Na abertura do debate da moção de censura agendado pela Iniciativa Liberal, o presidente do partido, João Cotrim Figueiredo, afirmou hoje que a moção de censura é a forma de dizer “não à incompetência e não à instabilidade” do executivo de António Costa, considerando que é preciso um “Governo novo já”.

No debate, que começou com quase 10 minutos de atraso, o ainda presidente e deputado liberal explicou que o `'timing' desta moção de censura é porque a IL já não acredita “que este Governo seja capaz de renovar-se e de arrepiar caminho”.

“O Governo já não é só incompetente, o Governo tornou-se numa fonte de instabilidade. Esta moção de censura é a nossa forma de dizer ao parlamento e ao país não à incompetência, não à instabilidade, precisamos de um Governo novo e precisamos dele já”, enfatizou.

Segundo o liberal, "a trajetória da economia portuguesa é divergente porque o Governo é incompetente", dando ainda como exemplo daquilo que classifica como incompetência a situação na saúde, na educação, na segurança social ou na justiça.

Sobre o que dirão os demais partidos sobre esta moção, Cotrim Figueiredo pediu para que "não se preocupem com a transição de liderança da IL".

"Nós estaremos preparados. Assim outros nesta câmara estejam também preparados e não deixem de estar sempre à espera de fazer cálculos eleitorais ou buscar refúgio nas saias do senhor Presidente da República", atirou.

Para o líder liberal, "o pior que podia acontecer não era ir para eleições", mas sim "ter mais quatro anos deste governo incompetente e instável".

"A Iniciativa Liberal não ficará à espera nem do Presidente da República, que fará a sua leitura autónoma, nem dos cálculos eleitorais de alguns fazem à espera que os astros se alinhem. A Iniciativa Liberal não tem medo de eleições, não tem medo da democracia", disse, numa crítica implícita à abstenção do PSD.

Alguns deputados do PSD – partido que irá abster-se na moção de censura da IL ao Governo - aplaudiram no final o discurso de Cotrim Figueiredo, sobretudo na última fila da bancada, entre eles o antigo ‘vice’ do partido André Coelho Lima e Carlos Eduardo Reis.

O deputado liberal garantiu que não se trata de uma "mera manobra política", mas sim "a ferramenta parlamentar que existe para demonstrar que o melhor para o país é mesmo ir para eleições, é mesmo mudar de Governo".

"Alguns até nos dizem que especialmente quando há maioria absoluta não faz sentido apresentar moções de censura. Bela noção de democracia desses apêndices úteis do PS", atirou.

Aguardando para "ver se a nova secretária de Estado não se vai transformar em mais um caso", Cotrim Figueiredo criticou ainda Costa e o PS por terem "acrescentado uma crescente arrogância de maioria absoluta", dando como exemplo o "rolo compressor parlamentar" que já recusou 21 audições nesta legislatura e do "insulto à oposição".

Em resposta, António Costa, afirmou que a moção de censura foi apresentada por um líder demissionário e que as forças de direita não formam alternativa e nem sequer se entendem.

O líder do executivo defendeu que os cidadãos querem estabilidade e que os partidos à direita do PS não constituem uma alternativa ao atual executivo.

“Nem sequer se entendem em torno desta moção de censura”, apontou, numa alusão ao facto de o PSD ter anunciado a sua abstenção, enquanto o Chega votará a favor ao lado da Iniciativa Liberal. Costa disse ainda que Cotrim Figueiredo “quer eleições no seu partido e também no país".

No seu discurso, o primeiro-ministro sustentou a ideia de que há um ano os portugueses foram chamados a resolver “uma verdadeira crise política, que resultou do chumbo pelo conjunto das oposições do Orçamento do Estado para 2022”.

“Menos de um ano depois o líder demissionário da Iniciativa Liberal propõe eleições no seu partido e repetir as eleições nacionais em que a IL foi derrotada. Fomos eleitos pelos portugueses com um programa e é com esse programa que temos de governar” contrapôs.

Depois, o líder do executivo colocou a questão sobre “se há uma alternativa mais estável do que aquela que oferece o atual Governo”.

“A resposta está previamente anunciada, porque, como sabemos, nem sequer na censura ao Governo a direita se consegue entender”, apontou, num discurso que foi aplaudido de pé pelos deputados da bancada do PS.

