“Vão procurar outras enseadas, outros fiordes lá para o Sul, cada vez mais a sul, até se lhes acabar o mundo.”
São baleias. Os bichos enormes abalroaram um navio, defendendo um homem. Andam à procura de nova casa, nesse mundo do fim do mundo, lá para os lados da Patagónia.
A história é de Luís Sepúlveda. O livro tem esse nome mesmo Mundo do fim do mundo e fala de um homem apaixonado pelos confins austrais do continente americano — onde o mundo acaba.
Ali, a fauna marítima está a ser atacada pela captura ilegal, pela destruição do habitat. Para sobreviver, os animais fogem à procura doutra casa: mas só hão de poder andar até ao limite que houver no mundo.
O homem mexe com o mundo. O que faz tem impacto em todos os ecossistemas e isso nota-se nestas coisas, nestes animais que procuram sobreviver quietos.
Agora, o estrago do homem vê-se até na terra do homem. As alterações climáticas já se sentem em centenas de cidades do mundo. No nosso país, Lisboa, Porto, Braga, Cascais e Guimarães são alguns dos exemplo de lugares onde isto que vai mudando o planeta já se faz sentir.
Um relatório hoje conhecido mostra que de 620 cidades de todo o mundo, 530 — onde vive um total de 517 milhões de pessoas —, diz estar a ter problemas que estão de algum modo relacionados com as alterações climáticas.
O principal risco são as inundações. Depois, o calor extremo e as secas. Em Portugal temos tudo isto: ainda este sábado, no Norte, a água andou a alagar ruas, garagens e centros comerciais.
Mas temos também o calor e os incêndios; e, claro, a seca, que deixa o Tejo um fino fio de lágrimas lá para a fronteira.
Os dados deste relatório revelam, porém, que apenas 54% das cidades estudadas estão a avaliar as vulnerabilidade e a calcular a capacidade de resposta e adaptação aos riscos.
Urge fazer alguma coisa: a ciência mostra que até 2050 oito vezes mais moradores das cidades estarão expostos a altas temperaturas e mais 800 milhões de pessoas podem estar em risco devido à subida das marés e a tempestades, refere-se no documento, elaborado pela organização não governamental Carbon Disclosure Project, com sede no Reino Unido.
Se a solução não é andar, como as baleias, à procura de outros mundos, é só porque já estamos no fim do mundo onde os poderíamos encontrar. Poderá ser que existam lá longe, noutras galáxias ou universos, em existindo. Mas porque não procurar aqui as respostas para que este mundo não se torne no fim do mundo?
Eu sou o Pedro Soares Botelho e hoje o mundo andou assim.
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