O "Relógio do Apocalipse" do Boletim de Cientistas Atómicos foi no fim de janeiro avançado 30 segundos, marcando agora 2,5 minutos para a meia-noite, hora simbólica que assinala a proximidade de uma catástrofe global.
Há mais de 60 anos que o relógio não estava tão próximo da hora final, quando foi adiantado para os dois minutos para a meia-noite em 1953, o ano em que explodiram as primeiras bombas de hidrogénio, a cujo potencial destruidor se opunha Robert Oppenheimer, que supervisionou a criação da primeira bomba atómica.
Os cientistas que determinam anualmente a posição do relógio levam em conta o risco de uma guerra nuclear, o panorama político e as alterações climáticas.
Na sua fundamentação para este ano, apontam o azedar das relações russo-americanas relativamente ao reforço das forças da NATO nas fronteiras do leste da Europa e às posições sobre conflitos como a guerra civil na Síria.
Assinalam que tanto americanos como russos continuam a investir e a modernizar os seus arsenais nucleares e lembram ainda os testes nucleares na Coreia do Norte e as tensões constantes nas fronteiras entre a Índia e o Paquistão.
Durante as décadas que se seguiram, ambas as superpotências seguiram a doutrina estratégica da destruição mútua garantida, acumulando tantas armas nucleares que qualquer ataque por parte de um dos blocos seria suicida.
Essa estratégia de dissuasão fez com que, por altura do fim da União Soviética e da Guerra Fria, na última metade da década de 1980, existissem cerca de 60 mil ogivas nucleares ativas no mundo.
Hoje, segundo o Boletim, o número situa-se nas 10 mil, repartidas pelos Estados Unidos, Rússia, e em muito menor escala, Reino Unido, França, China, Israel (nunca reconhecido oficialmente), Índia, Paquistão e Coreia do Norte.
"Em 2017, achamos que o perigo é ainda maior e a necessidade de agir é mais urgente. Os responsáveis públicos sensatos devem agir imediatamente, afastando a humanidade do precipício. Se não o fizerem, os cidadãos sensatos devem avançar", declararam os cientistas atómicos.
No próximo mês de março, as Nações Unidas querem lançar negociações para um novo tratado de redução das armas nucleares, como não acontece há cerca de 20 anos.
Os países com capacidade nuclear, bem como os aliados da NATO que têm no seu território ogivas dos Estados Unidos, votaram contra a resolução nesse sentido, adotada em outubro de 2016.
A última vez que as nações tomaram passos para evitar a proliferação nuclear foi com o acordo para o fim de testes nucleares adotado em 1996.
Julius Robert Oppenheimer, que morreu em 18 de fevereiro de 1967, orientou a construção do laboratório de Los Alamos, no Novo México, no qual decorreram as pesquisas para a construção da primeira bomba atómica, testada com sucesso a 16 de julho de 1944.
Os Estados Unidos lançaram duas bombas atómicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando mais de 130 mil pessoas e precipitando o fim da Segunda Guerra Mundial.
Depois da guerra, Oppenheimer tornou-se uma das faces mais reconhecíveis da ciência mundial, procurando influenciar o rumo da política norte-americana para longe da corrida ao armamento.
Cinquenta anos depois da sua morte, aos 62 anos, ressoam as palavras das escrituras Hindu que usou para descrever o que sentiram os cientistas que criaram a primeira arma atómica: "Agora tornei-me Morte, destruidor de mundos".
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