Após a vitória do "Sim" à legislação sobre o aborto em maio e ao casamento gay em 2015, este referendo volta a mostrar o quanto o país tem se distanciado da sua histórica tradição católica, embora este crime, considerado obsoleto, nunca tenha sido aplicado na história recente.
No sábado à noite, poucas pessoas compareceram ao anúncio dos resultados do referendo sobre a blasfémia, em que a participação foi de 44%. Uma grande diferença em relação às comemorações pela vitória do "Sim" após o plebiscito sobre o aborto, no qual houve uma participação de 64%.
"Sempre achei que não havia lugar para tal dispositivo na nossa Constituição", declarou o ministro da Justiça, Charlie Flanagan. "A Irlanda está orgulhosa da sua reputação enquanto sociedade moderna e liberal".
A blasfémia foi inserida na lei irlandesa como qualquer declaração ou ação "abusiva ou insultuosa em relação aos elementos sagrados de uma religião" podendo causar "a indignação dos fiéis".
A Constituição da Irlanda desde 1937 que assegura a liberdade de expressão, mas um dos seus artigos considera que a divulgação de blasfémias, tal como de matérias “indecentes e sediciosas”, são uma “ofensa punível por lei”.
O artigo 40.6.1 da Constituição estipulava a sua proibição e uma multa até 25.000 euros. As últimas ações judiciais por blasfémia remontam a 1855, antes da independência do país, contra um padre que afirmava ter acidentalmente queimado uma Bíblia.
Pela lei de Difamação, de 2009, o crime de blasfémia abrangia ataques contra matérias consideradas sagradas, aplicadas em todas as fés e religiões. Tendo o povo irlandês decidido retirar esta referência da Constituição, será agora preciso que a lei da difamação seja alterada, para que a blasfémia não seja um crime.
A blasfémia voltou a ser notícia em 2015 quando o ator e diretor britânico Stephen Fry chamou Deus de "estúpido" por ter criado um mundo cheio de "injustiça" na televisão irlandesa. Uma investigação foi aberta, mas não resultou em nenhuma ação legal.
O referendo sobre a blasfémia foi realizado no mesmo dia da eleição do novo presidente irlandês, cujo mandato de sete anos é essencialmente simbólico. O atual presidente Michael D. Higgins, de 77 anos, no cargo desde 2011, foi reeleito com 56% dos votos, segundo os resultados finais.
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