Vadim Stroykin, de 59 anos, foi abordado no dia 5 de fevereiro por elementos dos serviços de segurança russos na sua casa em São Petersburgo. A visita das autoridades devia-se a uma investigação sobre uma das acusações mais graves na Rússia atual: o financiamento do exército ucraniano. De acordo com fontes oficiais citadas pela imprensa russa, Stroykin pediu um momento para ir à cozinha buscar um copo de água, abriu a janela e caiu. O seu corpo foi encontrado por um transeunte.

Segundo as autoridades russas, o cantor ter-se-á suicidado ao atirar-se da janela do seu apartamento no nono andar. No entanto, amigos e conhecidos questionam esta versão e levantam suspeitas sobre as verdadeiras circunstâncias da sua morte, diz o The Guardian.

Philip Buckup, amigo de longa data de Stroykin, descreveu-o como uma pessoa idealista e convicta das suas opiniões. "Ele tinha um sentido de justiça muito forte e não teria medo de ser preso", afirmou. Florida Vovsi, outra amiga, também rejeita a versão oficial, garantindo que Stroykin tinha "grandes planos" e "amava a vida".

A sua situação psicológica parecia deteriorar-se nos últimos tempos, segundo amigos, tendo ele expressado sentimentos de isolamento e depressão. No entanto, os seus conhecidos acreditam que isso não justifica um suicídio e suspeitam que as autoridades tenham desempenhado um papel direto na sua morte.

Para além das dúvidas levantadas pelos amigos, há outro elemento que aumenta o mistério: o corpo de Stroykin ainda não foi entregue à família. Esta demora impede uma análise independente que possa esclarecer as verdadeiras causas da sua morte.

Para muitos amigos e conhecidos de Vadim Stroykin, independentemente dos detalhes exatos do que aconteceu, a responsabilidade final pela sua morte recai sobre o governo do país. "Não há espaço para um homem honesto como Stroykin na Rússia de hoje", concluiu Florida Vovsi, ecoando o sentimento de que a repressão aos opositores do regime continua a ser uma realidade sombria.

A carreira do cantor ficou marcada pelo seu ativismo e pela sua postura crítica em relação à política do Kremlin. Oriundo dos Urais, foi expulso da universidade nos últimos anos da União Soviética devido à sua participação numa manifestação anti-regime, tendo sido posteriormente recrutado à força pelo exército. Com o tempo, destacou-se como um bardo da música russa, um género que remonta aos anos 60 e que se tornou um meio de expressão para críticos do regime.

Nos últimos anos, Stroykin tornara-se cada vez mais vocal contra a guerra na Ucrânia. Num post publicado nas redes sociais em março de 2022, apenas um mês após a invasão, escreveu: "Este idiota [Putin] declarou guerra ao seu próprio povo, bem como a uma nação irmã". Apesar das crescentes dificuldades enfrentadas por opositores do Kremlin, Stroykin optou por permanecer na Rússia, apesar de ter ponderado fugir para a Europa.