Costa continuou a dirigir-se com ironia a Cotrim Figueiredo, após este ter feito a intervenção inicial expondo as razões que levaram a sua força política a censurar o executivo socialista de maioria absoluta.

“Não posso deixar de ficar sensibilizado pelo facto de o líder demissionário da Iniciativa Liberal [Cotrim Figueiredo] estar preocupado com problemas no Governo, muito obrigado. Porém, a minha função como primeiro-ministro é não só resolver problemas que surjam no executivo, mas, sobretudo, preocupar-me com os problemas que afetam os portugueses. Esses são os problemas que efetivamente contam para a vida política”, sustentou.

António Costa contou depois que, até hoje, nunca foi interpelado na rua por um cidadão a perguntar-lhe “se A ou B era ou não secretário de Estado, se C ou D tinha deixado de ser secretário de Estado”.

“Aquilo que os cidadãos me falam, aquilo com que os cidadãos se preocupam, é saber como respondem ao aumento do custo de vida. E a esses cidadãos respondo com a ação do Governo. Os combustíveis sobem e nós adotamos medidas de redução do IVA ou de descida do ISP”, declarou.

Ou seja, de acordo com o líder do executivo, “as pessoas estão preocupadas com o aumento do preço da luz e, por isso, em conjunto com a Espanha, o Governo negociou o mecanismo ibérico”.

“Por isso, injetámos no conjunto do sistema regulatório cerca de 4,5 mil milhões de euros”, completou.

Na sua intervenção, o primeiro-ministro procurou também afastar a ideia de que a maioria absoluta do PS abusa do poder.

“Como dissemos na noite das eleições legislativas, uma maioria absoluta é uma responsabilidade absoluta, uma responsabilidade de governar bem e em diálogo com a sociedade. Em cerca de nove meses temos a apresentar um acordo de médio prazo em sede de concertação social, oferecendo aos empresários e trabalhadores previsibilidade, estabilidade e aumento de rendimentos; um acordo de médio prazo com os sindicatos da administração pública, garantindo a valorização das carreiras e salários até 2026; e uma negociação com as autarquias de descentralização em áreas como a educação, saúde e ação social”, apontou.

Também segundo o líder do executivo, ao nível parlamentar, o Governo “tem mantido os canais abertos com todos aqueles do campo democrático que querem dialogar”, dando como exemplos o acordo com o presidente do PSD, Luís Montenegro, sobre metodologia para a definição da localização do novo aeroporto regional de Lisboa.

“Posso relembrar que sói nas votações do Orçamento do Estado para 2023 foram aprovadas mais propostas da oposição do que nos oitos (incluindo suplementares) apresentados na última legislatura de direita”, assinalou, numa alusão ao executivo PSD/CDS-PP.

“Até agora, foram aprovadas 21 propostas de lei, atos legislativos deste Governo. Dessas 21, só um terço teve os votos exclusivos do PS e dois terços tiveram o voto do PS com pelo menos outros deputados”, acrescentou.

Costa vai propor a Marcelo circuito para “transparência e confiança” na nomeação de governantes

O primeiro-ministro anunciou hoje que vai propor ao Presidente da República um circuito para “garantir maior transparência e confiança de todos no momento da nomeação” de membros do Governo, considerando que este sistema pode ser melhorado.

“Irei propor ao senhor Presidente da República que consigamos estabelecer um circuito entre a minha proposta e a nomeação dos membros do Governo que permita evitar desconhecer factos que não estamos em condições de conhecer e garantir maior transparência e confiança de todos no momento da nomeação”, anunciou António Costa em resposta à deputada única do PAN, Inês Sousa Real.

O primeiro-ministro deixou claro que falará primeiro com Marcelo Rebelo de Sousa e que depois anunciará o que vai propor “para que o circuito possa ser melhorado porque pode ser melhorado”.

O tema decorreu da discussão do caso de Alexandra Reis, tendo António Costa considerado que o caso da ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis foi um “caso relevante”, sublinhando que todos os que estavam a par da indemnização de 500 mil euros tiraram “as devidas consequências”.

