Hoje, o dia foi de contas. O ministro das Finanças apresentou o orçamento do Estado para 2020 e as horas deste 17 de dezembro foram passadas a olhar para os papéis e a escutar as reações de partidos, associações e sindicatos.
Também o ano está a fechar — boa altura, portanto, para fazer contas, balanços. Seja no Parlamento, ou fora dele. É o que se passa em Serralves, no Porto. O ano fecha com a exposição “Estás Aqui: Vinte Anos de Artes Performativas em Serralves”, assinalando, deste modo, o 30.º aniversário da fundação e o 20.º do Museu de Arte Contemporânea.
Estar aqui. Agora. Nesta mostra da instituição portuense, surge um palco com auscultadores para se ouvirem testemunhos reais das memórias dos espetáculos que os artistas, programadores e visitantes retiveram nos últimos vinte anos a visitar o Museu de Serralves.
Este é mesmo um dos destaques dos três curadores da exposição, Cristina Grande, Pedro Rocha e Ricardo Nicolau, conta-nos esta terça-feira a agência Lusa, que foi à apresentação da mostra. A exposição apresenta também uma espécie de livro que só vai existir nas paredes do Museu de Arte Contemporânea até 22 de março de 2020 e que nunca vai ser publicado.
É a efemeridade da obra. Se os museus são espaços de memória, arquivos da cultura e das artes dos homens, eis que um museu se propõe a criar algo de tempo limitado — uma coisa que se esgota, finda.
Não é inédito. Vários foram os artistas que procuraram os “happennings”, ou acontecimentos. Performances artísticas que tinham uma ocorrência única, sem grandes fins de perpetuação.
Porém, é sempre estranho imaginar a arte como coisa efémera. Arte como algo que não dura. Porque a discussão sobre a arte e o artístico vai normalmente parar à eternidade — da obra e do autor. Porque é através das obras que os artistas sobrevivem à morte.
Hoje, morreu Fernando Lemos. Ele que afirmava assim: ”Eu não sou fotógrafo. Eu sou fotografia. Eu sou um desenhista que escreve. Escrevo como quem pinta. Pinto como quem faz desenho. Desenho como... Quer dizer: Eu sou a fotografia e a fotografia é que é a marca”.
Ele não é artista: é arte. E o tempo vai bem, no presente. Porque se os artistas — que são homens — morrem, a arte, mesmo se propositadamente efémera, dura. Dura nas memórias dos que a experienciam; nos discursos que sobre elas se escrevem (como este).
Esse homem fotografia, Fernando Lemos, radicado no Brasil desde 1953, pegou numa Flexaret checoslovaca e eternizou o orgânico: Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Adolfo Casaes Monteiro, Arpad Szenes, Maria Helena Vieira da Silva e Mário Cesariny, Alexandre O'Neill, entre outros.
Estar ou não aqui, é, assim, irrelevante.
Isto se soubermos onde é esse "aqui". Saiamos daqui, então. Vamos para sul, onde a partir de amanhã se começa a "Trans(forma)r", na biblioteca de Odemira. Promovida pela Associação Cultivamos Cultura, a exposição reúne obras de arte contemporânea e novos media criadas nas residências artísticas que decorreram durante a primavera e o verão na sede da associação, em S. Luís, no concelho de Odemira.
No centro, em Lisboa, no Teatro Thalia, chegam os "Retratos de nós": é uma mostra de pintura, da autoria de Sofia Salazar Leite, que reúne vinte quadros de médios e grandes formatos, em acrílico s/tela, pintados entre 2017 e 2019.
Eu sou o Pedro Soares Botelho e hoje o dia foi assim.
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