produzida com o algodão convencional, tendo um maior impacto ambiental, alerta o Quartz, citando um estudo da Cotton Inc., um grupo sem fins lucrativos que tem como objetivo impulsionar o sector.

As variedades de algodão convencional têm um maior rendimento, o que significa que as plantas vão produzir mais fibra do que as orgânicas, isto porque foram geneticamente modificadas. Nos últimos 35 anos, os rendimentos no mercado do algodão aumentaram em 42%, em grande parte devido à biotecnologia e às melhores técnicas de irrigação dos campos. Por outro lado, o algodão orgânico deriva de plantas que não têm qualquer mutação genética. Para se obter a mesma quantidade de fibra é necessário plantar-se mais, o que significa que também se utiliza mais terra e, consequentemente, mais água para irrigação.

Há quem defenda que o algodão orgânico exige menos água ao longo do tempo, em grande parte porque o solo com mais carbono proveniente da matéria orgânica armazena melhor a água. Mas geralmente uma planta de algodão tem a mesma necessidade de água, independentemente de ser orgânica ou não. Além disso, os agricultores convencionais também usam muitos métodos para manter o solo saudável.

E o que dizem os números? São necessários, segundo a Cotton Inc., aproximadamente 1097 litros de água para fazer crescer o algodão convencional para se produzir uma t-shirt, o que parece já um valor bastante elevado. Contudo, para produzir a mesma t-shirt com algodão orgânico são necessários cerca de 2498 litros de água. Para completar o outfit, juntem-se uns simples jeans: são utilizados 4296 litros de água na produção convencional contra 9997 na orgânica.

A principal preocupação ambiental com o uso da água refere-se à irrigação, especialmente em países como a Índia, com grandes níveis de escassez de água. Cerca de metade das culturas de algodão a nível global - orgânicas e convencionais - obtém água das chuvas, de acordo com a Cotton Inc, não sendo claro qual a quantidade adicional de água que uma determinada peça de roupa necessitou para ser produzida.

E existem outras variáveis a ter em consideração, como os quilómetros que o algodão viaja até chegar aos nossos armários - É na Índia que cresce a grande maioria do algodão orgânico do mundo e os EUA são provavelmente o seu maior consumidor de algodão, por exemplo -, ou como é que a peça de roupa foi tingida. Este processo também pode ser orgânico ou não. Se for, a peça tem de ser certificada num programa como o Global Organic Textile Standard, onde estão registadas 77 marcas nacionais.

As produções e os químicos

O algodão orgânico pode ter uma vantagem no que diz respeito à menor utilização de produtos químicos. Ainda são utilizados produtos químicos, mas apenas os que derivam de produtos naturais, que se diz serem menos nocivos. Contudo, algumas evidências sugerem que certos pesticidas orgânicos podem ser piores para o ambiente do que os convencionais.

Alguns produtos químicos específicos usados ​​na agricultura convencional têm suscitado sérias preocupações, como o glifosato, um herbicida amplamente utilizado, que a Organização Mundial de Saúde considerou um "provável carcinógeno" com base em estudos de trabalhadores que o utilizaram. Por outro lado, não há nenhuma evidência que sugira que usar roupas feitas de algodão cultivado com o produto químico é prejudicial.

A missão do consumidor

Com isto, qual é a alternativa? Comprar roupa melhor. Diminuir o consumismo. Usar as peças mais vezes. Poupar energia e água, lavando a roupa apenas quando necessário, enumera o Quartz. Assim, além da responsabilidade que os produtores devem mostrar, os consumidores também podem ajudar a diminuir pegada ecológica.