“Por isso, quando o ministro das Finanças tomou conhecimento dele, pediu à secretária de Estado que se demitisse. Quando perguntou e quando pergunta quem sabia, já toda a gente sabe quem sabia, e quem sabia tirou as devidas consequências de saber”, referiu, em resposta à coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.

O primeiro-ministro sublinhou que, quando a indemnização de 500 mil euros de Alexandra Reis foi negociada, o atual ministro das Finanças, Fernando Medina, ainda não tutelava a pasta, e o anterior ministro das Finanças, João Leão, “já publicamente explicou que o ministério das Finanças não teve conhecimento do pagamento dessa indemnização”.

Na resposta a Catarina Martins, Costa recusou ainda que esteja a haver “casos sobre casos” no seu executivo, argumentando que, “nas várias demissões do Governo, há situações muito diversas”.

“Há duas pessoas que saíram infelizmente por motivo de doença, houve dois ministros que se demitiram por razões políticas, houve três secretários de Estado que saíram por reajustamentos, houve um que o fez por entender que, de acordo com a ética republicana, tendo sido acusado num processo-crime, não se devia manter em funções”, recordou.

Aludindo ao caso de Alexandra Reis, Costa salientou que “quando houve uma situação de uma secretária de Estado em que o ministro das Finanças detetou que havia uma situação que podia pôr em causa a ética republicana, pediu à secretária de Estado que imediatamente se demitisse, o que ela imediatamente anuiu e imediatamente fez”.

"Vou demitir a mulher de alguém porque o marido é acusado?", questiona Costa

Quanto a casos, Costa considerou que o que envolve a secretária de Estado da Agricultura é "particularmente claro”, porque se trata de um caso em que “o Ministério Público (MP) já investigou tudo, em que o MP teve acesso seguramente a toda a informação que quis e que pode para investigar, onde o MP, tendo investigado tudo - as contas, o património, isto e aquilo - acusou uma pessoa e só uma pessoa”.

“Então e vamos ser nós, vou ser eu a substituir-me ao MP por uma razão que eu não tenho, que eu não conheço e que eu não sei de nada? (…) E vou demitir a mulher de alguém porque o marido é acusado?”, inquiriu.

Costa disse que, apesar de não saber “se o marido vai ser condenado”, uma coisa que se sabe: “A secretária de Estado não foi acusada de nada”.

Perante reparos da bancada do Chega - que perguntavam “e a ética” -, Costa respondeu: “Qual é o caso da ética, é ser casada com alguém que foi acusado? Isso põe em causa a ética?”.

“Ó senhores deputados, vamos lá ver o seguinte: a civilização no mundo da Justiça levou muitos séculos a construir e não há populismo de esquerda que faça abanar-me quanto às minhas convicções sobre os princípios do Estado de Direito”, referiu.

António Costa respondia à coordenadora do BE, Catarina Martins, que aludiu ao caso da nova secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, e à polémica em que está envolvida.

Catarina Martins disse que, ao ler jornais, só pode “pensar que seria difícil um Governo do PS fazer tantos favores à direita como este Governo está a fazer”.

“A cada caso que é encerrado, a cada nomeação que é feita, abre-se um novo caso”, criticou Catarina Martins.

A coordenadora bloquista inquiriu se “não é pelo menos absolutamente imprudente a forma como o Governo tem lidado com as nomeações e com as responsabilidades dos seus membros”.

“Não é absolutamente imprudente que, depois de demissões com base em percursos com tanto por explicar, a primeira coisa que o Governo faça nas novas nomeações é mais uma nomeação em que precisa de explicar o que, na verdade, parece tão inexplicável à maioria dos cidadãos deste país?”, questionou.

Dirigindo-se ao primeiro-ministro, Catarina Martins perguntou ainda: “Como se pode explicar estes casos?”.

“Como se pode explicar esta displicência da maioria absoluta? Esta displicência do PS para com a coisa pública, para com a democracia, para com as suas instituições?”, acrescentou.

Na resposta a estas perguntas, António Costa disse surpreendê-lo “muito que seja uma deputada do BE, e que seja a senhora deputada Catarina Martins”, a colocar a “questão sobre a necessidade de demitir uma mulher do Governo porque o marido é acusado num processo-crime”.

O primeiro-ministro disse também que se algum membro do Governo tiver rendimentos não declarados deve sair do executivo, salientando que a secretária de Estado da Agricultura lhe garantiu que na sua conta não tem rendimentos não declarados.

