O grupo político e militar, criado, armado e financiado pelo Irão, travou um conflito mortal com Israel em 2006, que traumatizou a sociedade libanesa e serviu para consolidar o poder da formação.

Após o ataque do movimento islamista Hamas no sul de Israel a 7 de outubro, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, o Hezbollah reativou a frente norte de Israel em "apoio" ao seu aliado palestiniano.

Os confrontos na fronteira transformaram-se num conflito quase generalizado no início desta semana, com Israel a efetuar uma campanha de bombardeamentos em larga escala contra os redutos do Hezbollah no sul e no leste do Líbano, assim como na periferia sul de Beirute.

Há meses, Israel tem enfraquecido consideravelmente o movimento, eliminando um a um os seus principais comandantes, incluindo o seu chefe militar, Fuad Shukr, que morreu em julho num bombardeamento num subúrbio ao sul de Beirute.

A morte de Hassan Nasrallah é um golpe para o movimento.

Guerra de 33 dias

O "Partido de Deus" foi criado em 1982, após a invasão israelita do Líbano, por iniciativa da Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica do Irão.

O movimento virou a ponta de lança da luta contra Israel, que se retirou progressivamente do Líbano até que, em 2000, deixou o sul do Líbano após 22 anos de ocupação.

Desde então, o grupo libanês e Israel entraram em conflito em alguns momentos, até uma guerra em 2006, após o sequestro de dois soldados israelenses na fronteira entre os dois países.

Israel iniciou então uma grande ofensiva. A guerra de 33 dias matou 1.200 libaneses, a maioria civis, e 160 israelitas, a maioria militares.

A Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que acabou com a guerra, estipula que somente o Exército libanês e as forças de paz da ONU devem ser mobilizadas no sul do Líbano.

Mas o Hezbollah manteve a sua presença na região, onde, de acordo com analistas, cavou uma rede de túneis.

O grupo reforçou o seu arsenal, que inclui mísseis guiados, e afirma ter mais de 100.000 combatentes.

As principais instituições do movimento ficam no subúrbio sul de Beirute desde que Israel matou o antecessor de Nasrallah, Abbas Masawi, em 1992.

Expansão regional

O Hezbollah é o mais influente dos grupos que integram o "eixo de resistência", promovido pelo Irão contra Israel, que reúne o Hamas palestiniano, os rebeldes huthis do Iêmen e grupos iraquianos.

O partido também forneceu apoio militar ao regime de Bashar al-Assad na Síria, onde uma revolta popular em 2011 se tornou numa insurreição armada.

Mas desde que as linhas da frente foram congeladas, a formação reduziu o seu contingente no país.

Importante no Líbano

No final da guerra civil libanesa (1975-1990), o Hezbollah foi a única fação que conservou as suas armas em nome da "resistência" contra Israel.

O grupo estabeleceu-se como uma força política inevitável e os seus críticos acusam-no de constituir um "Estado dentro de um Estado". Nasrallah era considerado o homem mais poderoso do país.

O movimento integra o governo e o Parlamento, onde nem o seu lado nem o dos seus oponentes têm maioria absoluta, o que significa que nos últimos dois anos o país não conseguiu definir um presidente da república.

A sua popularidade e influência crescente na comunidade xiita são sustentadas por uma ampla rede de escolas, hospitais e associações que atendem os seus simpatizantes.

Em 1997, o governo dos Estados Unidos incluiu o Hezbollah na sua lista de organizações “terroristas” e submeteu o grupo a sanções económicas e bancárias.

Washington acusa-o por dois bombardeamentos simultâneos em 23 de outubro de 1983 em Beirute, que mataram 241 fuzileiros navais americanos e 58 paraquedistas franceses. Também o acusa de ter feito reféns ocidentais durante a guerra no Líbano.

Desde 2013, a UE também considera o braço armado do movimento uma organização "terrorista".

O partido foi acusado de envolvimento no assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, pelo qual dois dos seus membros foram condenados à revelia à prisão perpétua em 2022.