“Se, em abstrato, algum membro do governo tiver rendimentos não declarados, claro que não se pode manter como membro do governo. É evidente, creio que isso é uma coisa clara e transparente. Estamos de acordo sobre esse ponto, vá lá, já é bom estarmos de acordo em mínimos”, afirmou António Costa em resposta ao presidente do Chega, André Ventura, sobre o arresto de contas conjuntas que a nova secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, tem com o marido e ex-autarca de Vinhais, noticiado hoje pelo Correio da Manhã.

“O que é que eu pude apurar? A senhora secretária de Estado diz-me que na conta dela não há nenhum rendimento não declarado. (…) não sabe se consta ou não consta em contas do marido. Tudo o que ganhou, declarou, é o que a senhora me diz”, frisou.

António Costa salientou que a atual secretária de Estado, uma vez já era diretora regional da agricultura, "já estava obrigada a proceder às declarações de rendimentos”.

“E, portanto, na declaração de rendimentos dela já constará quais são os rendimentos que tem e que não tem, qual é o património que tem ou não tem. O que ela me disse foi o que lhe posso dizer. Eu não tenho obviamente acesso às contas bancárias da senhora, só posso fazer fé naquilo que a senhora secretária de Estado me disse. Se a secretária de Estado diz a verdade, não tenho nada a apontar”, insistiu.

Momentos antes, André Ventura, líder do Chega, afirmou que “a PJ [Polícia Judiciária] descobriu a multiplicação de dinheiro no banco depositado em nome de Carla Alves"."Aqui a conversa é fácil: é que na conta da secretária de Estado do seu governo, entrou em três anos dinheiro que não corresponde à sua declaração”, argumentou Ventura.

“E eu pergunto se é isso que quer passar para o país, a imagem de que é normal um governante, nas suas contas, ter dinheiro que não declarou”, atirou.

Sobre a polémica na TAP, que levou à demissão de Pedro Nuno Santos como ministro das Infraestruturas, André Ventura acusou este dirigente socialista de mentir.

Disse o senhor primeiro-ministro: ‘Quem sabia assumiu responsabilidades’. Pedro Nuno Santos então, sabia. Ou seja, Pedro Nuno Santos mentiu ao país naquela noite”, acusou Ventura, fazendo referência ao comunicado conjunto das Infraestruturas e Finanças a pedir esclarecimentos à TAP sobre a indemnização paga a Alexandra Reis.

“Só pede esclarecimentos quem não sabe de nada. Se partimos do princípio que Medina não sabia, então Pedro Nuno Santos sabia, e então isso é grave e é tudo menos ética republicana”, atirou Ventura.

Na resposta, Costa esclareceu que no comunicado do Ministério das Infraestruturas, do dia 29 de dezembro, lê-se que o ministro só teve conhecimento da situação naquele momento.

Antes, pela Iniciativa Liberal, o deputado Carlos Guimarães Pinto dirigiu-se aos que “dizem que a alternativa [política] não está preparada” para governar e respondeu que “não há ninguém tão mal preparado para governar o país como o PS”.

Na resposta, António Costa insistiu que entre 2000 e 2015 o país cresceu em média anual 0,2% ao ano.

“Desde 2016 até 2022, incluindo com a brutal recessão de pandemia, Portugal cresceu em média anual 2%. Ou seja, cresceu nestes sete anos dez vezes mais em média anual do que a média anual dos quinze anos anteriores. Dirá: devia ser mais, devia. Mas olhe que dez vezes mais é um bocadinho bastante relativamente àquilo que é normal”, respondeu.

Costa voltou ainda ao caso do governo inglês liderado por Liz Truss, que durou pouco mais de um mês, como exemplo de que as políticas liberais não funcionam.

PSD considera que “não é tempo” para novas eleições, PS diz que moção é “inutilidade”

“O PSD não é um partido de protesto, quer ser Governo, com responsabilidade, e um partido com responsabilidade não pede eleições de ano a ano”, afirmou o deputado social-democrata João Moura na ronda de pedidos de esclarecimento à Iniciativa Liberal, após a abertura do debate no parlamento da moção de censura ao Governo.

O PSD “acha que não é tempo de haver as terceiras eleições em três anos, é o tempo de o Governo regressar ao país real e governar”, salientou.

“Se não conseguir, terá de arcar com as responsabilidades”, avisou.

João Moura afirmou que, “pese embora não pareça, as legislativas ocorreram há menos de 11 meses” e o Governo “tomou posse ainda não passaram nove meses”, mas referiu que Portugal é confrontado “a um ritmo alucinante” com “trapalhadas governativas ao estilo de uma série”.

Numa referência à mais recente polémica, que envolve a secretária de Estado da Agricultura, afirmou que a governante, que tomou posse na quarta-feira, “ainda não germinou e já se avizinha 'rotação da cultura'”.

“A causa do drama governativo tem a ver com a guerra do trono socialista”, apontou o deputado do PSD, numa referência à série televisiva “Guerra dos Tronos”, alertando que “ou o Governo muda de vida e quebra a muralha de gelo, ou não chega ao inverno”.

Pelo PS, o deputado Porfírio Silva defendeu que “esta moção de censura é uma inutilidade, até o PSD o reconhece”.

“Uma moção de censura não serve para nada quando não há alternativa política, e o PSD sabe que não há alternativa política”, salientou.

“O que nos move não é a satisfação do que está feito, o que nos move é o que falta fazer, é o que estamos a fazer e é mesmo por isso que a IL queria fazer cair o Governo de imediato e queria eleições agora, mas foi precisamente para travar essa categoria de irresponsabilidades que o povo escolheu esta maioria e é no exercício desse mandato popular que vamos chumbar a sua moção”, frisou Porfírio Silva.

O vice-presidente da bancada socialista acusou ainda o PSD de, “à falta de criação própria” imitar os “chavões da IL” e assinalou a “ironia histórica” de “liberais e miguelistas votarem lado a lado”, referindo-se ao Chega, o único partido que indicou que irá votado a favor da moção, juntamente com a IL.

Criticando os “ataques personalizados a membros” do Governo, o deputado do PS defendeu que “estes ministros e ministras que aqui estão e todos os outros que têm servido nos governos de António Costa “estão na vida pública por causas, pelo bem comum”.

“Nenhum esteve ou está por ganância, nenhum esteve ou está para ganhar a vidinha”, apontou.

Na resposta, o líder da Iniciativa Liberal afirmou que “basta olhar para o currículo das pessoas e não nomear pessoas que já foram arguidas, que estão acusadas em processos e não nomear pessoas que acabaram de receber indemnizações de meio milhão de euros”.

E dirigindo-se ao PSD, questionou: “O PSD, ao dizer que não é tempo de eleições, está à espera que aconteça o quê, que “evidência do inverno está à espera que aconteça para defender que é tempo de eleições? Porque os caminhantes brancos da pobreza e desagregação dos serviços públicos já chegaram”.

“Achamos convictamente que esta é a altura de mudar de Governo e essa altura é agora”, reiterou.

João Cotrim de Figueiredo aproveitou também para comentar a intervenção do primeiro-ministro, momentos antes, e defendeu que alguém que não se recandidata a um cargo não perde “direitos políticos e autoridade de criticar e chamar a atenção”.

“Quando pergunta se o Governo deve ser avaliado pelos resultados ou pela sua composição, a resposta é obviamente pelas duas porque a composição está em desagregação e os resultados são uma miséria”, defendeu o líder cessante da IL.

Costa responde com resultados nas Finanças às críticas do PSD a Medina

Na sua intervenção, o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, acusou o executivo liderado por António Costa de se estar a “desfazer e em processo de ruir”.

“Os portugueses confiaram em si para governar sozinho e receberam empobrecimento e instabilidade. Instabilidade porque deu a prenda de Natal que os portugueses não queriam nem mereciam: uma crise governativa”, acusou.

Miranda Sarmento insistiu nas críticas que o PSD tem feito ao ministro das Finanças, Fernando Medina, a quem acusa de ter perdido autoridade política, após ter nomeado para secretária de Estado do Tesouro (entretanto demitida) Alexandra Reis, que meses antes tinha recebido meio milhão de euros para sair da TAP antecipadamente.

“Que autoridade política tem o seu ministro das Finanças, como confiar nele para garantir uma boa gestão e controlo dos dinheiros públicos? Ter um ministro das Finanças incompetente, leviano e irresponsável pode acontecer, é uma má escolha, mas mantê-lo em funções tem um único responsável”, disse, referindo-se a António Costa.

O líder da bancada do PSD deixou ainda um conselho ao primeiro-ministro: “Ou muda de vida, ou vão ser os portugueses a mudar de Governo”.

Na resposta, Costa disse que “faz este ano 30 anos” que pela primeira vez foi a eleições, que perdeu então.

“Depois já dei várias vezes a cara em eleições, umas vezes ganhei, outras perdi. Agradeço o conselho, nunca tive medo de dar a cara para ir a eleições, o senhor já deu alguma vez?”, questionou.

Quanto à pergunta se considera que Medina tem condições para se manter no Governo, o primeiro-ministro foi categórico: “Evidentemente que sim, senão o que estava a fazer aqui sentado na bancada do Governo?”.

E acrescentou que “uma boa razão” para os portugueses continuarem a confiar no ministro das Finanças é ter entrado em funções a meio de 2022, num cenário de guerra, crise inflacionista e imprevisibilidade, e ter chegado ao final do ano com uma redução da dívida e do défice abaixo do previsto.

“Foram estes resultados que este ministro das Finanças e este Governo conseguiram no ano passado”, defendeu.

António Costa admitiu que se vivem “tempos muito difíceis” e considerou normal que “quem chegou agora à liderança da bancada [do PSD] tenha medo destas dificuldades”.

“Eu tenho receio das dificuldades, mas estas não são para mim uma novidade”, disse, elencando problemas como a pandemia e a guerra da Ucrânia e vitórias como a retirada do país do procedimento por défice excessivo, em 2017, o que mereceu um pedido de interpelação por parte da bancada do PSD.

Miranda Sarmento pediu que fosse distribuído um documento a atestar que o início desse procedimento aconteceu em 2008, “com um Governo do PS de José Sócrates”, tendo Costa respondido que era ele o primeiro-ministro quando fechou esse procedimento em 2017.

“Em 2008, estava eu a tirar a Câmara Municipal de Lisboa da bancarrota em que a direita a tinha deixado”, acrescentou.

PS acusa Iniciativa Liberal de estar cada vez mais encostada ao Chega

No decurso do debate, o líder parlamentar socialista acusou hoje a Iniciativa Liberal de estar cada vez mais encostada ao Chega na sua ação política, assinalando que a bancada liberal pretendeu iniciar a legislatura sentada entre o PS e o PSD.

Esta posição de Eurico Brilhante Dias foi transmitida na primeira ronda de perguntas ao primeiro-ministro. Depois de considerar que o PSD é um “partido na oposição sem posição - e que pratica o bota-abaixismo - e de ter afirmado que o Bloco de Esquerda “não voltará enganar os portugueses com a ideia de tentar confundir o PS com a direita”, o presidente da bancada socialista centrou depois as suas críticas no partido autor da moção de censura ao executivo.

Com o objetivo de transmitir a ideia de uma deriva para “a direita radical” por parte da bancada da Iniciativa Liberal, Eurico Brilhante Dias começou por assinalar que os deputados deste partido iniciaram a legislatura com a intenção de se sentarem entre as bancadas do PS e do Chega na Assembleia da República.

E, neste contexto, apresentou alguns dados: Entre agosto e outubro do ano passado, analisados sete discursos proferidos por Cotrim Figueiredo (líder cessante), Carla Castro e Rui Rocha (estes dois últimos são candidatos à liderança da IL), foram encontrados por 38 vezes expressões relacionadas com “mentira” dirigidas a adversários políticos.

“Isto dá uma média de chamar mentiroso mais de cinco vezes por intervenção. Por isso, esse partido que se quis sentar aqui, no meio do hemiciclo, vai votar a sua moção de censura sozinho com a extrema-direita parlamentar [do Chega]. Estamos perante um partido transfigurado e instável, que acaba encostado à extrema-direita radical”, acusou, recebendo uma prolongada salva de palmas dos deputados socialistas e com António Costa a sorrir na bancada do Governo.

Para o presidente da bancada do PS, a Iniciativa Liberal “é um partido instável que quer provocar uma crise política no país – uma crise que agravaria as condições de vida dos portugueses”.

“No debate do último Orçamento do Estado, a IL apresentou uma medida que, sozinha, faria cair as receitas fiscais em cerca de três mil milhões de euros”, acrescentou, numa alusão à alegada carga ideológica neoliberal da Iniciativa Liberal.

António Costa considera que PSD “passista” deseja um Governo “bem fritinho” até 2024

António Costa fez esta leitura política em resposta a uma intervenção do presidente do Grupo Parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, durante o debate parlamentar da moção de censura ao Governo apresentada pela Iniciativa Liberal.

“A direita, toda ela, o maior sonho que tem é criar uma crise política, mas o que a divide é qual realmente a melhor oportunidade. Há aqueles que, na boa tradição passista, acham que o Diabo vem mesmo agora com a continuação da guerra na Ucrânia e a permanência de inflação”, disse.

De acordo com o líder do executivo, os passistas entendem que “desta vez” o Governo socialista “vai mesmo apanhar”.

“Por isso, pensam o seguinte: é preciso deixá-los fritar em lume brando, criando-se aqui ou ali grande agitação e barulho. Pensam desta forma: vamos pôr as nossas correias de transmissão a fazer barulho e, depois, lá para 2024, pode ser que eles estejam bem fritinhos para serem derrubados”, advogou.

O primeiro-ministro falou então sobre a outra corrente existente na direita política, numa alusão à Iniciativa Liberal e Chega.

“Outros, gato escaldado, consideram que é melhor deitar o Governo já abaixo, porque o Diabo pode não chegar, como já aconteceu no passado. Pensam, mal ou bem, eles, no Governo, estão a aguentar isto – e o país até cresceu e com os fundos comunitários a executar entra mais dinheiro na economia e na sociedade”, afirmou, ainda numa caracterização dessa direita mais radical.

Esta “dupla cada vez mais homogénea, constituída por Chega e Iniciativa Liberal”, de acordo com o líder do executivo, conclui assim, em divergência com o PSD, que “é preciso deitar o Governo rapidamente abaixo”.

“O PSD diz não e prefere esperar que o Governo seja fritado, porque tem outra ambição: Percebe que é um problema político ter de viabilizar um Governo em coligação com o Chega e com a Iniciativa Liberal que é cada vez mais Chega”, apontou.

Mas António Costa, em defesa desta sua tese, avançou ainda com outro argumento.

O objetivo do PSD é, por um lado, ver se o Governo se desgasta e, por outro lado, ver também se a Iniciativa Liberal vai continuar a desfazer-se – um processo que costuma acontecer em partidos epifenómenos. Naturalmente, parte importante do eleitorado da IL regressa então à casa mãe do PSD”, acrescentou.

Ministra da Presidência acusa oposição de cansaço e esgotamento político

A ministra da Presidência encerrou o debate acusando a oposição de revelar sinais de cansaço e esgotamento político e defendeu que o executivo assume erros e não esconde problemas.

“Enquanto a oposição garante, semana após semana, que o Governo está cansado e esgotado, mantivemos o rumo, a capacidade de diálogo e negociação, apresentando resultados no que conta verdadeiramente: proteger as pessoas, recuperar a economia, fazer avançar o país”, sustentou Mariana Vieira da Silva.

A ministra da Presidência referiu que até se poderia pensar que “governar é mais cansativo do que apontar o dedo e dizer que tudo vai mal”.

“Mas, afinal, onde vemos o cansaço e o esgotamento? Vemos nas bancadas da oposição. Não apenas porque é aí que vemos mais mudanças de lideranças e protagonistas, mas, principalmente, porque em política não há maior sinal de esgotamento político do que nada dizer, nada propor e nada querer debater”, justificou.

A seguir, Mariana Vieira da Silva procurou deixar uma garantia: O Governo não fecha os olhos aos problemas nem se escusa a assumir os seus erros e, principalmente, a corrigi-los”.

“Estamos seguros do nosso caminho, que não pode ser apenas o caminho do Governo mas a ambição de um país. Cumpriremos e nossa ambição, assim o faça também a oposição”, completou, momentos antes da moção de censura da Iniciativa Liberal ter sido rejeitada por larga maioria.